A onda roxa do Governo do Estado de Minas foi adiada até o domingo de Páscoa, dia 04 de abril. A manutenção das medidas mais restritivas do plano Minas Consciente até lá, tem a mesma justificativa: restabelecer sua capacidade assistencial à população. A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) estima que os resultados do isolamento aparecerão com, ao menos, 14 dias de onda roxa nos municípios mineiros.

As medidas são reavaliadas a cada sete dias pelo Comitê, considerando indicadores como taxa de óbitos, número casos e ocupação de leitos. Na próxima quarta-feira (31), o grupo se reúne para decidir as orientações a serem seguidas após o feriado da Páscoa.

De acordo com o professor de epidemiologia, saúde coletiva e políticas de saúde, da Universidade Federal de Alfenas (Unifal – MG), Sinézio Inácio da Silva Júnior, o sul de Minas permanece com tendência de crescimento de casos confirmados, internações e de mortes. Ele falou à Equipe Positiva deste momento de pandemia e atualizou o cenário, reforçando que para amenizar a situação será somente com isolamento, medidas sanitárias e vacinação. Sinézio é farmacêutico-bioquímico, e cientista social com mestrado e doutorado.

Qual o resultado desta uma semana de onda roxa no Sul de Minas?

Fazendo um balanço dos dados registrados até nesta quarta-feira (24), uma semana depois do início da onda roxa, o sul de Minas permanece com tendência de crescimento na média semanal de casos, internações e mortes (comparando com 14 dias antes).

Este é o resultado esperado? Por quê?

Esse resultado é frustrante, mas não surpreende, porque os efeitos da onda roxa, se houver, se farão sentir a partir da semana que vem e de uma a três semanas depois do término desse período de maior restrição. Lembrando que, se se mantiver o índice de isolamento social atual, medido em 20 de março pela SES-MG, de 32% no sul mineiro, dificilmente teremos maiores efeitos, especialmente considerando a circulação da variante mais transmissível. Para o isolamento social ser efetivo, esse número deve ultrapassar 60%.

No Sul de Minas existem realidades diferentes de uma cidade ou região com a outra. O porquê deste contraste?

Há cidades que estão mais perto e integradas a importantes eixos rodoviários e fluxos comerciais, turísticos e sociais com o estado de São Paulo e Rio de Janeiro, principalmente. Nesses casos, a circulação de pessoas não residentes é mais intensa. Isso ajudou a pandemia começar mais forte nesses locais e facilita a chegada de variantes mais transmissíveis. Mas, atualmente, esse não é mais um fator tão importante, sendo mais significativo o que cada Prefeitura está fazendo em termos de prevenção. Além do tamanho do comprometimento da população com o controle da doença, a estrutura demográfica, se tem mais ou menos idosos, por exemplo, também é importante. Mas nesse aspecto, a região é bem mais homogênea do que outras do estado. No caso de cidades menores, pode haver uma maior proporção de idosos. Mas, não só nestas. Poços de Caldas, por exemplo, entre as dez maiores, tem significativa maior proporção de idosos. Nas menores cidades é que se encontram as maiores letalidades (número de mortos entre os doentes). Isso é influenciado pelo fato de algumas localidades serem mais distantes de hospitais de referência e pela rapidez maior ou menor das equipes de saúde locais em detectar os casos e suas gravidades. A atividade econômica predominante, se é mais turística, industrial ou agrícola, também vai influenciar o ritmo do aumento de casos. Tem também o fato de se a cidade tem ou não um contingente populacional importante que trabalhe em outra cidade, e se desloque para isso.

O senhor acredita que a onda roxa pode ser estendida pelo Governo do Estado?

Essa é uma grande dúvida, aliás a maior e pior delas. Porque não acredito, infelizmente, que teremos grandes resultados. Devido ao grau de adesão, circulação de variantes mais preocupantes e ritmo da vacinação. Aí, o mais correto seria insistir na medida, mas a população está muito esgotada, há muita contradição de lideranças políticas e falta de exemplo. Desde as mais altas autoridades até o cidadão comum.

Na sua opinião, a onda roxa não deveria ser implantada por regiões como estava ocorrendo, ao invés de ser estabelecida em todo o Estado?

Essa é uma dúvida importante. Minha resposta é não, devido ao momento atual. No Brasil, nem em Minas houve lockdown verdadeiro. Daí que prolongamos nosso sofrimento. Mas, além disso as medidas de restrição quando uma epidemia está tendo sustentação comunitária (os casos se reproduzem a partir da própria população local e não são provocadas por casos importados) a melhor estratégia é em todo o território serem adotadas medidas iguais ou muito semelhantes. Ainda mais em Minas Gerais que tem grande número de municípios muito próximos entre si. O fato de um local restringir mais, muitas vezes significa que o problema vai ser transferido para o vizinho que restringiu menos e depois tem a volta. Além disso, como falado, precisamos de união e exemplo. Se um lugar restringe mais e outro vizinho não, a população fica questionando e fica desestimulada. Mas, até que a vacina faça efeitos, inclusive no ritmo de novos casos, é estratégico as medidas serem tomadas em sintonia. O vírus não respeita fronteira.

O que a população pode contribuir para que o cenário positivo da pandemia possa ocorrer?

Exemplo de cada um. Se uma pessoa não usa máscara, aquele que estava em dúvida também não vai usar. Se um faz uma festinha, porque o outro não pode fazer também? As reuniões familiares são críticas, grandes pontos de transmissão e, o pior, para os mais velhos e com comorbidades que pouco saem de casa. É fundamental evitar aglomeração em qualquer lugar, usar máscara o máximo do tempo, evitar ficar e falar com as pessoas a menos de um metro e meio. Não falar alto. Usar corretamente as máscaras, de preferência duas. São medidas antipáticas? São. Mas não dá para mentir e negar o que a ciência e a epidemiologia já nos ensinaram sobre doenças que se transmitem pelo ar e entram e saem pelo sistema respiratório. É assim faz séculos. Se a gente nega, a gente está abrindo a porta para um sofrimento maior e mais prolongado.

Junto as medidas de isolamento, a vacinação pode ser uma barreira para impedir a proliferação do vírus da Covid-19?

Sem dúvida. Mas, isso se a vacinação estivesse num ritmo muito mais rápido e amplo. Se não tivéssemos tido tanta irresponsabilidade do governo federal, poderíamos ter adquirido mais vacinas e mais cedo e o Brasil teria condição de vacinar mais de 10 milhões de pessoas por semana. Temos a maior experiência em campanhas de vacinação em massa do mundo. Para controlar a Covid-19 precisaríamos imunizar de 60 a 70% da população. Mas isso, infelizmente, vai demorar. Então a vacina tem que ser usada estrategicamente para evitar e diminuir internações e mortes. E rápido, se não o vírus se acostuma. Significa vacinar rápido a população acima de 60 anos. E isso foi muito prejudicado pela excessiva liberalidade e até abuso em se vacinar profissionais de saúde que não tinham nada a ver com contato direto com o doente de covid ou suspeito de ser, ou membro de campanha de vacinação. É uma guerra. Na guerra, a atenção maior é para o soldado que está na linha de frente, “dando tiro e levando tiro” e muito menos, com todo o respeito, a quem está na retaguarda.

Quando de fato sentiremos o reflexo da vacinação contra a Covid-19?

Pelo ritmo da vacinação, haverá maiores efeitos só daqui há uns dois meses. Mas já a partir do final deste mês e início de abril acho que já será possível observar a menor mortalidade dos mais idosos. Estamos analisando alguns dados, especificamente por idade e faixa etária, para ver isso. Mas, ainda no geral da mortalidade o efeito não apareceu claramente.

Quem não pode ser imunizado com as vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil?

Qualquer vacina que for usada (no nosso caso são a Coronavac e a Astra/Zeneca) são seguras. Mas alguns grupos podem ter restrição e precisam antes passar pela avaliação e orientação médica, como: gestantes, pessoas com doenças do sistema imunológico, pessoas que estejam tomando corticoides ou outro medicamento que diminua a resposta imunológica, pessoas em quimioterapia contra o câncer, pessoas que tenham manifestado alergia a vacinas ou algum componente da vacina.

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