*Terça-feira foi difícil no Hospital São Francisco de Assis de Três Pontas

A notícia de que os médicos plantonistas da clínica médica estão pedindo demissão por causa da falta de pagamento não pegou a equipe de surpresa. Era um problema anunciado diante da incerteza que se arrasta a quase cinco meses. Período em que os mais de 50 profissionais estão sem receber e a falta de perspectiva de pagamento. Assim, a manutenção dos plantões se tornou inviável e desumano aqueles que restaram.

Por intermédio da direção clínica e técnica da Santa Casa, um ofício foi encaminhado às autoridades informando sobre a decisão que demonstrou o ápice da crise financeira da Santa Casa. Os diretores clínico e técnico, Dr. Eduardo de Vasconcelos Camargo e Dr. Marcus Vinicius Moreira informaram que “a partir desta terça-feira não ocorrerão novas internações para o plantão da clínica médica. Os pacientes que procurarem o Pronto Atendimento Municipal que necessitarem de internação, o médico responsável pelo atendimento que terá que encaminhar a um médico que assista o paciente sob sua responsabilidade e acompanhar durante sua internação até a alta”.

Michel Renan disse que precisa do apoio de todos em apoio à Santa Casa, mas abre caminho para quem quiser assumir a direção

Outros especialistas das áreas de ginecologia, obstetrícia, pediatria, ortopedia ainda não pararam, mas a situação deles também está ficando complicada, ainda mais daqueles que não são da cidade ou não residem no Município e tem despesas a mais com translado, entre outras. Todos entendem que a culpa não deve ser da nova direção, mas é que a situação se arrasta a anos, a muito tempo os servidores tem compreendido a crise, mas que se tornou insustentável.

A principal causa é a falta de repasses do Governo do Estado de Minas Gerais que soma mais de R$1,5 milhão. Sem previsão de quando a liberação destes recursos irá acontecer, o provedor Michel Renan Simão Castro lamentou o ocorrido. Afirmou que desde março, quando assumiu a direção, os salários dos médicos estão sendo pagos, mesmo que as contas estejam fechando no vermelho com um déficit mensal que fica em cerca de R$500 mil. Desde a semana passada, a nova diretoria está abrindo o caixa e demonstrando que a situação financeira é ainda pior da que foi apresentada anteriormente. Não são R$14 milhões e sim R$19 milhões, mas ainda podem aparecer outros débitos que estão em aberto.

Estes números foram apresentados oficialmente na tarde desta terça-feira (06), à Irmandade responsável pela Santa Casa, que é formada por 200 irmãos. Nem todos compareceram, mas a participação de populares e convidados e principalmente de médicos foi satisfatória. Michel não escondeu que a situação é trágica e só é reversível se abraçada por todos, sem exceção, porque o provedor acredita que é solucionável. Ainda mais agora que a comunidade está tomando pé da situação e a transparência é palavra de ordem do mandato desta diretoria. O faturamento mensal fica em torno de R$1,2 milhão, mas a capacidade é de R$2 milhões. Medidas como anunciadas na semana passada, às autoridades das cidades que fazem parte da microrregião, são opções para alavancar o faturamento. Em todos os setores há propostas de mudanças, porém, o problema é o mesmo, a falta de dinheiro. O que pouco foi dito ao longo dos anos, segundo Michel, é a defasagem na tabela de pagamento do Sistema Único de Saúde (SUS). O que é repassado pelos serviços e procedimentos não cobre as despesas. A situação piora ainda mais quando se mostra a lista de municípios que enviam pacientes para Três Pontas: 27 no total. Ai é que a conta não fecha.

Alguns fornecedores do Hospital São Francisco não recebem há anos. Uma delas é a empresa que fornece o gás medicinal que anunciou que interromperia o fornecimento nesta terça-feira (06), porque há 8 anos não é paga. A solução foi encontrar outra empresa disposta a entregar o produto. Só nela a dívida chega a R$700 mil. Sem falar nos R$2,4 milhões na Cemig.

Michel respondeu as perguntas e não escondeu que o maior problema hoje é o atraso nos salários dos médicos, apesar dos funcionários também estarem sem receber o 13º salário de 2016. Ele agradeceu imensamente o apoio do Ministério Público (MP), que tem feito o seu papel de fiscalizar, mas vem auxiliando de forma direta para que a Santa Casa não feche.

Algumas pessoas ventilaram a possibilidade de uma paralisação, feita de forma organizada e serena com o objetivo de chamar a atenção para a gravidade do problema e convocar a população a ajudar, seja adquirindo o Cartão Saúde, contribuindo nas contas de água do SAAE ou de tantas outras formas.

Alguns vereadores participaram de boa parte da reunião. Maycon Machado, Sérgio Silva, José Geraldo Prado e Marlene Oliveira ouviram novamente os números. Quando o espaço foi aberto a perguntas, Sérgio quis saber da devolução que a Câmara fez no valor de R$100 mil no mês de abril para ajudar o Hospital. Na época, Michel estava inclusive com a cópia do cheque assinado pelo presidente da Câmara Luis Carlos da Silva (PPS), mas até hoje o dinheiro não chegou.

 

Sobre uma dívida antiga que a Prefeitura tem com o Hospital na realização de exames de Raio X, o provedor revelou que o caso está na Justiça e em uma audiência para negociar o débito que soma R$900 mil, nenhum representante do Município compareceu. Havia sido proposto o pagamento parcelado, com R$200 mil de entrada e o restante dividido em 20 ou 30 parcelas fixas, mas nada disso aconteceu até hoje.

O vice prefeito Marcelo Chaves Garcia (PMDB) que assistia a reunião disse que tinha ido apenas para ouvir, mas diante das alegações, usou o microfone para informar que a atual Administração não tem débitos com a Santa Casa e que as subvenções e recursos da gestão compartilhada estão sendo repassadas rigorosamente em dia.

Michel encerrou deixando bem claro que a nova diretoria tem o objetivo apenas de ajudar, mas pela primeira vez, disse que abre mão para aqueles que acham que podem resolver o problema.