Por Loui Jordan
Em meio a um cenário crítico e extremamente devastado pela pandemia do novo coronavírus, os discursos políticos estão sendo pouco operantes na prática social. O texto não tem o intuito de criticar por criticar ou de elogiar por elogiar, o problema é que a maioria dos discursos políticos apresentam propostas antagônicas se levarmos em conta a cultura educacional e a disciplina brasileira, que não são lá essas coisas. A presente coluna visa o cenário nacional e certas políticas das constituições nacional e estaduais, que isso fique claro, as políticas nacionais e estaduais pavimentam a maioria das decisões da engenharia social.
As incoerências das decisões políticas nacionais
Pelas estatísticas, o Brasil já passou de meio milhão de casos confirmados e mais, infelizmente já passou de 30 mil mortes em decorrência do vírus. Bem, dito isso, as incoerências em algumas decisões políticas acabam naufragando as possibilidades de melhoria a curto prazo.
Vamos aos pontos. Primeiro, existe uma equação lógica, quando se flexibiliza a reabertura do comércio, automaticamente se potencializa o fluxo do movimento de pessoas, afinal de contas, o comércio não iria voltar pedindo que as pessoas ficassem em casa. Segundo, a estratégia de fiscalização foi totalmente por água a baixo, isso porque o Brasil enquanto governo nacional não tem capacidade de fiscalizar a imprudência alheia, às vezes nem a própria imprudência é detectada.
Terceiro e último ponto capital, a escassa harmonia entre os três poderes e entre o presidente da república e os governadores estaduais. É claro, existem mais pontos incoerentes, mas estes aqui pontuados, norteiam a falta de sensatez de certas entidades políticas do Brasil. Se formos analisar, até as prefeituras municipais são vítimas das decisões estatais, elas não têm muito o que fazer, fazem o que podem para tentar reduzir os danos na área da saúde, economia, educação, esporte, lazer e tantas outras áreas.
O discurso político que é ventilado pra baixo e pra cima, é que a população brasileira solicitou a reabertura do comércio, que certa parte da população brasileira é resistente ao uso das máscaras e claro, que a população precisa se conscientizar. Veja bem, primeiro, quem clamou pela reabertura do comércio foram os comerciantes e com o aval das instituições políticas; segundo, quem deveria moralmente distribuir máscaras à população, são as entidades políticas que recebem um imposto recheado do cidadão brasileiro, e terceiro, o governo nacional de algumas décadas pra cá, não investe em consciência, seja o governo qual for, investiu sim em consumismo, investiu sim na velha tática do pão e circo e agora eles querem cobrar consciência de uma cultura que foi fadada à alienação?
Dito isso, o Governo Federal tem contribuído financeiramente. O que é um pouco desentendido, é que existe uma incoerência grave no discurso político, por exemplo, quanto mais se fabricam máscaras, mais os usuários delas possuirão precedentes para sair de casa. Vale lembrar que supermercados, farmácias e padarias, sempre estiveram abertos, porém, os outros estabelecimentos, solicitavam a reabertura, e bom informar, estes solicitantes estavam, estão e sempre estarão no seu direito, porém, não possuem o conforto de ter um estado pujante que fiscalize mais e melhor, eles possuem sim o respaldo formal, mas sabem que se as coisas piorarem, a conta pode sobrar pra eles.
Todos, absolutamente todos, querem ganhar o seu dinheiro e o seu pão de cada dia, mas o problema é que o discurso político aponta um horizonte cheio de expectativa, mas a realidade é broxante. O Brasil nem sequer achatou a tal curva do covid-19, o isolamento social no Brasil é totalmente afrouxado e aí cabe a pergunta: o discurso político vai responsabilizar quem? A reposta é: O cidadão que ele indiretamente estimulou a consumir, inclusive em tempos de pandemia. A maior incoerência de todas é quando o discurso visa os mais pobres, sempre se fala que muitas pessoas vão morrer de fome e que os R$ 600,00 do auxílio emergencial serão fundamentais para que isso não ocorra, mas o governo ajuda para as pessoas comprarem alimento ou sapato?
Pra ficar bem claro, o auxílio é positivo, no entanto, só ajuda a estancar a sangria do problema. Se as pessoas não terão dinheiro para comer, qual a finalidade de ter reaberto o comércio geral, sendo que os mais essenciais sempre estiveram abertos? O comércio geral, no seu todo, precisa também sobreviver, mas o discurso político mascara a capacidade que o estado e que as demais instituições políticas ancoradas nele camuflam. É simples, o discurso agrada a todos e autoriza o fluxo econômico, mas na hora que os números do coronavírus se tornam ameaçadores, culpam a população.
Qualquer comércio tem o direito de reabrir e estar ativo, a questão é que eles estão desamparados, obviamente que eles seguem os protocolos de saúde e prevenção, mas no fundo, se algo der errado, os primeiros a serem fechados provisoriamente serão eles, os estabelecimentos comercias, infelizmente, por uma questão de discurso que não se sustenta na prática social.
A aposta fracassada na consciência da população
Em um certo momento, a discussão foi saúde versus economia, sendo que uma teria vida curta sem a outra, em outras palavras, uma se sustenta na outra. Nessas últimas semanas, muitos municípios e estados fizeram e fazem o uso do toque de recolher. A primeira questão estranha é o seguinte: como o toque de recolher terá efeito massivo sem o decreto de estado de sítio?
Aliás, o estado de sítio no Brasil é decretado pelo personagem principal e maior do poder executivo do país. Essa afirmação tem algumas provocações, a maior delas é que o toque de recolher é facilmente “passado pra trás”, simplesmente pelo fato dele ser brando, dócil e de caráter recomendável. Ele pode sim ajudar, mas a mensuração disso é de difícil acesso, nem se sabe se o contingente fiscalizador é o suficiente para vigiar a “irresponsabilidade” das pessoas.
O toque de recolher é olhado como uma sugestão paliativa e não como uma regra. Você pode imaginar, isso é culpa da população, entretanto, a consciência que falta em alguns maiores de idade, se perde em muitos menores de idade, isso é um efeito escancarado que o Brasil enquanto política educacional falhou, não se deve apenas responsabilizar o estado por tudo, mas o processo educacional formalmente arquitetado pelo estado, tem um valor de preenchimento considerável nessa engrenagem.
Ainda tem as aglomerações que devem ser evitadas. O Brasil caminha para se transformar no país das aglomerações civilizatórias, o país que politicamente não abdicou do Carnaval por uma questão comercial na iminência do contágio interno em solo nacional, o país que politicamente adora advertências verbais e “educativas”, o país que politicamente considera quase tudo essencial “menos” os cultos religiosos, o país que politicamente pode ter o retorno do futebol e mantar as escolas fechadas, esse país politicamente dizendo, definitivamente não estava preparado para uma pandemia, o problema é estrutural, o Brasil não se tornará preparado em 3, 4, 5 meses, o Brasil poderia estar preparado, mas pra isso ele precisaria voltar no mínimo uns 70 anos no tempo e lapidar uma política mais inteligente e decente.
Por fim, no meio desse poço de incoerência chamada política nacional brasileira, o Ministério da Educação (MEC), nem sequer descartou a possibilidade de cancelamento do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), e só uma informação que talvez o MEC não saiba, não está tendo aula presencial no país. Ironia à parte, o discurso político tem o efeito de manipular as massas, prometendo um tal horizonte próspero, mas se olharmos o cenário, o Brasil já é um país com o carimbo de contaminado e nem sinal da tal curva ser achatada, por falar nisso, os especialistas ampliam as possibilidades de pico da pandemia no país da “ordem e do progresso”.
O maior problema é que a maioria dos discursos políticos vendem uma ideia que eles não conseguem bancar na prática, simples assim, era menos arriscado não ter vendido.