Usuário, cavalo e profissionais, uma união que funciona. (FOTO: EP)

 

Por Loui Jordan

Dizem por aí que existem guias para aprender a domar um cavalo, complicado mesmo, ou melhor, bom mesmo, é quando esses cavalos criam um laço amoroso difícil de domar. Essa relação de companheirismo, profissionalismo, amor e dedicação, é exatamente o que fez a união deste equino com a APAE de Três Pontas.

De fato, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais faz um trabalho excepcional, com o perdão do trocadilho. Ademais, para entidades como a APAE, não existem limites e sim horizontes prontos para serem desbravados e a equoterapia é um deles.

O que é equoterapia?

Bom, antes de mais nada, vamos por partes. A equoterapia é um atendimento clínico que acontece no espaço do Centro Equoar, mais precisamente na APAE Rural, instalação localizada no bairro Quatis, que conta com o advento de energia fotovoltaica e mais, um ipê é plantado em nome de cada diretor da entidade na horta, prova de carinho e cultivo por trabalhos feitos com amor. Dito isso, a equoterapia é um método terapêutico e educacional, onde o cavalo é utilizado dentro da abordagem da interdisciplinaridade, ou seja, com todos os profissionais necessários, fonoaudióloga, psicóloga, pedagoga, médico, terapeuta funcional, entre outros.

Em suma, o cavalo é utilizado como instrumento fundamental durante a terapia, o exercício com as crianças. Os benefícios estão em diversos âmbitos, educação, lazer, saúde, parte social, entre outros, como bem explica a fisioterapeuta neurofuncional Élida Lasmar do Norte. “Na saúde nós fazemos a parte de reabilitação física, tem a parte educacional e social, onde trabalhamos muito a interação dos usuários”.

O usuário, independentemente do tipo de patologia, pode praticar a equoterapia, desde que tenha a liberação do médico. Embora os atendimentos tenham retornado há duas semanas, os profissionais voltaram a todo vapor, com todos os cuidados possíveis referente a pandemia e claro, já fazendo avaliações.

A importância do trabalho é valiosíssima. Para se ter uma ideia, as sessões de 30 minutos, uma vez por semana para cada usuário, são suficientes para gerar muitos estímulos. Ao todo são 21.600 movimentos que a criança emite sem o apoio de ninguém, apenas com o andar do cavalo.

Élida, conta como é iniciado todo o processo. “Eles chegam, a equipe leva até o cavalo para fazer a aproximação. Aí tem o toque no cavalo, a alimentação, tem criança que dá uma cenoura para o cavalo e aí depois nós fazemos a montaria individual, com os apoios laterais”, além disso, a fisioterapeuta explica os tipos de Equoterapia., “Temos a hipoterapia e reeducação física. A hipnoterapia, o usuário depende mais dos apoios, do psicólogo e da fisioterapeuta. No momento da atividade, nós temos a hipoterapia que depende de apoios e a reeducação física, no qual o usuário fica mais independente no cavalo”, finaliza Élida.

Esse trabalho guiado, através do estimulo físico e verbal é imprescindível. Ademais, um ponto importante a ser frisado, é a aplicabilidade do olhar clínico de cada profissional. Após a avaliação e reavaliação, são montadas as metas de acordo com a necessidade de cada criança. A mãe fala a queixa principal e eles montam um programa com o olhar de cada profissional.

A prova que esse programa é eficaz, está nas palavras de Luciana Barbosa da Costa, mãe do Arthur, de 7 anos. O pequeno aluno da APAE é autista, gosta muito de animais e ama a equitação que todas as quartas-feiras ele pratica. “Esse tempo que ficou parado, ele ficou sempre perguntando, qual dia que vai voltar”, conta Luciana, que acrescenta, “desde o início eu achei que seria ótimo, porque o espaço próprio da APAE é muito bom”.

Mesmo à distância, as funcionárias da APAE enviavam atividades para serem feitas em casa, relatou Luciana. A mãe de Arthur, além de agradecer as terapeutas de seu filho, a xará Luciana e a Taciane, reconheceu sem nenhum esforço o trabalho da APAE, “eu só tenho a agradecer a APAE. Eu sou muito satisfeita com o tratamento, o atendimento”.

Confira abaixo, a equipe da APAE Rural. Elas retiraram a máscara apenas para fazer as fotos e registrar o sorriso do ótimo trabalho.

Sem máscara para mostrar o sorriso do trabalho feito com dedicação, amor e competência. Da esquerda para direita: Alexandre (Equitador), Élida (Fisioterapeuta Neurofuncional), Carlinhos (braço-direito da APAE), Faísca (Cavalo), Luiz Guilherme (Equitador), Amanda (Psicóloga), Rosiane (Pedagoga) e Daiane (Recepcionista e Equitadora). (FOTO: EP)

Como foi adquirido o espaço?

Com a parte técnica já explicada, vamos a questão administrativa e estrutural. A entidade apaeana, sempre pensou em ofertar essa possibilidade para os usuários, há 10 anos já acreditavam na habilitação do cavalo em um trabalho terapêutico intenso e com uma equipe multidisciplinar. Inicialmente tinham um convênio com o Xodó dos Pádua, a APAE pagava um salário mínimo, recurso irrisório, afinal de contas, poderia usufruir de todas as instalações.

A superintendente da Apae de Três Pontas e 1ª diretora secretária da Federação das Apaes de Minas Gerais (Feapaes-MG), Maria Rozilda Gama Reis, explica como tudo começou. “Esse espaço era muito mal utilizado, lamentavelmente. Ele foi sendo depredado, e foi acabando. Então, nós chegamos aqui e o espaço estava praticamente sem condições de ser aproveitado, mas nós temos uma arquiteta muito boa, voluntária, Andréia Miari, ela topou o desafio da gente aproveitar alguma coisa que tinha e estruturar dentro da logística da ANDE (Associação Nacional de Equoterapia –  Brasília)”, detalhou a superintendente.

Mais do que isso, essa grande gestora conversou também com o Dr. Arthur, promotor, e com Marcelo Chaves, prefeito, pelo qual ela agradece muito. “O Marcelo, como sempre muito gentil, fica aqui o nosso reconhecimento, gratidão, amor e profundo carinho que temos pelo Marcelo, pela Melissa também que é muito apoiadora das causas sociais”.

Um projeto é sempre prazeroso e trabalhoso, mais do que seguir as normas ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), todas as exigências que a ANDE ofertou, foram cumpridas, é preciso ter uma estrutura, mesmo que mínima. Uma questão relevante, é que a alimentação do cavalo não é tão barata devido a quantidade, pelo contrário. No entanto, como tudo na APAE é feito com muitas mãos, o apoio de empresas e empresários através do CMCA (Conselho Municipal da Criança e do Adolescente), tem sido vital para a saúde financeira, é uma ajuda de muita valia.

Contudo, a APAE apresentou um projeto no Ministério da Saúde, onde várias empresas aportaram recursos na ordem de 1 milhão de reais, que são destinados para a manutenção dos profissionais. Como salientou a Superintendente, “nós vamos ter dois anos de funcionários pagos com recursos já vinculados para eles mesmos, são recursos para pagar funcionários”. Isso novamente ajuda muito na questão econômica, isso porque a APAE é um ciclo de projetos e ousadia.

Nas palavras de Rozilda, dá pra se traduzir bem o que se pretende com esses ciclos e com esse projeto. “Na verdade, é uma APAE Rural, não apenas uma equoterapia. A nossa unidade rural visa toda terapia, seja de convivência, de preparação para o mundo do trabalho, além do cavalo. O cavalo é a figura principal para muitos, por conta do movimento, de trabalharmos a linguagem, então acaba que o cavalo é um grande atrativo para trabalharmos tudo isso, a socialização, linguagem e os usuários precisam muito disso”

Para finalizar, em um futuro próximo, aproveitar o espaço para ofertar pilates, tanto para os usuários, quanto para os familiares, é uma pretensão da Superintendente, mas não só isso, a APAE busca sempre mais e melhor. “Estamos com um projeto também via CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente) da gente trabalhar profissionalmente, tanto os meninos que estão em fase de trabalho na instituição, quanto os menores infratores que tem condição de serem reinseridos na própria sociedade e a gente vem fazendo isso a um bom tempo, e a gente vem tendo grandes resultados. Então, eu acho que a oportunidade é para todos, eu acho que isso aqui é para curar muitas pessoas, muitas vidas, inclusive dos profissionais que vem auxiliar”, encerra Rozilda.

A APAE Três Pontas atende a microrregião. Isto posto, as cidades da micro serão atendidas com o método, os municípios de Santana da Vargem, Boa Esperança, Coqueiral e Ilicínea. Como regimenta a filosofia da APAE, o propósito é preparar o indivíduo para a sociedade, certamente a APAE está fazendo isso a galope.

“Eu sou muito grata, principalmente a Deus, pela oportunidade, aos nossos anjos tutelares também, porque sou de muita fé nesse sentido. Acredito muito na providência, e a gente trabalha muito com o sentido providencia na APAE”, Maria Rozilda Gama Reis, Superintendente da Apae de Três Pontas.

APAE RURAL, seja muito bem-vinda. (FOTO: EP)

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