O mercado de café está bastante aquecido. Desde o final de 2019 os preços vêm se tornando cada vez mais atrativos e o produtor comemora o maior valor nominal já pago por uma saca de café comercial. Só que o alto valor da saca começa a demonstrar que o cafeicultor precisa ter cautela e muito conhecimento da gestão do seu negócio, pois o mercado de café é muito incerto e volátil e é necessário entendê-lo a fundo para não correr riscos desnecessários.

O mercado futuro, se bem utilizado, é uma ferramenta muito importante para o cafeicultor, pois permite maior controle dos custos de sua produção, uma vez que é possível travar o valor que ele considera interessante para cobrir os custos e ainda garantir uma renda para os anos seguintes. Para tanto, alguns fatores devem ser levados em conta. Primeiramente é absolutamente necessário que se conheça muito bem a sua lavoura, porque para os contratos futuros é imprescindível que o café seja entregue dentro dos padrões acordados previamente. Clima, intempéries, pragas, tudo isso pode interferir na safra e são riscos que devem ser levados em conta. Por isso, ter consistência na produção é fator chave para se fazer uma venda futura e ter absoluta certeza que terá o café para entregar e cumprir o contrato.

Outra modalidade futura que vem sendo muito utilizada pela Cocatrel é o barter. Através das trocas, o cooperado pode comprar os insumos necessários para a lavoura e pagar com café. Atualmente como os bons preços do grão, a paridade está bastante favorável para o produtor, que compra seus insumos agora, sabe exatamente a quantidade de sacas que precisará para pagar e paga no ano seguinte, em café. Isso melhora demais o controle da produção e também a gestão da propriedade.

A Cocatrel é reconhecida por ser bastante segura e por vezes até conservadora em relação à liberação de limites para os cooperados. Na minha visão, o que a cooperativa vem fazendo é auxiliar os produtores a fazerem gestão. Não se deve nunca apostar toda uma produção no mercado futuro, seja ele o termo ou o barter. Vamos pensar que há dois anos não imaginávamos que teríamos o mercado tão bom quanto está hoje. Muitos produtores comprometeram boa parte de suas safras acreditando que R$600 por saca era um valor interessante. Hoje o preço físico está em torno de R$900 para uma saca de café bebida dura, tivemos uma forte seca e agora há o risco de o produtor não ter como entregar o café acordado. Imagina se não houvesse um limite criterioso e a Cocatrel permitisse que o cooperado utilizasse 100% de sua safra em vendas futuras. Será que não estaria sendo conivente com uma situação que coloca o produtor em risco? O cooperado da Cocatrel comprometeu, entre barter e termo, em torno de 40% da safra, o que o permitiu ter os insumos para realizar os tratos nas lavouras na hora certa, garante que ele tenha o café para cumprir seus compromissos e ainda permite que ele consiga negociar 60% da sua safra no mercado físico, vendendo a maior parte dos seus cafés a R$900 ou mais, caso os preços continuem subindo.

Já ouviram falar do mundo VUCA? É o mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo no qual estamos vivendo hoje. O mercado de café também é assim e não podemos jogar. Temos que ter informação e conhecimento suficientes para não cairmos em armadilhas que a princípio podem nos parecer atrativas, mas que quando analisadas mais profundamente, podem causar muitos problemas no futuro. Nesse mundo VUCA, de extrema competição, a credibilidade, a segurança e a transparência são grandes diferenciais. As empresas compradoras de café, seja no Brasil ou no mundo, confiam na Cocatrel para se fazer negócio, confiam na idoneidade e no compromisso que a cooperativa tem em cumprir seus acordos, em garantir a entrega dos cafés na hora certa. Nossos cooperados confiam na Cocatrel para armazenar e comercializar seus cafés e estão se mostrando cada dia mais fiéis. Perante o mercado, os cooperados são reflexos da cooperativa e vice-versa. Por isso, neste momento, não adianta brigar para mudar os contratos firmados anos atrás. O importante é olhar para frente e não permitir que a cafeicultura brasileira perca a credibilidade perante o mundo; vale sim, fazer uma análise do que aconteceu e levar isso como um aprendizado.

Marco Valério Araújo Brito
Presidente da Cocatrel 

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