Por Loui Jordan

Segundo pesquisa da consultoria JLeiva Cultura e esporte, com união do Datafolha, o levantamento aponta que 32% da população necessita de acesso gratuito aos eventos de cunho cultural. A título de informação, a pesquisa foi feita em 2018 e é intitulada como “Cultura nas Capitais” e foram entrevistadas 10.630 pessoas das 12 capitais mais populosas do país. Curioso, o Cinema é o evento de maior preferência quando se faz necessário o pagamento e fica bem a frente se comparado a idas em museus, teatros e saraus. A cultura de certa forma reflete a desigualdade socioeconômica do Brasil. Os contrastes mostram diversos caminhos incertos, é preciso procurar a melhor solução cultural para todo o público.

Uma coisa é certa, falta sim investimento em cultura no Brasil. No último domingo (03), o tema da tão aguardada redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) foi a “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”. Redações à parte, vale pontuar alguns fatores positivos e negativos sobre o tema, tanto pelo que o cinema possa proporcionar, quanto pelo o que a cultura possa usufruir dessa medida democrática, que é sempre bom ressaltar, se trata apenas de uma proposta de redação, a meta da presente coluna de opinião é destrinchar o assunto caso o mesmo fosse obra da política pública.

Observando a demografia brasileira, o Brasil é um país extremamente grande em extensão territorial e em habitantes. Se embutirmos nessa “equação” o fato do panorama socioeconômico ser consideravelmente desequilibrado, fica evidente o fator econômico na questão do acesso ao cinema. Os preços, o distanciamento, as plataformas digitais, o modernismo com sua facilidade, tudo isso, são “empecilhos” que alteram o número de presentes nas salas de cinema do país. O fato da TV e a internet contemplarem em sua grade filmes, é um objeto relevante a decrescer os índices de acesso ao cinema.

Assim como a TV, os preços de ingresso e a localização do cinema, muitas vezes embutidos em Shoppings Centers, podem ser fatores de uma menor demanda. É claro, existe o “charme” e o apreço em frequentar um ambiente propício para assistir filmes, no entanto, o peso no bolso na maioria das vezes fala mais alto, portanto, para viabilizar a democratização do cinema não seria apenas necessário dinheiro, mas retirar certas dispersões do cotidiano não só brasileiro.

Era uma vez o Ministério da Cultura

Sobre o Ministério da Cultura, já é bom avisar, ele foi extinto pela presente gestão do Governo Bolsonaro, suas atribuições foram inseridas no Ministério da Cidadania, que foi executado recentemente. O Brasil tem sim uma “ala” do governo que cuida da cultura, em escalas menores, mas existe uma ala. A situação é que a cultura tem sido tratada a esmo se comparada a forma ideal que ela deveria ser tratada e potencializada.

O governo sempre terá suas justificativas e elas devem ser vistas e revistas. A extinção já havia sido feita no Governo Temer, mas não foi por muito tempo, o ministério voltou e por incrível que pareça, retornou à extinção esse ano. As coisas podem mudar e tudo pode acontecer, mas é irônico o fato de se tornar público o tema sobre o acesso ao cinema sendo que não se têm uma certa estrutura para trabalhá-lo. Vale frisar, se têm uma certa estrutura para trabalhá-lo, vale frisar, a cultura necessita de uma melhor “receptividade”.

A retirada de jovens do caminho das drogas……….

Uma das justificativas de praxe das propostas brasileiras, é o bônus que o efeito de uma ideia pode ocasionar. A título de exemplo, um maior acesso ao cinema pode significar uma menor abertura para o chamado “envolvimento com as drogas”. Sim, isso é possível, entretanto, a engenharia política deveria ter mais instrumentalização e repertório para reduzir causas e danos de outras esferas, quem deve ou pelo menos deveria ser responsável pelo trabalho de retirar os jovens das ruas, dos ambientes hostis e ameaçáveis para com o seu futuro, são ministérios e organizações governamentais propícias para esse fundamento. A massa política do Brasil deve ficar atenta para não confundir trabalho interministerial, com a incapacidade que determinados ministérios possam ter a ponto de não resolver ou pelo menos aliviar os seus problemas.

Uma ideia popular no Brasil é dizer que o esporte pode ajudar no combate as drogas, principalmente em relação a camada mais jovem da população. Veja bem, é claro que o esporte é um componente que pode ser sim importante, no entanto, ele não foi necessariamente criado para esse fim, há que se deixar claro isso. O problema cultural da política no Brasil, é que ela normalmente oferece respostas subdesenvolvidas para o caos socioeconomicamente desequilibrante do país, isso faz com que o Brasil fique estagnado no subdesenvolvimento. Quando se pensa em uma proposta mais radical, também não fica fácil, pois pode ser pouco rentável para as camadas que solicitam mais efetividade nas políticas públicas.

O conteúdo dos filmes

Uma coisa a ser debatida é sobre os conteúdos dos filmes. A produção interna aparenta ser menos visível do que as produções “importadas” do exterior. O mercado brasileiro em termos de conteúdo, fica atrás do mercado norte-americano. A questão em torno dos filmes está na tipologia em que as obras são delineadas. Atualmente, o cinema está ganhando um grau de entretenimento elevado e esse entretenimento é importante, mas se tratando de Brasil, pode ser um aliado da baixa reflexão sobre as obras de cinema.

Obviamente que tem filmes para todos os gostos e públicos, no entanto, pensar no conteúdo e como aplicá-lo é essencial. Não se trata de querer mudar o mundo com o cinema, mas uma forma de fazê-lo menos pior, mas vale lembrar, para tornar o mundo e a vida menos piores, existem outras plataformas, o problema é que no Brasil vários setores precisam de atenção, não o só o do acesso ao cinema.

Idealidade de cultura

A ideia a ser pensada aqui, é destrinchar a hipótese de uma aplicação do tema de redação do Enem nas práticas públicas. O cinema pode gerar um ganho econômico? Pode, assim como também pode ser irrisório em determinados momentos. A cultura no Brasil foi prejudicada historicamente pela educação, a cultura em valores qualitativos está em xeque há muitos anos.

O que se cultua na maioria das vezes em solo doméstico são apenas propagandas políticas e manifestações grupais. Falta o cultivo, o melhoramento contínuo. É necessário pensar na forma, conteúdo e performance. Alavancar os rumos culturais é uma missão de cunho político e populacional, o Brasil deve pensar no Cinema sim, mas em outras frentes também e mais do que isso, saber que o efeito de uma democratização em um país subdesenvolvido e que não ostenta tamanha educação e cultura política, pode ser algo que sirva como cortina de fumaça. Enfim, a ideia de democratização do acesso ao cinema pode ficar só nas redações de um exame, ao mesmo tempo pode ajudar de forma ínfima se tratando da realidade do país, o que importa é não deixar essa idealidade se tornar algo comum e sem real valor na cultura que pode ser usada de utensílio de um progresso nada promissor aos olhos de uma história que está em cena há anos.

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