O presidente da Associação Comercial e Agroindustrial de Três Pontas fala sobre os efeitos da pandemia e os desafios para enfrentar o novo e incerto cenário

Bruno, com a flexibilização das medidas sanitárias por conta da melhora dos indicadores da pandemia, já é possível dizer que a situação se normalizou?
Normalizou na saúde. Não normalizou nas empresas, pois o cenário inflacionário mudou a dinâmica empresarial. Melhorou a frequência de clientes nas empresas, mas o cliente está muito cauteloso quanto às suas escolhas de consumo.

O comércio sempre enfrentou dificuldades pontuais como o crescimento do
desemprego, o aumento da inflação, na nossa região a desvalorização no preço do café, por exemplo. A pandemia superou tudo isto?
Sim, inicialmente. A pandemia foi muito desafiadora pois não tínhamos panorama nenhum, mundialmente falando, muitos setores tiveram que ficar parados desnecessariamente, e isso causou perdas que até hoje são irreparáveis para muitos empresários, da mesma forma que ela obrigou muitos empresários a realinharem as velas de seus negócios e até mesmo mudarem de segmento. Foi um desafio que alguns setores superaram bem, souberam inovar, aproveitar a mudança de hábito de consumo, a preocupação do cliente com segurança e saúde, e se consolidaram muito bem com esse movimento. Vejo que a geada e o déficit hídrico também serão desafios grandes na cafeicultura que teremos pelo futuro, comparados a proporções parecidas para alguns produtores de café ao da pandemia para alguns empresários. Novamente, teremos que nos reinventar para superar esses desafios.

Qual foi a postura que os empresários e comerciantes tiveram que adotar para manter seus negócios e conseguir vencer este período tão caótico?
A postura sempre foi, primeiro, em favor da saúde, e ao bem de nossas famílias, de nossos colaboradores e clientes. Esse movimento todo, mais as regras impostas pelo Estado e vigilâncias sanitárias locais, nos impactou em maiores custos, diminuição de margens e menos vendas. Muitos empresários tiveram que vender patrimônio para se manterem ativos, pegar empréstimos, diminuir equipes, cortar muitos custos e serviços, e alguns acabaram por vender suas empresas.

Qual o maior desafio que a Associação Comercial enfrentou neste período da pandemia?
As incertezas, as regras impostas que não tinham um porquê justificável, a comparação de empresas que não podiam ficar abertas que pareciam muito com perfis de empresas que estavam abertas. Os governos não entendiam uma forma inteligente de manter o ser humano com menos contato. Eram muitos ângulos de visões divergentes, onde a razão de saúde e finanças colidiam fortemente. Na nossa ótica era manter todos trabalhando, porque em casa ele acabaria por encontrar com familiares e dentro das casas não é cobrado rigor como em empresas, como uso de máscaras e limpezas de mão e estruturas. E o empresário que estava desesperado, com razão, cobrando muito localmente, quando na realidade era uma decisão que precisava ser coordenada por governos estaduais e federal, já que o Sistema Único de Saúde é federal, e vivíamos uma pandemia de Saúde. Quando as coisas foram dividindo por regiões, foi ficando mais assertivo, pois aí dependia da microrregião de Saúde e do hospital da localidade e suas cidades vizinhas. Aí nossa Santa Casa, nossos médicos e equipes, graças ao bom trabalho que vinha sendo executado estava em melhores condições para enfrentar o desafio e nossa cidade fechou pouco em vista de cidades do nosso porte.

Houve crescimento muito grande da venda pela internet, durante o período em que a pandemia estava limitando muito. De que forma isto prejudicou o comércio de Três Pontas?
Prejudicou muito, pois os consumidores aprenderam a praticidade de comprar pela internet, e muitos gostaram da ideia. Tem sido uma tecla que temos batido muito dentro da AcaiTP, alertar nosso associado que a internet é um oponente invisível que vem tomando nossa venda sorrateiramente. Isso enfraquece muito o comércio local, e precisamos alertar a clientela que a vantagem de comprar aqui é lidar com garantia do produto, escolher melhor a especificação, troca mais facilitada, informação e segurança na aquisição, entre outros benefícios. Inegavelmente temos que entrar na internet com nossos negócios, ou nos prepararmos de uma forma diferente em nossas lojas para recompor essa fatia tomada por esse meio de fornecimento.

Isto obrigou muitos comerciantes a repensarem seus negócios, a se modernizarem e venderem pela internet?
Sim, muitos estabelecimentos mandaram muito bem e até mesmo aumentaram seu faturamento e fornecem para locais além de nossa cidade. Descobriram novos nichos.

Você acredita que houve algum setor específico que tenha sido beneficiado durante a pandemia?
Sim, em um primeiro momento as empresas que se mantiveram abertas, construção civil e móveis principalmente. Estando em casa as pessoas investiram mais em seus home offices, salas de televisão, melhoraram o lazer e alimentaram melhor. Porém a escassez e volatilidade das mercadorias ruiu com boa parte dessa precipitação de faturamento inicial. Hoje vejo que apenas alguns setores que lidam com insumos para medicina saíram muito bem, e setores que vendem pela internet já bem consolidados também decolaram.

E qual foi o mais prejudicado?
Quem lida com eventos, bares, restaurantes, academias, clubes e salões.

Qual foi a importância do Governo Federal para melhorar a questão econômica, quando pagou o auxílio emergencial no Brasil?
Gerou uma circulação muito forte de recursos de uma classe que realmente consome muito e não retem recursos, pois a necessidade de consumo para subsistência é muito forte e toma muito do poder de compra das classes mais simples. Foi muito importante, deu uma sobrevida e em muitos casos os empresários conseguiram se reerguer dos dias parados. Vi muitos relatos assim, pois os clientes voltaram ao consumo com muitas carências em cuidar de si e seus lares principalmente.

Você acha que é necessário que ele ainda seja pago?
Creio que é preciso melhorar a condição do empresário, o Pronampe ajudou mas precisamos de menos custos, menos obstáculos que o governo impõe, como o excesso de burocracia e impostos. Trabalhamos meio a um manicômio tributário. Fazendo isso, podemos até um dia melhorarmos os salários de nossas equipes e aumentar o real benefício que é de quem trabalha e é produtivo. Não sou a favor de premiar quem está parado sem motivo justificado. Existe muita gente infelizmente que se apoia nesses benefícios para ficar sem trabalhar e ser produtivo. Mas de modo geral, aquece sim a economia, distribui renda, porém a custas pesadas para nós que pagaremos esse dinheiro de alguma forma. Se esse dinheiro fosse pago com a economia de um governo enxuto em seus custos, seria o melhor cenário. Mas o establishment dificulta isso acontecer.

Para o setor de supermercadista que você atua, ele foi mais importante ou
movimentou todos os setores de forma igualitária?
Foi muito importante para supermercados sim, pois alimento é a primeira necessidade. Movimentou muito construção, móveis, eletro e farmacêutico também, a atenção voltou para as casas, saúde e viver a vida bem, a reflexão da doença nos deu mais valor à vida e o que fazemos dela.

Nos últimos anos chegaram a Três Pontas grandes redes de supermercados e farmácias. Estabelecimentos tem procurado se juntar em associações do ramo. Isto prejudica pequenos estabelecimentos ou aqueles que são independentes?
Prejudica, mas ao mesmo tempo nos cobra ser mais ativos e unidos. Nós temos que nos filiarmos a redes do nosso segmento para competir com esses players de fora, melhorar o network, temos que estar junto da associação comercial local para entender nosso cliente melhor que o concorrente de fora. É assim que faremos resistência e nos destacaremos frente a eles. Temos que aprender a conviver, entender nossas potencialidades e as fraquezas do concorrente e seguir em frente! É preciso se aperfeiçoar, atualizar, aumentar o raio de ação, a concorrência nos põe pra frente também, a sermos mais ousados. Não dá para segurar a vinda dessas empresas pra cá, nossa região economicamente é umas das melhores do Brasil, então estão vindo pra cá, temos agora é que aprender a lidar. Isso tem ocorrido com mercado, farmácia, roupas, bancos, etc.

A questão dos impostos e tributos. O setor comercial e industrial teve algum benefício neste período? O que foi?
Muito baixo no sentido de reparcelamento com pequenos descontos de multas e juros. É preciso mais que isso.

Você e membros da diretoria da Associação Comercial estiveram em Belo Horizonte se reunindo com o deputado estadual Mário Caixa. Qual o motivo deste encontro com o deputado trespontano?
Mostrar a realidade dos nossos empresários, no sentido dele sensibilizar a câmara de deputados e as lideranças do governo do Estado que nossa situação é delicada, e no que tange a parcelamento de impostos, alongar, perdoar multas e juros nesse período. E também sobre o Pronampe, iniciar um movimento no estado para o reparcelamento, pois precisamos realinhar nosso fluxo de caixa com as variáveis impostas pelo novo e incerto cenário, onde a inflação nos impôs a aumentar muito nosso estoque em valor, não em quantidade e os desafios ficaram muito maiores que antes. A Federaminas nos acompanhou, foi muito proveitosa a visita, mostramos que é preciso repactuar a maneira de encarar as empresas, assim como um aluguel, que foi trocado de índice porque as coisas se destemperaram, temos que chamar o governo para repactuar nossas obrigações para com ele.

Falando em datas comemorativas, qual foi a mais prejudicada, que o comércio em geral vendeu menos durante a pandemia?
Carnaval e Festa do Padre Vitor.

A expectativa para as festas de Natal e Ano Novo é de melhoria nas vendas?
A expectativa é melhor, as regras já estão mais flexíveis e as famílias finalmente devem se reencontrar para uma ceia natalina e festejos de ano novo. Não deverá ser tão farta, pois muitos alimentos natalinos subiram na ordem de 25 a 30%, bebidas subiram um pouco também. Pelo que tenho acompanhado, o crescimento real deve ser perto de 4,3%, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

A Associação Comercial fará alguma promoção ou ação para fomentar as vendas neste período festivo?
Está sendo executada uma campanha que premiará 5 vales-compra para os consumidores que tirarem fotos mais criativas no comércio local com tema da decoração natalina. Isso será reforçado com a campanha do município que é de premiar as empresas mais bem decoradas de tema natalino, ou seja, as empresas terão um prêmio do município para se enfeitar, e o consumidor do comércio local que tirar uma foto criativa no comércio associado decorado será premiado também, nesse caso pela Associação Comercial.
Teremos uma super palestra no dia 25 de novembro para os interessados sobre inovação e modos de encarar o futuro, com Walter Longo, uma referência nacional no tema. Essa palestra é imperdível para prepararmos nossos empresários e equipe para vender muito no Natal e os próximos passos para o futuro, já que ele é fera em tendências e inovação. É uma parceria da Associação e Sebrae.

O isolamento social fez com que dezenas de festas deixassem de ser realizadas. Qual sua opinião sobre este fim de ano, o cenário voltará à sua normalidade?
Voltará sim, as pessoas estão com saudade de sair e encontrar os amigos e comemorar muito.

O trabalho realizado pela Prefeitura de Três Pontas, no que se refere às restrições no período de pandemia e fiscalização das normas que foram impostas à época, ficou satisfatório na visão da Associação Comercial?
Em alguns momentos divergimos bastante, queríamos fechar menos, flexibilizar academias, bares e restaurantes, mas encontramos resistências. Mantivemos o dialogo constante, tomamos muitas decisões assertivas em conjunto e dividimos responsabilidades, inclusive com a classe médica. Foram solícitos em nos receber sempre que precisamos. Empenhamos nossos melhores esforços para garantir as empresas abertas e fluindo, nunca abrindo mão da saúde.

O que você espera de 2022, quando a gente já deve estar totalmente livre da pandemia da Covid-19?
Espero um ano mais leve, que continuemos cuidando de nossa saúde mental e física. Espero que a inflação normalize, que voltemos a ter um panorama de crescimento e prosperidade. Que possamos trabalhar com amor e dedicação, manter nossos lares unidos, nossa cidade próspera e sustentável, crescendo com sabedoria e entrosamento das lideranças.

Qual a sua mensagem?
É de otimismo, que aprendamos com as lições dos anos duros que passamos. A dificuldade e o desafio ensinam muito, acredito que sairemos muito melhores disso tudo, mas depende de nós aplicarmos os aprendizados, desacelerar para sermos mais humanos e respeitar nossos limites, sermos educados e amar nossa terra, ter empatia. Torço para que as empresas se recuperem, o governo aprove reformas, e que consigamos melhorar o ambiente de nossas empresas para nós empresários, nossos colaboradores e principalmente nossos clientes. Um forte abraço a todos com gratidão pela oportunidade de expor um pouco a vocês nosso posicionamento como Associação Comercial. Agradeço à diretoria, colaboradores e associados pela união e compromisso sempre.

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