Carmem Lúcia "Ucha", Graziela Tiso, Dona Aparecida, Letícia Braga e Veronica de Figueiredo

 

*Criado por um grupo de amigas em 1976, Beterraba traz de volta a Vaquinha com seu charme e homenageia Aparecida Tiso

Na esteira do renascimento dos antigos Carnavais, um grupo de senhoras, que na adolescência se formaram juntas na Escola Municipal Cônego Vitor e fizeram esta amizade perdurar algo ao longo de décadas, se animaram com a nova proposta do Carnaval de Três Pontas.

As meninas se reuniam na residência de Aparecida Tiso, pertinho da Praça do Centenário. Eram festinhas de formatura e os ensaios para o Carnaval, mas também eventos que eram organizados para ajudar. Um deles foi chamado de “ Três Pontas Presente”, feito para ajudar a única creche que existia no Município.

O grupo era mais ou menos 8 pessoas e a história delas com o Carnaval começou bem longe daqui. Verônica de Figueiredo Murad conta que em 1976, elas foram passar as férias de julho na Bahia. Lá, conheceram a festa da Igreja do Senhor do Bonfim, em Salvador. Na comemoração, as baianas faziam a limpeza das escadarias da igreja, em preparação à festa do padroeiro, que é celebrada em janeiro. Lá ouviram também a canção daquele momento, Dona Ivone Lara, “Alguém me avisou”. Elas voltaram encantadas e decidiram montar o bloco no Carnaval. Arrumaram uma carrocinha e copiaram a mesma música. As roupas tinham a mesma cor de lá da Bahia, todas brancas. Para sair para a rua fizeram uma vaquinha, um contraponto ao famoso boi. Ao invés das investidas que o macho fazia, a vaquinha que ganhou o nome de Beterraba, toda delicada e que tinha a tranquilidade capaz de encantar a todos, mas especialmente as crianças. A cada ano, uma música era escolhida como hino do Bloco Beterraba.

Bloco da Beterraba também usou um Dogde Dart nos seus desfiles. Fotos: Arquivo

Carmem Lúcia Chaves, a “Ucha” revela que durante muitos anos elas foram para Salvador e voltavam inspiradas com tudo o que seria colocado em prática. Ao longo dos anos, o bloco foi ficando famoso e requisitado. Até um Dodge Dart sem capota o grupo comprou e era muito bem cuidado o ano inteiro.

O Beterraba desfilava no mesmo trajeto das escolas de samba. Os membros do bloco usavam uma piscina que fica anexo ao antigo Restaurante Apolo XII como QG. E naquela época para aguentar a maratona da Festa de Momo, com matine no Clube Trespontano, os desfiles e depois a festa com a vaquinha era necessário muita energia. A satisfação com a Vaquinha foi tão grande que acreditem: “nasceu” a Berinjela.

O tempo foi passando e os problemas causados pelo boi, fizeram com que a Prefeitura na época proibisse este personagem cultural e inclusive o som. A festa perdeu um pouco o sentido e como todo mundo sabe, o Carnaval foi perdendo o brilho e, principalmente, o sentido de uma comemoração às famílias. Cada um foi formando suas famílias, saindo da cidade para estudar ou para trabalhar. As crianças cresceram e as coisas se complicaram. Elas deixaram de passar o Carnaval em Três Pontas.

A Beterraba e sua cria, também saíram de cena e 32 anos depois, estão retornando. E a mesma vontade de antes que une estas mulheres agora. Com suas responsabilidades, compromissos, mas com a vontade de mostrar para a criançada de hoje, o espírito de Carnaval família.

“O Carnaval é sinônimo de alegria, e era gostoso. Fazíamos muitas brincadeiras e não tinha a bebedeira que existe hoje. A nossa Vaquinha não machucava ninguém, era dócil, dançava, requebrava e as pessoas saiam da missa e queriam tirar fotos com ela”, contam elas, mostrando fotos da época.

“Reviver isto tudo está sendo uma delícia”. Assim definem elas, que reconhecem o esforço do grupo de voluntários em voltar com um Carnaval de rua para família, com marchinhas e aquelas atrações durante o dia todo. “Quando a gente soube dessa tentativa de resgatar essa coisa gostosa do carnaval de Três Pontas, a gente falou: nós temos que voltar”, conta Ucha. porém, em um momento muito diferente na vida de cada uma delas, casadas, com filhos e netos. Muitas delas iriam viajar novamente este ano, mas acabaram desistindo para ficar e serem solidárias ao movimento do Carnavaliza. Todas elas estão trazendo além de familiares, amigos e pessoas que no passado, viveram esta alegria e euforia de curtir a festa tranquila e ordeira. Tem gente de Belo Horizonte, Campinas (SP), Sorocaba (SP) e Rio de Janeiro (RJ). “Vamos poder mostrar para eles, aos nossos filhos e netos, o que vivemos em uma época e estamos vibrando com isto”, conta Letícia Braga de Souza.

Quando pensaram neste retorno, convidaram Dona Aparecida para ser a madrinha. Marcaram uma ida na casa dela e improvisaram uma faixa para oficializar o convite. Não deixaram para o outro dia, e foram na hora na casa dela, antes que a matriarca quisesse ir para algum lugar.

Antes mesmo de reviver as coisas quem consideram fantásticas no Carnaval, as cincos estão mais próximas, resgatando uma amizade que mesmo com os corpos distantes, no coração sempre estiveram unidas. Mas desde sempre se encontravam para tomar aquela cervejinha juntas, trocar experiências da vida ao longo de muitas décadas. Quem está ansiosa é Graziela Tiso Costa, que vai pela primeira vez vestir a camiseta do Beterraba. Até agora já são quase 70 pessoas. A Vaquinha virá com o seu primeiro modelo, do Senhor do Bonfim.

A madrinha Aparecida Tiso, foi comunicada por Graziela que elas iriam até a casa dela, mas não revelaram o porque. Chegaram fazendo barulho e emocionaram a homenageada, que mostrou que o coração está bom aos 83 anos. “Nunca pensei que isso iria acontecer de novo, fiquei bem emocionada e achei muito bom”. E ela já está preparada. Aparecida está acostumada a emoções. Fazia teatro em benefício a Igreja em Três Pontas e na região. Em uma das apresentações, em Campos Gerais, Milton Nascimento passou por lá com sua turma.

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