Foto destaque: Arquivo EP 2018

 

Três Pontas possui um espaço de lazer que há muitos anos está abandonado. Sem investimento, o Parque Vale do Sol, que já serviu de diversão e rereação para muitas famílias, principalmente nos fins de semana na década de 90, está fechado. O espaço inaugurado na gestão do ex-prefeito Nilson José Vilela, que já abrigou animais em um zoológico, teve pedalinhos e uma estrutura de bar, foi sendo esquecido pelo Poder Público ao longo dos anos.

Se tem uma pessoa que lembra bem desta obra, é o filho do ex gestor, o arquiteto Gilmar Azevedo Vilela (foto). Aos 60 anos e com experiência em atuar no poder público, ele lamenta que os objetivos que seu pai tinha para o Vale do Sol não foram mantidos e o espaço deixou de ser prioridade aos sucessores. Gilmar Vilela foi secretário geral na gestão de seu pai, Nilson Vilela, entre os anos de 1989 e 1992. De 2001 a 2004 cumpriu o mandato de vereador. Entre 2005 e 2008 foi Chefe da Divisão de Meio Ambiente no mandato do ex-prefeito Paulo Luis Rabello. Em 2009, foi convidado pelo prefeito Fausto Mesquita Ximenes a ser secretário de Planejamento em Três Corações. Depois, deixou o setor público e se dedica até hoje a sua profissão de arquiteto.

Gilmar, o Parque Municipal Vale do Sol foi inaugurado no final da Administração de seu pai, Nilson Vilela. Quando foi e com quais objetivos?

O Parque Vale do Sol foi um compromisso de campanha de meu pai. Ele quando fez campanha, aliás bastante acalorada, prometeu que faria um parque naquele lugar. E ele entregou a obra praticamente no último dia de mandato. As obras começaram no último ano de mandato e foram concluídas a tempo, cumprindo seu compromisso. O prefeito era muito preocupado com a população mais simples da cidade. Ele dizia que os mais abastados tem a praça de esportes, as fazendas com suas piscinas, tem dinheiro para viajar, mas os mais simples não tem opção de lazer na cidade. Então ele cuidou muito dentro das possibilidades do Pontalete, que era e ainda é uma grande opção de lazer. Começou na época com o ex-prefeito Carlos Mesquita e o Nilson Vilela continuou. E cada prefeito que vieram a seguir deram atenção ao Pontalete e fizeram sua parte. Hoje o Distrito é um lugar muito agradável. Voltando a falar do Vale do Sol, era uma opção principalmente para o fim de semana, para levar os filhos e a família. No local tem a represa não apenas contemplativa, mas tinha o porto de pedalinhos, bar, lanchonete, quadras esportivas de areia de futebol, peteca e vôlei. Havia o zoológico com os animais, a mata que foi toda trilhada e as árvores todas identificadas, para as pessoas aprender questões ambientais, o lago tinha a pista de caminhada no seu entorno, os caramanchões com churrasqueiras. O prefeito queria que as famílias se reunissem lá e aproveitassem do espaço. Na sequencia a gente percebeu uma deteriorização do parque. Incendiaram os caramanchões, que eram muito bonitos, e com isto o Parque foi sendo dominado por um mau uso, usuários de drogas foram se alojando, o zoológico foi extinto, por determinação do IBAMA de não ter mais os animais.

Na época do primeiro mandato do ex prefeito Paulo Luis Rabello, eu trabalhava com ele e ele me chamou para cercar o parque. Ele quis renovar e revitalizar o Vale do Sol e começamos por cercá-lo. Colocamos  a Guarda Civil Municipal e se tentou dar uma alavancada no parque.

Passados os anos o zoológico foi fechado, o local abandonado e houve depredação. Depois um Centro de Reabilitação ocupou o espaço, desviando dos seus objetivos iniciais. Por que você acha que isso aconteceu? Houve falta de interesse das administrações posteriores em manter a estrutura?

Quando você quer manter algo é preciso cuidar. Os espaços públicos tem que ser cuidados pela Administração pública. Com certeza faltou interesse como priorizar aquele espaço. Porque se tivesse os cuidados necessários não tinha chegado ao ponto que chegou. É como as praças públicas. Se você deixar elas vão se deteriorando e acabando, pelo próprio uso, pela própria depredação da população, que as vezes não tem a educação necessária para conservá-la. Eu entendo que locais e espaços públicos precisam ser bem tratados, ainda

“Eu entendo que locais e espaços públicos precisam ser bem tratados”

que se enxugue gelo. Que você arrume hoje e vai estragar amanhã, mas tem que continuar. Não se pode abandonar o espaço público. Porque se começa a acumular os problemas … como naquela época: queimaram os caramanchões, não fizeram outros, queimaram a ‘casinha’ não fez outra, os usuários de drogas ocuparam o lugar. Se não cuidar, chega em um ponto, numa situação que fica muito caro para a própria Administração colocar recursos. Eu entendo que faltou uma continuidade. O espaço teria que ter sido preservado como espaço de interesse público. Não foi prioridade nos governos a frente.

Você tem algum ressentimento de lá não terem conservado esta obra feita pelo seu pai?

O objetivo dele não foi alcançado. Acredito que se tivéssemos um espaço público apropriado as pessoas iriam frequentar. Não entendo qual foi a dificuldade, naturalmente os próximos administradores poderiam explicar porque não houve o cuidado necessário. Se foi falta de recursos, se tiveram outras prioridades. Mas eu não tenho ressentimento, eu lamento pela população que perdeu um espaço que era dela, que poderia ter hoje uma pista de caminhada na sequencia das a avenidas Oswaldo Cruz e Nilson Vilela. Poderia se criar um projeto para que a pista de caminhada chegasse até o parque, lá poderia ser ampliado inclusive aproveitando o espaço com a água. Existe até projeto de estudantes de arquitetura que fez para lá.

Nas redes sociais, as pessoas comentam que o Vale do Sol poderia ser revitalizado. Você acha viável? 

É um espaço muito bonito. A gente tem lá os ingredientes básicos para fazer um espaço que seja interessante. Tem área, tem água, que sempre onde se tem um espelho d’água é sempre um espaço já de motivação e as pessoas gostam. Temos árvores, tem área para planejar qualquer outro equipamento público que se achar necessário. Ainda que possa ter alterações, porque muitos anos se passaram, as pessoas podem se interessar por outras coisas. Mas é claro que é viável, é um espaço de lazer e as pessoas precisam disso.

Em algumas cidades de maior porte um dos locais mais valorizados para a população são os parques ao ar livre, com espaço para exercícios físicos e lazer com a família. 

Com certeza. Posso citar um exemplo que quando fui um membro da equipe de planejamento da Prefeitura de Três Corações em 1982, nós éramos uma equipe multidisciplinar com vários profissionais. Eu era arquiteto urbanista daquela equipe e nós convencemos o prefeito Ailton Vilela a comprar aquela área onde está o Pelezão. Onde está aquele Ginásio Poliesportivo hoje, era um imenso pasto. A gente convenceu ele de acordo com estudos de urbanismo que era uma área muito apropriada. Vai lá ver o que se tornou e o que existe no entorno. Eu fiz o projeto semelhante com este espaço que temos aqui.  Tem o lago e tem as pistas de caminhada iluminadas até por questão de segurança. Lá tem a Guarda Municipai no local, tem quadras poliesportivas, tinha até pista de kart. Ou seja, se você cuidar dá certo. É como uma planta, você tem que cuidar se não ela morre.

Recentemente em Ribeirão Preto foi inaugurado um parque em um espaço como o Vale do Sol. Cercado por tela e com iluminação baixa, proporciona às pessoas horas de lazer, caminhadas e corridas em volta do lago e funciona das 6h às 22h. Uma sede da Guarda Municipal foi montada dentro do Parque para evitar depredação. Você acha que funcionaria em Três Pontas? 

Sim. Claro. Tem que cuidar também da segurança e a Guarda Municipal pode trazer esta segurança, que na época a gente não tinha. Numa tentativa de revitalizar o parque, o ex prefeito Paulo Luis até construiu uma guarita para os guardas ficarem lá. É claro que lá precisa de investimento e eu acho que fazer gestão junto ao governo federal e estadual, com os deputados acho que é possível conseguir recursos sim, para revitalizar e fazer funcionar efetivamente.

Considerações finais.

Eu espero que se recupere o Parque Vale do Sol, porque quem tem a ganhar é a população. O espaço está lá, ele não se perdeu, está esperando investimento. Oferecer aquilo que já existe lá e trazer algo novo vai ser um ganho enorme. Eu acredito e espero que dêem a atenção merecida, porque a cidade vai agradecer.