Aos 14 de junho do ano de 1972, quando os registros fotográficos eram ainda em preto e branco, registrava-se o nascimento do movimento apaeano em Três Pontas, com fundação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, a APAE. Naquela época já até havia um grupo de senhoras trabalhando em prol das pessoas com deficiência desde o ano de 1968.

“A APAE, que anteriormente funcionava em salas cedidas na Associação Comercial do município e também na Escola Monsenhor Silveira, surgiu da necessidade de uma mãe que possuía um filho com deficiência e precisava oferecer ao mesmo algum tipo de reabilitação na área educacional e de saúde. Esta senhora que tinha um bom poder aquisitivo, conseguiu mobilizar outras senhoras da sociedade que também tinham o foco no trabalho social”, relata Maria Rozilda Gama Reis, superintendente da APAE e atuante no movimento há cerca de 30 anos.

Com o início desse movimento em prol da pessoa com deficiência pela sociedade trespontana, que na época era chamada de excepcional, foi fundada a APAE com sua primeira sede na Associação Comercial. E de lá para cá, diversas pessoas encabeçaram a luta à frente desse movimento para levar recursos, organizar e construir uma Escola para as “pessoas especiais”.

“Foi um período muito difícil, levantar mobiliário, contratar funcionários e fazer parcerias. Isto tudo era feito e mantido pela comunidade. Havia escassez de recursos, fato similar ao da atualidade, uma vez que desde aquela época já se realiza eventos para complementar os gastos com a manutenção da APAE. Foi um início muito difícil, com pessoas batalhadoras e idealizadoras que plantaram a semente que germinou, cresceu e hoje tornou a Instituição uma grande referência no atendimento à pessoa com deficiência”, acrescentou Rozilda Gama.

Com o crescimento das atividades da APAE nas salas da Associação Comercial surgiu a necessidade de um outro espaço. Naquela época funcionava na atual sede da Instituição uma “Casa do Leite”, criada por um Padre visionário que atuava em Três Pontas e nesse local era ofertado leite para famílias carentes. Foi somente após o encerramento das atividades da “Casa do Leite”, que foi proposta e regulamentada a doação desse espaço para APAE. A esse espaço foi acrescido um terreno do ‘Seu’ João do Zote, tendo como interveniente o saudoso historiador Paulo Costa, dando origem ao atual terreno da APAE. Destaca-se a importância desse acontecimento no mandato do ex-prefeito João Vicente Diniz, no qual foi oficializado a cessão do espaço para a Instituição.

No decorrer de cinco décadas de atuação da APAE, foram feitas várias obras de adequação, revitalização das estruturas físicas de acordo com a necessidade da Instituição em se qualificar. O destaque no início de tudo foi a atuação de Dona Alexandrina, mais conhecida como Dona Fiíca e sua companheira Dona Clymene, que contaram ainda com a colaboração da professora, Dona Cecília e seu esposo, que moravam em frente a nova sede e nos primórdios das atividades da APAE cederam o trator que nivelou o terreno recém adquirido.
Ainda no início de criação da infraestrutura da Instituição foi definido pela diretoria da época que cada sala de aula teria o nome de uma personalidade de Três Pontas que colaborasse com a construção da respectiva sala e foi a partir daí que começou todo o processo de construção.

Em 1981, ano Internacional da Pessoa com Deficiência, houve uma grande repercussão sobre este tema, e isto motivou muito as pessoas em colaborar com APAE. Com isso, aconteceu a ampliação de vários espaços, juntamente com a colaboração de toda comunidade trespontana. Nessa época, também teve início o apoio por parte de diversos políticos com destaque para o então vice-presidente da República e trespontano, Aureliano Chaves. Todo esse aporte político foi fundamental para legitimar as leis de seguridade social e atendimento à pessoa com deficiência ao longo dos anos.

Rozilda Gama, destaca ainda que a APAE teve o apoio incondicional de pessoas muito guerreiras à frente da Instituição, que lutaram com afinco para o sucesso do movimento apaeano no município, dentre elas estão: a Dona Iracema Torres Guimarães, a Dona Diva Mesquita Veloso, Sílvia Marisa Resende Vilela e Dona Clymene Santos Silva Araújo, Alexandrina de Abreu Pereira, Adriene Barbosa de Faria Andrade, Maria Lourdes Custódio de Brito, Luciana Ferreira Mendonça, Vera Nilda do Couto Scatolino, Maria da Aparecida Dionísio Silva e a atual presidente da APAE, Verônica de Figueiredo Murad. A Instituição em sua trajetória contou o trabalho de equipe de voluntárias que contribuíram e ainda contribuem com a APAE, hoje sob a tutela de Maria Antonieta Tiso de Miranda Abreu, que também participou e participa ativamente da diretoria da APAE.

Outro momento de destaque na jornada de 50 anos da APAE foi ano de 1991, quando Dona Fiica deixou a presidência da Instituição, assumindo em seu lugar a saudosa Adriene Barbosa de Faria, que a partir desse momento iniciou um processo de reformulação das atividades da APAE e conseguiu estruturar uma equipe ainda mais envolvida e comprometida com o bem-estar social das pessoas com deficiência. Nessa ocasião, ocorreu uma grande evolução de infraestrutura física e com uma gestão mais focada na autossustentabilidade.

Naquela época, a autossustentabilidade, era uma palavra pouco citada na conduta de administração das instituições filantrópicas, mas Adriene já possuía essa visão futurista. A APAE era uma instituição muito dependente em todos os sentidos e foi a partir desse momento que começou a firmar os primeiros convênios com o poder público. Destaque para convênio com o Município na área de Saúde. Rozilda Gama relata que o valor do recurso repassado era muito pequeno, mesmo assim ajudava muito. Foi também nessa época que a área social da APAE começou a se mobilizar para fazer os convênios com o Estado, com a exemplo do firmado com a Legião Brasileira de Assistência (LBA), cujo o valor é o mesmo desde o ano 1992 até os dias atuais.

Na gestão de Adriene a equipe da APAE ainda conquistou o Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social – CEBAS, junto ao Governo Federal, que é extremamente importante para qualquer Instituição que realize ações filantrópicas. Esse importante documento legitimou a APAE para firmar novos convênios e projetos. A APAE nunca parou, está em constante crescimento, hoje com uma realidade muito diferente do início, aonde o também saudoso Sr. Geraldo Torres fazia cheques dele próprio para pagar o salário dos funcionários da Instituição. Quantas vezes acumulou-se algumas folhas de pagamento que foram quitadas a duras penas.

Outro destaque na história de luta da APAE foi a habilitação da Instituição como Centro Especializado em Reabilitação Auditiva, Física e Intelectual, serviço para atender cerca de 1.800 pessoas de 20 municípios da região Sul Mineira. Um avanço significativo costurado há várias mãos com destaque para colaboração do prefeito Marcelo Chaves e do Deputado Federal Diego Andrade, que fizeram a interlocução com o Ministério da Saúde para que essa habilitação fosse possível.

Apae de Três Pontas – 2022

A APAE atualmente conta com mais de 100 funcionários e com uma equipe mínima exigida pela portaria habilitação do Ministério da Saúde, que exige determinados profissionais, tais como fisioterapeutas, ortopedistas, nutricionistas, enfermeiro, psicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos, médico clínico geral, ortopedista, neurocirurgião e otorrinolaringologista. A Instituição destaca ainda, as atividades de autossustentabilidade com a criação da padaria APÃEzinhos e o Projeto Viés – no qual as mães dos alunos e usuários produzem calcinhas ecológicas. Ambos, visam angariar recursos para a APAE, familiares e também promover a inclusão no mercado de trabalho das pessoas com deficiência.

Hoje, a APAE tem uma nova visão, a de ofertar serviços aos alunos e usuários através do financiamento público. Os desafios são diversos mas a Instituição está preparada para ofertar o que há de melhor na área de habilitação e reabilitação da pessoa com deficiência, principalmente sempre pensando no impacto social e na transformação na vida dos alunos e usuários e seus familiares.

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