O vereador Antônio do Lázaro cumprimentou seus familiares escoltado pela PM. Foto: Equipe Positiva

 

A convocação para a manifestação contra o vereador Antônio Carlos de Lima (Antônio do Lázaro – PSD) na tarde desta quinta-feira (15), ganhou as redes sociais e repercutiu em toda a cidade. Não foi tanta gente que partiu do bairro Jardim das Esmeraldas, na saída para Campos Gerais e, caminharam a pé acompanhados de carro de som até a Câmara Municipal e apoiados por viaturas da Polícia Militar. Mas ao longo do trajeto, outras pessoas foram se juntando aos moradores e no Plenário Presidente Tancredo de Almeida Neves engrossaram o tom de protesto. O residencial é onde mora Vera Lúcia Valentim que acusa o parlamentar de tê-la ofendida com injurias raciais, no dia 08 de fevereiro na sede do Centro de Atenção Psicossocial (Caps).

Membros do Grupo Afro Trespontano, do Movimento “Racismo Aqui Não” e populares ocuparam as cadeiras e minutos antes da sessão iniciar, começaram a gritar frases condenando o racismo. Eles usaram faixa, um varal de cartazes e alguns instrumentos para chamar a atenção dos vereadores e até cantaram.

Com a ausência do presidente da Câmara vereador Luis Carlos da Silva (PPS), que passou por uma cirurgia, o vice Donizetti Benício Baldansi (PSL), assumiu a reunião e convidou o colega Érik dos Reis Roberto (PSDB) para ocupar a sua cadeira na Mesa Diretora. Coincidentemente Antônio estava escalado para fazer a leitura de um trecho da Bíblia, como acontece toda as semanas e houve algumas vaias.

Moradores do Jardim das Esmeraldas caminharam durante uma hora até chegar na Câmara

O vereador líder do prefeito Dr. Luiz Roberto na Câmara não falou nada durante toda a sessão e se virou em direção as pessoas poucas vezes e rapidamente. No Pequeno ou Grande Expediente e durante as votações dos três projetos da pauta, Antônio permaneceu em silêncio, ouvindo do público palavras de ordem e dos colegas que eles recriminam qualquer tipo de discriminação, seja de cor, religião, raça ou opção sexual.

Ainda no começo, o presidente da Associação dos Moradores do bairro Jardim das Esmeraldas Willian Moreira Cardoso bateu boca com o presidente insistindo em falar enquanto os vereadores usavam a Tribuna. Benício solicitou que a Polícia Militar o retirasse, os ânimos ficaram exaltados. Willian deixou o Plenário por conta própria, mas retornou um tempo depois e não houve mais problemas.

Durante a votação da pauta, Antônio foi até o público e abraçou familiares que estavam presentes e foram dar apoio a ele. No fim, os manifestantes permaneceram cerca de 40 minutos na porta da Câmara aguardando a saída de Antônio. Quando os servidores queriam fechar o prédio, o vereador saiu escoltado por policiais militares. Os moradores foram atrás e gritaram muito. Antes de entrar no carro de Benício Baldansi para ir embora, ele abraçou novamente sua família. Ele novamente se recusou a falar com a imprensa e disse que tudo que tem a falar está no vídeo postado por ele no facebook.

Vereadores defenderam manifestação e criticaram a falta do Carnaval

Uma das poucas vezes que Antônio se virou para o público

Diante de um público que se manifestava constantemente, mesmo diante da insistência do presidente em exercício Benício Baldansi, em colocar ordem na Casa e cumprir o Regimento Interno, os parlamentares da oposição aproveitaram para engrossar o coro de críticas por causa do cancelamento do Carnaval.

O secretário da Mesa Diretora Maycon Douglas Vitor Machado (PDT) parabenizou o bloco “Ai Se Eu Te Pego”, pela apresentação na Avenida Oswaldo Cruz na noite de sábado de Carnaval, o Castelinho que reuniu os amigos na Rua Santana e o Grupo de Dança Ritmos pela matinê na terça-feira. “Eles demonstraram que não é preciso de muita coisa para fazer a alegria das pessoas. Fiquei feliz de ver crianças, jovens e famílias inteiras na Avenida curtindo uma festa feita pelo esforço dos próprios trespontanos”, registrou Maycon Machado. Ele terminou agradecendo a solidariedade à sua família em decorrência da morte de seu tio-avô Luiz Machado Filho nesta quinta-feira (15).

A vereadora Marlene Rosa Lima Oliveira (PDT) cumprimentou as manifestações realizadas durante a Festa de Momo, lamentou não ter sido avisada para poder participar. Sobre a denúncia contra o colega,  Marlene não entrou em detalhes. Resumiu tudo dizendo que condena qualquer tipo de discriminação e que a justiça é quem vai resolver tudo e Antônio terá sua oportunidade de defender.

Luiz Flávio Floriano (PSL) “Flavão” comentou uma situação que viveu em Belo Horizonte em uma de suas viagens de trabalho. Junto com Coelho, o vice prefeito Marcelo Chaves e outras 20 pessoas, uma pessoa cumprimentou a todos menos ele. Flavão saiu de lá nervoso e disse que a atitude da pessoa estragou sua viagem. Ele condenou os atos de racismo, que infelizmente acontecem.

Roberto Donizetti Cardoso “Robertinho” (PP)  saiu em defesa do povo afirmando que as pessoas devem sim se manifestar, mas devem participar mais das reuniões para acompanhar de perto o trabalho de cada um dos legisladores. Ele comentou a cobrança feita pela Equipe Positiva sobre as cobranças e sugestões que devem ser levadas ao Poder Executivo, porém, Robertinho esclareceu que não tem adiantado levar soluções, já que os secretários não aceitam opinião.

Fora da base do governo, Geraldo José Prado “Coelho” (PSD) fez um novo desabafo. Começou falando da não realização do Carnaval. “Aqueles que podiam foram para Ubatuba e viajaram. Mas o povo mais humilde merecia ter tido um Carnaval, mesmo que simples. Quando fiz uma postagem em uma rede social, ainda veio gente da Administração me criticar. Eu apenas estou cobrando o que prometeram durante a campanha e agora esta Administração ‘sem vergonha’ está fazendo o povo de bobo. Coelho recriminou as questões denunciadas por pacientes do Caps, acrescentando que tem faltado muito respeito entre os seres humanos. As criticas de Coelho à gestão continuaram quando ele informou que recebeu da Prefeitura um ofício informando que até novembro do ano passado nenhuma multa havia sido aplicada. Porém, Coelho que se envolveu em uma polêmica enorme quando questionou a forma de atuação dos agentes de trânsito, confirmou que tem o recibo de uma multa que havia sido aplicada em agosto. Nela estava tudo especificado, além de muitos outros motoristas terem dito que sofreram as sanções.

Sérgio Eugênio Silva (PPS) parabenizou a manifestação, mas convocou os colegas a cobrar do Poder Executivo a nomeação dos membros do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPIR), (de autoria de Maycon Machado e Marlene Lima).

Sobre o Carnaval, o oposicionista opinou ser uma vergonha para o Município, mas parabenizou aqueles que voluntariamente fizeram a felicidades dos outros se mobilizando. Serjão listou os problemas que a Administração não resolve e os caminhos que tem adotado – falta de medicamentos na Farmácia Popular, terceirização da frota da Secretaria Municipal de Saúde, entre outros. Ele quer saber para onde os R$380 mil da sobra da Câmara que foi devolvida pelo Legislativo e que seriam repassados ao Hospital São Francisco de Assis, conforme Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado com a participação do Ministério Público. “Quero saber se pelo menos foi para a Saúde, porque na farmacinha não tem nem mesmo analgésico (dipirona)”.

O tucano Érik dos Reis justificou que o Ministério Público não terminou o cancelamento do Carnaval, mesmo porque não tem atribuição para isto, sendo que a instituição fez apenas uma recomendação. O vereador que é professor de matemática fez um cálculo simples e rápido dos gastos que as pessoas gastaram ao viajaram às outras cidades, citando como exemplo Boa Esperança e o quanto Três Pontas perdeu sem a festa. Ele tomou como parâmetro o município dorense onde ele viu diversos ônibus e vans saindo daqui. Ele explicou que Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro não fazem investimento para aparecer na televisão, mas sim, por causa do retorno que o Carnaval provoca.

 

O desentendimento entre vereador e pacientes

A esquerda, a dona de casa Vera Valentim que acusa o vereador ter a chamado de macaca

O vereador Antônio do Lázaro é acusado de ofender Vera Lúcia Valentim de 45 anos, enquanto ela aguardava atendimento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). A dona de casa que faz tratamento na unidade questionou o entra e sai do parlamentar que estava acompanhando seu filho em uma consulta. No meio de todo mundo, o legislador teria ficado irritado e esbravejado. “Vai te catar. Vai subir em um pau de sebo sua vagabunda, macaca”. Na saída, próximo a recepção ele chamou todos de ‘macacada’, para um outro paciente que foi tirar satisfação com ele. A  Polícia Militar foi chamada e registrou um boletim de ocorrências sobre o caso. Diversas pessoas se apresentaram como testemunhas. O assunto rendeu matérias em todas as emissoras de televisão da região.

Vereador nega acusações

O vereador Antônio Carlos de Lima postou um vídeo na internet negando as acusações. Ao lado da esposa e do filho, ele declarou que foi agredido verbalmente várias vezes por algumas pessoas no Caps, e que tentou conversar calmamente. Sobre a saída e entradas no consultório, segundo ele, foi a pedido do medido. Como as pessoas não pararam de reclamar, ele acabou discutindo, mas diz que não usou as palavras mencionadas pelos denunciantes.

O vereador Antônio Carlos de Lima cumpre seu terceiro mandato e faz parte da base do prefeito Dr. Luiz Roberto Laurindo Dias (PSD) na Câmara. Esta não é a primeira vez que o legislador se envolve em confusão. Em 2011, ele acusou uma servidora do Poder Legislativo de furtar presunto da sede da Câmara. Ela registrou ocorrência, entrou com ação na justiça e em 2015 ele foi condenado a pagar R$3 mil de indenização.

Votações ficaram em segundo plano

Houveram alguns debates durante a votação da pauta que continha três projetos de leis, todos eles vindos do Poder Executivo, mas, a Ordem do Dia passou a ser segundo plano diante da turbulência que havia na Câmara. Durante as votações, as reclamações se voltaram às deficiências da Administração e gritos como a falta de medicamentos para a população carente foi o que mais se ouviu.

O Plenário aprovou todos eles por unanimidade. No Projeto nº 010, o Poder Legislativo aprovou que a Prefeitura fracione, se entender necessário, uma área pública no Loteamento Village das Palmeiras. Todas elas precisam obrigatoriamente vencer processo licitatório como de costume. No Projeto 020, uma alteração no Plano Plurianual (PPA) e no Orçamento de 2018, abrindo crédito especial incluindo convênio celebrado entre a Secretaria Municipal de Agropecuária no valor de até R$243.750,00 recebidos do Ministério da Agricultura para a compra de máquinas e implementos agrícolas para a ampliação e modernização da Patrulha Mecanizada. E por último abertura de crédito adicional especial também do Orçamento para que se devolva R$500 fruto de rendimento de recursos que foram repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).