O teatro sempre esteve presente na história da humanidade e, por meio dele, o homem expressa sentimentos, conta histórias, e na antiguidade louvava seus deuses. O Dia 19 de setembro, de acordo com o Projeto de Lei nº 6.139/13, aprovado na Câmara dos Deputados, é celebrado o “Dia Nacional do Teatro Acessível”. Não estamos nesta data, porém, é preciso fazer justiça e contar uma das mais belas histórias de quem exerce esta arte atualmente e se destaca, nos palcos e na internet, representando a vida e as emoções humanas.

Estamos falando do aluno da professora Marita Duarte, Glauber Adriano Reis, de 33 anos, um menino que desde que se entende por gente ama a arte, especialmente o teatro. Por isto, foi ao participar do grupo de teatro de Marita, em 2006, que ele teve os primeiros contatos com os palcos.

Em 2010, começou ralando, como muitos artistas trespontanos. Foi como animador de festas infantis e, dois anos depois foi contratado para animar a inauguração do Parque Tiãozinho Vermelho, como couver do palhaço Patatá. Ficou nesta função por cinco anos, até iniciar em 2015 o curso de Pedagogia. Este foi o start que seu lado artístico precisava. No mesmo ano, durante o curso foi convidado pelo então vice-prefeito de Três Pontas, Érik dos Reis Roberto para dar oficinas de teatro na rede municipal. Ele criou o Grupo Teatral Arte e Manha, na época formado apenas por alunos da Escola Municipal João de Abreu Salgado. As aulas de Glauber deram tanto certo, que a arte do teatro derrubou os muros da escola do bairro Catumbi e o trabalho foi reconhecido pela cidade. Não apenas pela dedicação destes adolescentes, mas os ensinamentos de Glauber, fizeram a turma estimular o corpo e a mente, quebrar a timidez, provocar o bem estar ao pisar em um palco e porque não, mudarem de vida. Quem faz teatro desenvolve muito o autoconhecimento, isto é, sabe mais sobre si mesmo e, por isso, se torna uma pessoa mais confiante. Como o instrumento de trabalho no palco de um ator é o seu próprio corpo e, em cena, ele não pode contar com mais ninguém mais, aprender a ter segurança e administrar suas emoções é fundamental.

Atualmente são 28 adolescentes que são de várias escolas, que seguem a missão de levar a arte para os quatro cantos de Três Pontas. “A arte é algo muito forte e predominante do meu ser, e eu sempre quis fazer mais, eu sempre quis mostrar mais esse meu lado às pessoas. Infelizmente, não é fácil propagar o teatro em uma cidade pequena como a nossa e as vezes o próprio público não se interessa”, afirmou Glauber Reis.

Mas existia nele a necessidade de divulgar mais esse seu lado artístico, então resolveu se maquiar, e desafiar a si próprio. Desde 2017, todos os domingos ele começou a fazer uma maquiagem artística, com o propósito de despertar o encantamento nas pessoas. E ai nasceu um grande maquiado, que deu os primeiros passos com personagens clássicos da Disney, mas apesar disso, sempre desconfiou da opinião das pessoas e o medo bateu. Começou a fazer apresentações em escolas e outras instituições, como o Dia Nacional do Campo Limpo, mostrando a importância da devolução das embalagens vazias, em favor do meio ambiente.

Em 2018 começou a investir nas maquiagens de halloween, com muito sangue e temidos monstros. Com o tempo, as pessoas já estavam vendo esses seus lados, mas como Glauber nunca teve medo de desafios, ele quis mais. Foi então que por incentivo dos seus próprios alunos do grupo, criou seu canal no YouTube, e lá ele mostra o passo a passo de cada makeup.

Logo começou a fazer vídeos temáticos, dando sua opinião sobre determinados assuntos. Mostrou assim, que não é apenas um ator, que decora textos e interpreta, que é inteligente o capaz de mostrar sua opinião, sua inteligência e responsabilidade de artista, por mais diferente que ela seja do pensamento das pessoas. Por muito tempo, o artista era visto como uma pessoa sem perspectivas, sem responsabilidade, e é isso que ele prega e busca até hoje. “Nós somos seres pensantes e não somos parasitas em nossa comunidade, pelo contrário, o artista tem como responsabilidade alertar e conscientizar as pessoas!”, justificou.

Em meados de 2018, ganhou a oportunidade de entrar para a equipe da Secretaria Municipal de Cultura Lazer e Turismo. Por sorte ou pelo destino, o comando da pasta é de Alex Tiso, chamado de paizão pelos seus funcionários. Apesar do sobrenome que carrega e do conhecimento distinto de um Tiso, os servidores tem a liberdade de criar, confabular idéias e organizar eventos. Assim, Glauber tem a oportunidade de colocar um pouco de ludicidade nas coisas.

Em 2020, recebeu a missão do “chefe” de fazer a decoração de Natal. Dentro do possível e com o material que já tinha, foi feita uma decoração bonita, no capricho. Um trabalho de equipe em que todos os funcionários da Cultura colocaram a mão na massa. Glauber acrescenta que a magia também é fruto dos eletricistas: Juliano, Duda e Júlio que iluminaram a cidade. E como tudo na pandemia precisou ser reinventado, Glauber lançou o lúdico dos duendes do Arte e Manha que encantaram a todos no drive thru.Sem saber o que vai acontecer daqui a um ano, ele já promete que os trespontanos vão se  surpreender, mas por enquanto sem spoilers. “Estar inserido numa equipe tão dinâmica e visionária, influenciou muito na minha arte, e em mim. Enquanto pessoa, comecei a fazer maquiagens mais ousadas e a brincar com os gêneros. Eu pude romper com os limites, e quebrar alguns tabus, afinal antes não era muito comum um cara se maquiar e se transformar em mulher”, revela o artista. Felizmente ele nunca sofreu preconceito por causa disso, pelo contrário, sempre recebe muito carinho e respeito para com a sua arte.

E como a pandemia da Covid-19 este ano, surpreendeu a todo mundo, ao ficar no confinamento de sua residência, despertou outro lado, os vídeos com performances. Dedicou seu tempo em casa para criar vídeos com os mais variados temas, desde didáticos com jogos e brincadeiras para fazer em casa, até vídeos de campanhas de saúde, contra a homofobia, da Consciência Negra, entre outros. Sempre buscando levar pessoas que estão de fora da arte, os anônimos, como foi feito no vídeo criado para comemorar o Dia da Consciência Negra. Suas postagens estão recebendo milhares de visualizações e likes nas redes sociais e seu estilo arrancando elogios. Geralmente, ele gasta em média duas horas para fazer a maquiagem e mais uma hora somente para a gravação. Depois ele mesmo edita em umas duas horas, tudo no mesmo dia.

Para alcançar seus sonhos, Glauber tem como pilar seus pais, Gessi e Dona Marly. Eles sempre o apoiaram e são seu norte e sua base. Tudo que ele faz, pede conselhos para eles. Os palpites são sempre válidos, seja no figurino, nas fotos, nos vídeos e quando não está no agrado dos pais, Glauber refaz tudo e percebe que eles sempre tem razão.
Um sonhador que luta diariamente para despertar algo de bom nos corações das pessoas.

Glauber o descreve com o trecho da música “De Toda Cor”. “Sou homem, mulher
igual e diferente de fato, sou mamífero, sortudo, sortido, mutante, colorido, surpreendente, medroso e estupefato, sou ser humano, sou inexato!”

Glauber é um desses orgulhos que os trespontanos tem pelo amor dele pela arte. Pode ser um pouco desconhecida por aqui. A música e os músicos tão talentosos que temos na Capital Mundial da Música são mais divulgados, são mais vistos, é obvio. Porém, o teatro que ganha adeptos e espaço a cada dia mais em Três Pontas, proporciona um novo conceito pela arte de levar a vida numa boa, seja nos palcos ou em qualquer lugar. O teatro inclui, seja homem ou mulher, não importa o sexo e sim a vida nova que às pessoas passam a ter, sendo aplaudidas com ou sem holofotes.

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