Loui Jordan

Esforço. Essa á a palavra que define bem um trespontano que venceu na vida e hoje até já ministrou palestra no município. De origem humilde, hoje aos 32 anos ele pode dizer que saiu da zona rural ainda criança para conquistar o mundo. Sua história é um exemplo de luta, determinação, perseverança e acima de tudo, esforço. Edicarlos Batista de Castro, mais conhecido como Edinho, é formado em Agronomia pela UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais, com Mestrado em agronomia – proteção de plantas e Doutorado em Agronomia pela FCA/UNESP, além de ter passado por estágio na Mississipi State University de setembro de 2017 até novembro de 2018 e Pesquisador na mesma universidade em 2019.

No início queria ser jogador de futebol. Estudou em escola pública. “A gente muitas vezes não gosta de estudar, não gosta de ler. Nossos pais nos ensinaram isso e foi o que aconteceu comigo” resume, para dizer que naquele tempo, os pais davam mais valor ao trabalho na roça do que os estudos. Isso, segundo Edicarlos, se deve ao fato dos pais terem recebido isso também de seus próprios pais. “Eu ouvia também que só seria alguém na vida se trabalhasse duro”, conta.

A cultura como estrutura
Um dos pontos ressaltados por Edicarlos, é a questão cultural da educação familiar e também da estrutura que o aluno ou a maioria dos alunos de baixa renda enfrentam. O fato de muitos jovens estudarem e ao mesmo tempo trabalharem durante o ensino médio e até mesmo fundamental, faz com que ele tenha menos tempo para se dedicar. Outro ponto é o ambiente interno de convívio, a cultura de educação ou o trabalho primeiro e depois os estudos, de alguma forma pesa na criação dos filhos, isso claro no sentido de preparação. “Já as famílias que tem dinheiro, entenderam que o estudo é mais importante. Além da falta de tempo, é preciso quebrar essa barreira dentro de casa também”, essa fala de Edicarlos, deixa claro que a família pode ser e é importante complemento na educação. Atualmente observando tudo que conquistou, Edicarlos se orgulha, afinal de contas ele trabalhava até as seis da tarde, comia alguma coisa e ia pra escola fazer a oitava série. Muitas vezes dormia na aula. “Nunca imaginei sair do país e um belo dia, após três anos de formado no segundo grau, com um amigo fui fazer cursinho em Varginha e depois fiz o vestibular pra engenheiro agrônomo e passei. Foi uma oportunidade da época. Resolvi fazer engenharia e deu certo”, diz Edicarlos.

O engenheiro também já fez cursos de computação, colheu café e trabalho em vários comércios na cidade, mas sempre foi ligado ao campo e por isso a decisão por agronomia. Para formar carreira tem que ter dedicação. Estudou 11 anos depois do ensino médio. Certamente a história deste trespontano quebra barreiras, a dedicação e as oportunidades não desperdiçadas, contam muito pra isso.

Edicarlos Batista “Edinho” ministrou palestra aos alunos da Escola Marieta Castro

Falta de informação e esforço
Quando foi convidado a dar palestra na Escola Estadual Professora Marieta Castro para os alunos, foi como forma de demonstrar que esforço é tudo para quem quer chegar lá. Isso é interessante no seguinte aspecto, talento sem esforço e dedicação, é potencial jogado fora.

Mais vale um aluno “nota sete” dedicado, do que um “nota dez” preguiçoso. O outro fator a ser pontuado é a falta de informação, que aliás, Edicarlos aponta como a maior dificuldade que ele teve. O motivo é simples, o aluno muitas vezes não tem informação do mundo lá fora, em diversos momentos a estrutura que cria várias narrativas, minimiza essas informações úteis como os subsídios das Universidades federais a alunos de baixa renda, a qualidade de professores que em muitos casos são desconsiderados por atuarem em áreas consideradas menos competitivas e claro, a ideia de que a “federal” longe de casa pode custar mais caro que uma particular, próximo da sua residência.

Por fim, a relação da escola com o mundo acadêmico das universidades, não possuem uma comunicação tão eficaz no sentido de se fazer entendido. Contudo, uma peça muito firme no cotidiano de diversos adolescentes, é a falta de confiança. Isso tem um pouco haver com estrutura que o cerca e o esforço aliado a falta de informação. Muito pela seguinte razão, as pessoas acham que conquistar uma vaga ou bolsa de estudos, é uma coisa quase impossível. É visível que a competência pesa, a perseverança também, mas a falta de informação ou a propagação de mensagens que problematizam um sonho ou um caminho, servem de alicerce para uma estrutura desigual.

Resumo de vida
Nasceu em Três Pontas em 1987, cresceu na zona rural. Em 1993 chegou à cidade. Estudou por 11 anos na Escola Estadual Presidente Tancredo Neves. Depois do cursinho passou em três vestibulares UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), UFVJN (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri), e UFV (Universidade Federal de Viçosa). Com esse enredo todo, decidiu ir para UFMG de Montes Claros, Edicarlos passou tanto na UFMG, quando na UFVJN de Diamantina. A opção por Montes Claros foi devido ao custo de vida e lá ele conheceu a FUMP (Fundação Universitária Mendes Pimentel), nada mais é do que uma instituição que ajuda e auxilia estudantes de baixa renda. Na UFMG passou em primeiro lugar e teve bolsa garantida. Chegou aos Estados Unidos sem saber falar inglês, mas em dez meses dominava o idioma. “Alguns dos meus amigos não tiveram a mesma oportunidade que eu” finaliza.