A direção da Santa Casa de Misericórdia do Hospital São Francisco de Assis, fez mais uma prestação de contas. O próprio provedor Michel Renan Simão Castro presidiu a assembleia nas dependências da instituição, na noite desta terça-feira (30), fez uma explanação ampla da situação que a direção pegou em março de 2017 e como andam as coisas atualmente. As principais ações que são hastes de sustentabilidade para o projeto desta gestão da Santa Casa, na busca da humanização, reengenharia administrativa e excelência no atendimento à população de Três Pontas e região, com profissionalismo e economicamente viável.

Para demonstrar o ponto que as coisas chegaram, Michel comentou os principais agravantes encontrados no início do trabalho, ações realizadas por esta gestão, bem como plano de metas para os próximos anos. Os convidados ficaram atentados a apresentação feita através de slides. Membros da irmandade que administra a Santa Casa, direção, médicos, colaboradores, vereadores e alguns populares acompanharam a a divulgação dos dados. Mesmo ausente, o provedor fez questão de destacar o trabalho desenvolvido pelo seu vice provedor Wilson Ferreira Júnior, seu pilar de apoio nas decisões tomadas, com a colaboração de toda a diretoria, que está respaldada pela dedicação, competência e vontade de acertar.  Ele agradeceu o envolvimento de toda equipe nas comemorações de 79 anos da Santa Casa e deixa claro que tudo que foi gasto, é fruto de doação, inclusive o bolo servido aos convidados.

SITUAÇÃO ENCONTRADA

A situação financeira está longe de ser resolvida, mesmo após 10 meses de uma dedicação extrema. Porém, quando Michel assumiu a Santa Casa havia um descrédito com fornecedores, parceiros, corpo clínico e funcionários e a eminência de ser fechada. As causas que comprometeram o funcionamento são diversas e vinham acontecendo ao longo de muitos anos. Repasses e plantões médicos em atraso, inclusive apropriação de repasses de produção médica do SUS e convênios, totalizando 5 meses. A Farmácia estava totalmente desabastecida de materiais e medicamentos, provocada por um endividamento com fornecedores. Somente com a empresa fornecedora dos gases medicinais somavam aproximadamente R$800 mil. O quadro de profissionais estava hiper dimensionado em alguns setores e ações trabalhistas somavam 43 entre 2015 e 2016. Impostos e tributos não estavam sendo pagos. Sem a Certidão Negativa de Débito (CND), o Hospital ficou durante muito tempo impedido de firmar convênios públicos e receber emendas parlamentares. Faltava comunicação entre os diversos setores, divergência de informações de relatórios, o sistema de informática estava subutilizado e operadores não tinham capacitação para operá-lo. Faltava materiais de escritórios para serviços básicos e padronização de medicamentos na farmácia, gerando compras aleatórias e sem critérios. Durante muito tempo, o Hospital correu o risco de ter interrompido o fornecimento de energia elétrica e telefonia, por falta de pagamento das contas.

SITUAÇÃO ATUAL

Uma das ações desagradáveis tomadas, porém, necessárias foram o redimensionamento do quadro de funcionários da enfermagem e as demissões. Os cortes provocaram uma economia mensal de R$120 mil na folha de pagamento. A farmácia e almoxarifado foram regularizado para evitar a falta de medicamentos; um novo fornecedor passou a abastecer a Santa Casa; os impostos em atraso e a manutenção dos valores mensais com a manutenção da CND provocou uma redução de R$2,5 milhões nos tributos que a entidade teria que pagar. As contas com a Cemig foram renegociadas e dívida foi reduzida em aproximadamente R$1,4 milhão. Trabalhando em duas frentes: organizando a casa e buscando por faturamento foi implantado o projeto de humanização hospitalar. Uma nova Pediatria está sendo construída com recursos doados; a Ala 1 com recursos de doações está sendo erguida; a recepção vai oferecer mais conforto e comodidade aos visitantes e paciente; os jardins ganharam novo paisagismo; foi inaugurada a Biblioteca. Foi implantada uma lanchonete interna para atender funcionários e visitantes e o estacionamento passou a ser rotativo com cobrança na entrada. Apesar da resistência neste início, Michel diz que o dinheiro arrecadado com a cobrança é fundamental para evitar mais demissões de funcionários do setor da portaria. Houveram mudanças nos processos da farmácia e implantação de kit’s cirúrgicos, com redução de desperdício de materiais e medicamentos; a tabela de convênios estava com os valores defasados a anos; foram credenciados mais seis leitos na área de atendimento psicossocial que é referência na região; o SAME onde está todos os dados documentais dos pacientes foi reformado e reorganizado; o sistema de informática foi reestruturado; os funcionários participam de palestras e reuniões semanais para que sejam ouvidos e trabalhem mais motivados; os departamentos se concentraram ocasionando mais economia e eficiência. Foram vários eventos beneficentes realizados, almoço, feijoada, Festival da Carne Suína, entre outros. O maior deles – o show da dupla Mayara e Maraísa que juntamente com a venda das rifas foi pago o 13º salários dos funcionários. As ações trabalhistas na justiça caiaram de 43 (2015 e 2016) para cinco em 2017. Uma das grandes apostas para conseguir recursos junto a população é a venda do Carnê “Viva Mais Saúde”. Ele é capaz de tirar esta dependência da esfera política em fazer indicação e destinar emendas parlamentes. Outra iniciativa tomada neste começo de ano, é a rifa de um veículo Pálio 2015. Cada bilhete custa apenas R$10 e o sorteio será realizado no pátio da entidade, no dia 10 de abril.

Para alcançar o equilíbrio financeiro que se espera, foi reduzida em 40% a compra de materiais e medicamentos, mesmo com aumento de 25% na taxa de ocupação do Hospital. O desligamento de 35 colaboradores com média salarial e encargos de R$ 3,5 mil a economia foi de R$ 120 mil. As contas de telefones também diminuíram de R$ 3,2 mil em média para R$ 1,3 mil.

No ano de 2016, a dívida da Santa Casa era de aproximadamente de R$ 19 milhões. Já em 2017, quando a nova direção assumiu ela caiu para R$ 16,5 milhões. Exemplificando, a redução do passivo foi de aproximadamente R$ 2,5 milhões. Considerando que o primeiro trimestre, onde foi apresentado um déficit mensal de R$ 350 mil, se multiplicar por 12 meses, representaria um déficit total de R$ 4,2 milhões. Entretanto foi apresentado um valor de superávit de aproximadamente R$ 160 mil, o que não acontecia a mais de 15 anos na história da Santa Casa. “Diante destes números, fica claro que os esforços direcionados para equacionar as finanças, conseguiram reverter o quadro negativo que vinha sendo apresentado ao longo dos anos”, justifica. Uma empresa foi contratada para auditar todos os lançamentos contábeis, e algumas informações podem ser ainda alteradas. O balanço estará disponível a partir do mês de março e será submetido à assembleia. Porém, todos os dados informados estão a disposição da irmandade, dos vereadores ou de qualquer cidadão.

Provedor Michel Renan explica que todos os esforços estão sendo feitos para tornar a Santa Casa auto sustentável

CONTA DO GOVERNO DE MINAS É DE R$2,7 MILHÕES

O provedor Michel Renan tenta entender o que faz o Governo de Minas Gerais a não repassar os recursos devidos ao Hospital de Três Pontas, assim como vem fazendo com outras instituições de saúde de outras localidades. A conta do Estado está aberta desde 2016 e recursos empenhados não são pagos. São do Pró Hosp e Rede Resposta que somam somente em 2016 R$1.042.067,82. Em 2017 são mais R$1.673.631,56. O montante da dívida é de R$2.715.699,38, que coloca a direção em situação de sofrimento. “Sabemos que este dinheiro um dia vai chegar, mas não sabemos quando e isto me tira o sono muitas noites”, externou o Provedor. Michel pediu apoio dos vereadores para cobrar esta dívida, juntamente com a Administração municipal, afim de garantir uma vida financeira saudável ao Hospital que é de todos.

O Hospital tem a receber também emendas parlamentares que vem por indicação dos deputados, que Michel faz questão de registrar os nomes de todos eles. São R$500 mil do deputado federal Diego Andrade, R$ 420 do deputado estadual Mário Henrique “Caixa”, R$50 mil do deputado estadual Cássio Soares e mais R$50 mil do deputado estadual João Leite.

TRÊS PONTAS GEROU DÉFICIT DE R$500 MIL NO HOSPITAL

Michel Renan contou que não aceita dizerem que a Santa Casa de Misericórdia é um “saco sem fundo”. O termo o deixa chateado e o faz explicar a todos que pensam desta forma, que a instituição acolhe pacientes diariamente da melhor maneira possível e salva vidas a cada minuto.

Mostrando os números, ele detalhou que diariamente são feitos diversos procedimentos através da Autorização de Internação Hospitalar (AIHS), com o município sede que é Três Pontas e aqueles que tem aqui como referência, como Santana da Vargem, Coqueiral, Boa Esperança e Ilicínea. Em 2017, houve extrapolamento de R$ 51.181,59. Depois de conquistar a credibilidade, a diretoria foi até os prefeitos e mostrou a eles que o dinheiro recebido não é suficiente para atender a demanda de seus moradores.

A situação é ainda mais complicada quando se trata de Três Pontas. Nos últimos 12 meses, o extrapolamento foi de R$977.631,33, sendo que R$ 592.561,33 são de contas faturadas e mais cerca de R$ 384.800,00 que ainda serão faturadas.

A subvenção mensal de R$121 mil, repassada pela Prefeitura durante 11 meses de 2017 e que soma R$1.320,000,00 é outra coisa. Michel já mostrou que o Município usou da Santa Casa mais de R$1,5 milhão, com o PAM, lavanderia, raio X, exames e outras despesas que acabaram ficando no déficit da instituição. Sem falar no Rede Resposta, que não tem complementação e o valor repassado pelo Estado é de longe o que se gasta para manter todas as equipes médicas trabalhando.

PLANEJAMENTO 2018/2019

Michel Renan é confiante quando o assunto é planejar o futuro da Santa Casa e defende com firmeza a gestão que sua equipe vem fazendo. Nos planos para os próximos dois anos está a repactuação SUS com os municípios de referência; renegociação do Teto Financeiro de Média e Alta Complexidade (MAC) com o município; a implantação do Centro de Diagnósticos por Imagem; a ampliação da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com mais 10 leitos, na antiga Pediatria; estudo de viabilidade do Hospital Dia; a reestruturação do Centro Cirúrgico e dois grandes sonhos dos trespontanos que são possíveis: a implantações da Hemodinâmica e Hemodiálise.

RECONHECIMENTO A EQUIPE MÉDICA

Por diversas vezes, o provedor Michel Renan falou da equipe de profissionais médicos que a Santa Casa possui, classificando-os como extremamente vocacionados e dedicação. Eles tem sido parceiros do empresário e juntos colhem os frutos de uma contribuição mútua. Michel afirma que gostaria de estar em dia com todos eles e condena os valores pagos pelo SUS em cirurgias e procedimentos realizados.

O gasto mensal com os plantões fica em torno de R$ 380 mil reais, sendo que recebe apenas R$110 mil do Programa Rede Resposta, trazendo um déficit mensal de R$270 mil. 50% das receitas mensais são direcionadas a pagamentos médicos, e segundo o provedor, os médicos não podem alegar que a Santa Casa não tem dado a devida atenção. Quando a atual direção assumiu em março do ano passado, existia cinco meses de salários atrasados e hoje são apenas 4. No entanto, não é uma condição que os deixa confortável, pois quem trabalha precisa ser remunerado, mas diante da demonstração apresentada, ainda está difícil de saldar estes meses.

VALORES A RECEBER DO ESTADO 2016:
Pro Hosp. R$ 242.067,82
Rede Resposta R$ 800.000,00
Total R$1.042.067,82 

VALORES A RECEBER DO ESTADO 2017:
Pro Hosp. R$ 743.631,56
Rede Resposta R$ 930.000,00
Total R$1.673.631,56
TOTAL 2016 e 2017: R$2.715.699,38