Um casal de paulistanos deixou a correria do dia a dia em São Paulo, para viver uma vida simples do interior, no povoado Mata da Voadeira, na zona rural de Aguanil, a seis quilômetros do Distrito do Buticão e a 72 de Três Pontas.

José Manoel Higino de Souza e Cleide Souza (foto) realizaram um sonho. Ele trabalhava como taxista e a esposa dele se dedicou durante 30 anos a um escritório de advocacia. Não foi fácil tomar a decisão de largar tudo, inclusive orientar a filha com 22 anos que cursava faculdade de Direito para se mudar para o Sul de Minas.

A chama foi acessa quando eles fizeram um curso de cabala, ministrado nesta mesma região onde eles moram hoje. Eles se apaixonaram pelo lugar, mas não sabiam o que montar, talvez uma comunidade de cura já que tinham um grupo grande de amigos em São Paulo de terapeutas envolvidos nesta área. Mas tinham uma certeza: sentiram algo diferente e entraram de cabeça. Fizeram depois cursos de massoterapia, terapia holística e se dedicaram a um grupo de dependentes de álcool e drogas, a maioria dos assistidos vindos da Cracolândia (SP).

Se ofereceram para serem voluntários do Graac (Grupo de Apoio ao Adolescente à Criança com Câncer) e depois começaram a fazer um trabalho espiritual em alguns lugares, inclusive na própria casa deles, em São Paulo.

Entre 2007 e 2008 esta ideia começou a ganhar forma. Cleide compartilhou com a família que tinha no trabalho, que assim que conseguissem construir iriam embora. Ela foi surpreendida com uma resposta: eles iriam ajudá-la. A partir daí tudo foi dando certo e se encaixando.

Em fevereiro de 2013, chegou a hora de arrumar as malas, deixar uma vida estabilizada e se mudar para Aguanil. “Cheguei no meu serviço e disse que viria”, contou Cleide, que trouxe a mãe que viveu com ela até falecer ano passado.

Boa parte da sede foi construída graças ao apoio dos paulistas, doações e fruto do trabalho e economia deles mesmo. Primeiro foi o salão onde hoje são feitos os atendimentos, depois é que construíram a casa onde eles moram bem ao lado.

O Lar Maindra não tem nenhuma outra comunidade, apesar de ter médiuns que trabalham em outras casas, mas o movimento é tão grande que não precisou de divulgação.

Começou primeiro recebendo os moradores mais próximos: Aguanil, Cristais, Boa Esperança, Três Pontas, Carmo do Rio Claro, Candeias, Lavras e Poços de Caldas. Mas tem muita gente indo do interior de São Paulo, como Ribeirão Preto, Campinas e de longe Belo Horizonte, Bahia, Ceará, Rio de Janeiro, Brasília, entre outras capitais, mas também estrangeiros como da Argentina, Portugal e Denver nos Estados Unidos. Já se passaram por lá mais de 7 mil pessoas.

Eles chegam de carro, ônibus de excursão, em vans e táxis e são sempre recebidos com um sorriso no rosto e uma disposição enorme em confortar, ajudar e as vezes apenas uma orientação, uma palavra amiga e a hospitalidade de um local que transmite energias incríveis.

Todo trabalho é voluntário, não há nenhum tipo de cobrança ou parceria com o comércio ou empresas. Os trabalhadores deixam de aproveitar o sábado, gastam dinheiro dos seus próprios bolsos para estar presente no Lar e praticar o bem. Como a comunidade sobrevive do trabalho do próprio casal que durante a semana não falta da lida na roça.

Os próprios trabalhadores fazem uma vaquinha para custear a limpeza e sobra a eles apenas a energia elétrica.

Nas outras despesas todo mundo ajuda um pouco. “São providências divinas, que nem mesmo a gente entende”.

Para fazer as despesas de casa, é preciso contar com a aposentadoria. O orçamento sempre está apertado, mas vivem uma vida que nunca imaginaram que seria tão boa. Com a filha formada, casada, morando em Londres, a mudança dos pais serviu para dar um empurrão na menina.

O Lar Mainhdra é uma comunidade de cura, cujos membros acreditam e respeitam tudo e todas as religiões, católicos, evangélicos, umbanda e kardecismo, entre outras.

Eles acreditam que a visão espiritual é um complexo de tudo. Manoel elogia os evangélicos que formam grupos de estudo, mas também os católicos e a renovação carismática através dos padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo, que promovem a união das pessoas. “Nós somos a junção disso tudo, um hospital de cura espiritual, trabalhos independentes até de umbanda que é diferenciado”, reforçou.

As cirurgias espirituais são feitas desde setembro de 2014, sem cortes, para qualquer tipo de problema, desde uma dor na ponta do dedo até um câncer. Quando começaram receberam a ajuda espiritual dos médiuns como Doutor Hans, Guilherme e José Miguel. Estes continuam até hoje, mas outros médicos do plano espiritual também participam. Os voluntários que fazem as cirurgias, são chamados de trabalhadores, que totalizam hoje 34, que usam macas, pedras, florais, clomaterapia, quase sempre esparadrapo e fazem massagens.

Cleide explica antes de começar os atendimentos, que é preciso fazer uma ficha e não há prioridades para crianças e idosos, que são a maioria, apenas para pessoas com doenças graves. Não se pode escolher o trabalhador, há não ser que seja retorno.

Manoel explica que o paciente informa o que se está buscando, mas na maioria das vezes a própria entidade já sabe o que precisa ser tratado, mas é sempre respeitado o desejo das pessoas. “Acontece muito das pessoas ter um determinado problema, mas não é aquilo que ela quer tratar e as vezes o que está precisando é tratar a cabeça”.

Os trabalhadores são apenas instrumentos, tanto é que antes de serem atendidos, eles fazem questão de deixar bem claro que não se indica remédios e nem que se interrompa nenhum tratamento. Lá o tratamento é espiritual, independente da religião. Medicamentos e exames são indicações médicas e precisam ser respeitadas. Muita gente já sai curado na primeira vez, outros não.

“As pessoas precisam primeiro aceitar a sua condição e as vezes o que eles mais precisam é ter um equilíbrio emocional e enxergar que a doença as vezes chegou para corrigi-lo e ela não é injusta como pensam”, alertou.

Firme em seu posicionamento, Manoel acrescenta que as pessoas tem um alto grau de arrogância que nem a doença a faz se curvar.  Os médicos do plano espiritual, fazem aquilo que podem, sem interferir na vontade, nos planos de Deus e na justiça divina. A chave para a cura está dentro de cada um.

Os dias de funcionamento são as quartas a partir das 13:00 horas e aos sábados as 10 horas. Para garantir o atendimento, é preciso chegar até meio dia e a ficha é feita apenas na primeira vez e funciona até as 17:00 horas.