Filha com diabetes recebeu um rim da mãe. No transplante uma complicação fez com que a genitora retirasse a costela

Um caso que completa na próxima segunda-feira (09), um dia depois do Dia das Mães, dois anos e cinco meses que até agora estava no anonimato, mas por ser uma linda história de amor entre mãe e filha vai ganhar a admiração, nada que surpreenda aquelas que são mães de verdade.

A história é da artesã Afonsiane Aparecida da Silva de 32 anos e da sua mãe, a comerciante Glória Aparecida da Silva de 52. Elas protagonizam uma história real e Glória demonstra que amor de mãe não tem limites, que é capaz de tudo por causa de um filho, ainda mais quando se trata de salvar a vida que ela própria gerou.

Com apenas 12 anos de idade, Afonsiane descobriu que tinha diabetes. Desde criança sempre exagerou nos doces e no consumo de sal. Mesmo sabendo que estava com a doença crônica, não se preocupou e muito menos buscou fazer a dieta indicada. Deste então passou a ser acompanhada por uma endocrinologista que trata dos diabetes, que insistia que a jovem precisava buscar tratamento de um nefrologista e que o caso era grave. Afonsiane começou a não se sentir bem, quando a creatinina atacou seus dois rins, passou a ter insuficiência renal e retenção de líquidos.

Começou de fato um tratamento com um especialista da área em 2009, quando conheceu Dr. Pablo Girardelli. O médico trespontano convenceu a paciente de que seu caso era grave e que precisaria de medicamentos para manter seus órgãos funcionando. A constatação veio em uma consulta quando ele pediu que ela reunisse toda a família porque a solução seria somente um transplante. A família se mobilizou e muitos se colocaram a disposição, mas foram aos poucos sendo descartados. A prima por ter ficado grávida e sua avó, por causa da idade. Mas, a providência divina tratou de agir e a doadora estava muito perto. A compatibilidade que ela precisava estava com sua mãe Dona Glória. Afonsiane já estava com quase 30 anos de idade e este não foi o fim, mas o começo de uma luta, uma caminhada marcada por jornadas intermináveis de exames e avaliações que demoraram dois anos.

Durante este tempo, o estado de saúde dela foi aos poucos se agravando. A anemia aumentou e teve baixa imunidade. Foi em Pouso Alegre que ela foi atendida depois que Dr. Pablo passou a atender no Hospital Samuel Libânio. Nas primeiras consultas foi determinada a colocar duas fístulas nos braços. A segunda delas foi aceita e não precisaria colocar o cateter. Como a mãe continuava a fazer uma bateria de exames e estava disposta a doar, naquele momento não precisaria fazer hemodiálise.

A esta altura, os rins de Afonsiane estavam funcionando apenas 22% e caíram ainda mais, para 16%. Não tinha jeito, a paciente precisaria fazer hemodiálise, um tratamento complexo e doloroso. Ela admitiu ao médico que não estava bem, mas se recusou, pois achou que como já tinha a pessoa para doar os rins, o procedimento seria protelado.

No mesmo dia, uma sexta-feira, Dr. Pablo ligou no setor de nefrologista do Hospital e encaminhou sua mãe Dona Glória, para os últimos e determinantes exames. Ela lembra que só neste dia foram 30 exames e precisou ser internada. Já passou por um primeiro procedimento de avaliação cirúrgica final. Era preciso conhecer quais dos rins seria transplantado, qual a posição ele estava, entre outras necessidades, por isto ela teve que permanecer amarrada na cama, sem poder se movimentar.

Na segunda-feira Afonsiane que havia voltado para Três Pontas ligou em Pouso Alegre para saber notícias da mãe e a resposta foi positiva. Foi somente neste momento que ela pode constatar que a Dona Glória aos 50 anos estava com a saúde perfeita, poderia viver com apenas um de seus rins e que não haveria riscos. E mais, provavelmente elas seriam chamadas ainda naquela semana.

Na quinta-feira, no fim da tarde, o telefone tocou e era do Hospital fazendo a convocação esperada com ansiedade. Elas teriam que dar entrada no Samuel Libânio no dia seguinte, as 7h, onde ainda fariam exames pré operatórios. Nervosas ao extremo, elas permaneceram internadas e no domingo a hemodiálise foi inevitável. O processo demorou três horas e neste período Afonsiane precisou usar a fístula que havia colocado.

Juntas, Afonsiane e Glória comemoram juntas o Dia das Mães
Juntas, Afonsiane e Glória comemoram juntas o Dia das Mães

O grande dia mesmo, foi na segunda-feira, 09 de dezembro. Elas lembram que ainda era madrugada quando foram acordadas para iniciar os preparativos. As 7h entraram na sala de cirurgia, uma do lado da outra. Mãe e filha choravam muito e de mãos dadas se despediram. “A pior hora foi esta. Foi muito duro para nós duas. Pedíamos a Padre Victor que intercedesse por nós”, afirmou a filha. Do lado de fora, a família fazia as preces e aguardava por boas notícias.

As cirurgias foram feitas simultaneamente, mas em Dona Glória algo inesperado aconteceu,

Foto tirada ainda no Hospital Samuel Libânio mostra as duas encontrando pela primeira vez após o transplante
Foto tirada ainda no Hospital Samuel Libânio, mostra as duas se encontrando pela primeira vez após o transplante

uma complicação, que fez reunir uma equipe ainda maior de profissionais. Uma das veias do rim a ser retirado, estava posicionada perto da costela e foi preciso retirar a costela para concluir o procedimento e salvar a vida da comerciante, mas a cirurgia foi bem sucedida.

Afonsiane acordou as 17 horas no Centro de Tratamento e Terapia Intensiva (CTI). Sentia muitas dores, normais de um procedimento como este. Glória despertou pouco depois, soube que a filha estava bem e as primeiras palavras que havia dito eram para saber sobre ela.

A receptora ficou 36 horas no CTI, já a transplantada permaneceu 24 horas em observação médica. Foram mais 12 dias de internação para Afonsiane, mas sua mãe foi para casa mais cedo, 8 dias depois. Neste período, com o uso de sondas, elas foram avaliadas para ver se haveria algum tipo de rejeição.

Um DNA realizado ano passado, em 2015, constatou que a compatibilidade foi de 80%, uma rejeição muito pequena. “Existe irmão que doa para a irmã por exemplo que dá 60%, 70%, já que nunca se chega a 100%”, informou a paciente. Até hoje ela toma imunossupressores, medicamentos que ajudam na aceitação do corpo com o seu órgão, eles provocam alguns inchaços, mas sua vida é normal, há apenas restrições de alguns alimentos e ao contrário de quando estava doente, Afonsiane precisa beber muita água.

Depois de ter passado por tudo isto, a admiração e o amor por sua mãe, aumentou ainda mais, com a chance que ela teve de nascer de novo. “Minha mãe me deu a vida duas vezes”. Por isto, são dois aniversários comemorados, coincidentemente, todos no dia 09. O primeiro é no mês de agosto, quando nasceu e depois quando recebeu da mãe um rim, em dezembro. Nesta segunda-feira, dia seguinte ao Dia das Mães, se completa dois anos e cinco meses. Desde então, o dia dedicado às matriarcas é comemorado entre elas com muita emoção e lembranças que serão eternas.

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As duas não se desgrudam e vivem uma vida normal após o transplante

A duas vezes mãe, Dona Glória Aparecida, não esconde que teve medo de morrer, mas ao ver o sofrimento que a filha estava passando, o receio se transformava em coragem, algo que ela não sabe explicar.

Durante os exames tudo parecia uma maravilha, conta Glória sorrindo meio as lágrimas. Chegou a ouvir de algumas pessoas que ela não deveria fazer aquilo que seria arriscado e que sua vida estaria em risco. “E eu achei que seria fácil, mas quando foi se aproximando o dia comecei a despedir de todo mundo”, revelou a comerciante.

Nos últimos dias antes de ser internada, ela pediu aos seus familiares que se algo de ruim acontecesse eram para eles cuidarem dos seus outros dois filhos, que não podiam ficar desamparados. Quando acordou no Hospital depois do transplante e soube que a filha estava ótima, expressou que faria tudo de novo, quantas vezes fosse preciso. “A gente que é mãe tem este instinto que é só nosso. Hoje ao ver minha filha toda linda e com saúde, sei que fomos abençoadas”, avalia Dona Glória, que vive uma vida normal vendo a felicidade de Afonsiane.

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