Por Loui Jordan

Uma das missões de entidades como o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Prefeito Manoel Jacinto de Abreu Filho de Três Pontas é quebrar algumas barreiras ainda existentes na sociedade. Nesta sexta-feira, dia 17, usuários e pacientes participaram de um piquenique na Praça Prefeito Paulo de Paiva Loures, a Praça do Centenário. O acontecimento encerrou a semana de comemorações do Dia da Luta Antimanicomial, celebrado todos os anos em 18 de maio. O objetivo é conscientizar e mobilizar a população contra o preconceito aos doentes mentais.

A terapeuta ocupacional do CAPS, Monna Lisa Duarte de Castro, conta que foram realizadas palestras nas escolas Cônego José Maria e Cônego Victor. Nas escolas de ensino fundamental, foi exibido o filme brasileirao “Nise da Silveira: coração da loucura”. “A gente tentou fazer uma programação de lazer e interação com os usuários e pacientes. Eles foram passear em Poços de Caldas, visitaram um sítio na zona rural, participaram de um forró e hoje (sexta-feira), estamos juntos com as crianças das Escolas Cônego José Maria e Cônego Victor aqui na Praça do Centenário”, contou. Pacientes e crianças se assentaram no jardim e compartilharam de lanches e guloseimas. Eles receberam o carinho da comunidade e um tratamento mais humanizado.

Equipe de profissionais, usuários e pacientes do CAPS

CAPS promovendo laços sociais

Quando o CAPS se propõe a fortalecer laços sociais, nada mais do que necessário é a participação da sociedade nesse tema. O Centro de Atenção Psicossocial, atende não só a comunidade como um todo, mas possui um outro núcleo de atendimento. “O CAPS é dividido em dois setores. Nós temos o atendimento ambulatórial, que atende a comunidade em geral, e nós temos o CAPS em si, que é a parte de dentro, onde nós atendemos cerca de 25 usuários. Eles chegam na unidade as 7:00 horas da manhã, tomam o café da manhã, fazem atividade durante a manhã toda, como artesanato, de autocuidado e atividade motora. Depois de almoçarem, eles tem atividades pedagógicas”, declarou Monna Lisa.

De acordo com a terapeuta, os passeios trazem benefícios mútuos, tanto pensando nos pacientes como na sociedade e no olhar dela para eles. “A gente tem um projeto que é o do atendimento externo. Nós levamos eles para fazer os passeios, terapêuticos para que eles convivam mais no meio da comunidade”, explica.

Por uma sociedade sem manicômios

Para entender um pouco da Luta Antimanicomial, é preciso compreender os contextos históricos e sociológicos. Em um passado não tão distante, alguns institutos servirão de “prisão” para pacientes com diversas situações que fugiam do comportamento normal e claro, indignavam os seus “malfeitores” ou se preferir uma palavra menos ofensiva, os seus “cuidadores malvados”.

Muitas coisas foram silenciadas, até que um dia, as feridas foram expostas. O caminho percorrido é longo, o encontro dos Trabalhadores da Saúde Mental, na cidade de Bauru, em 1987, foi um marco muito relevante para a história. É devido a este fato, que o dia 18 de maio, é considerado a data oficial da comemoração do Movimento Antimanicomial. Em um breve resumo, lutar pelos direitos de quaisquer pessoas com sofrimento mental, ou algo do gênero, é o alicerce que opera toda a ideia de pessoas viverem em liberdade, com direito a cuidados, a tratamentos que visam olhar e zelar pelo ser humano.

Todo esse movimento que começou na década de 70, com a Reforma Psiquiátrica, ganhou mais força com a Reforma Sanitária. Assim, as garantias institucionais sobre o direito à saúde que todos possuem através do Sistema Único de Saúde (SUS), acoplado com a Reforma Psiquiátrica, que chancelou e assegurou segundo a Lei 10.216/2001, por tanto sancionada há 18 anos, se refere aos direitos e proteção das pessoas com transtornos mentais.

Isto representa um marco justo, digno e legal. Hoje em dia, o preconceito ainda está vagando por aí, por mais que os órgãos competentes e as instituições que cuidam desta causa, é muito difícil não distorcer ou deixar essas questões de lado, pelo menos é que pode-se interpretar na fala de Monna Lisa a respeito do preconceito. “O preconceito ainda existe sim, só que a gente vê que tem melhorado também. Cada paciente que está em surto, as pessoas se assustam mais, mas hoje em dia a gente está fazendo um trabalho já faz alguns anos, de convivência. A gente vai no supermercado, na farmácia, a gente vai em todos os lugares da cidade com eles para que a população conheça e pra que perceba que eles podem conviver normalmente, mas o preconceito ainda existe sim. E a gente vê que o preconceito ainda é muito mais do adulto, do que da criança, então a criança está muito mais aberta a receber o diferente, do que o adulto”.

O lema “por uma sociedade sem manicômios” é dos tempos das reformas em âmbito psiquiátrico, no entanto encaixaria nos parâmetros atuais. Não se trata apenas de excluir os manicômios, mas também de criar um conceito mais humano na sociedade. Sabe-se que o Brasil é um país com muitos problemas, a Luta Antimanicomial versa de acordo com a demanda social, muitas vezes o manicômio pode estar mais perto de nós, do que imaginamos, preconizar um ambiente e um convívio sem “legendas” nas pessoas, é o que o diferente se difere do inferior, afinal de contas todos somos diferentes em nossas necessidades de igualdade.