Fotos: Arquivo pessoal

 

A jovem trespontana, Júlia de Castro, estudante do 4º ano de medicina na Faculdade Anhembi Morumbi, em São Paulo (SP), voltou de uma importante missão voluntária, realizada desde 2016, em Benin, país da África Ocidental, onde a realidade é muito diferente do Brasil. Foi uma média de 22 horas de viagem e 15 dias de muito aprendizado.

O projeto apresentado por ela sobre os primeiros socorros na faculdade, foi escolhido no concurso com outros estudantes e a jovem ganhou esta oportunidade que apesar das dificuldades enfrentadas no país, quer viver isto novamente. “Diante do que a gente vive aqui, a gente sabe o quanto é importante os primeiros atendimentos, antes da chegada do socorro médico especializado, ainda mais em um lugar precário como Benin”, menciona Júlia.

Ela sempre teve vontade de ir e atuar na África, quando via na televisão projetos voluntários como Médicos Sem Fronteira e da Cruz Vermelha. A trespontana já tinha inclusive procurado saber se poderia atuar, mas como estudante não tinha nada que a levasse até lá. Quando surgiu a oportunidade na faculdade não pensou duas vezes.

Ela revela que Benin é um país pequeno, mas a imagem que se tem da África e as pessoas vêem na televisão, é um pouco diferente apenas na Capital, onde há um pouco mais de estrutura, com casas bem estruturadas e carros na garagem, mas a medida que se dirigia para o interior a realidade era de mais pobreza do que imaginava. Em Zinvie, apenas a rua principal era de asfalto e o restante de terra. Não tem sinalização e nem transporte público. Poucos lugares tem banheiro, não tem como tomarem banho, saneamento básico não existe e os moradores não tem conhecimento nenhum de higiene pessoal, o que impede de contraírem várias doenças, por isto são tão vulneráveis.

No caminho, encontrou com muitos estabelecimentos na beira das rodovias vendendo alimentos e artesanatos. As pessoas de lá, trabalham muito com agricultura e uma curiosidade que chamou a atenção foi existem muitos salões de beleza. As mulheres são bastante vaidosas com o cabelo.

Na África não existe saúde pública como no Brasil, que pode demorar mas tem atendimento. Ou seja, quem não tem condição não é atendido. Ao chegarem eles vêem a esperança nos olhos das pessoas que não tem condições nenhuma de ter uma saúde digna. “Lá eles não são atendidos se não tem dinheiro. Eles ficam no chão e quem vai para o hospital, enquanto não paga a conta não podem sair, até um familiar ir lá acertar o débito. “É muito triste muito triste ver que eles ficam no corredor esperando alguém da família, independente da idade seja criança ou mesmo idoso”, relata.

Julia ministrando aula nas nove escolas em Benin

Os alimentos que eles consumiram foram levados aqui do Brasil, já que a culinária deles é bastante diferente e muito exótica. Eles comem muita carne de cabra e galinha. Júlia viu lá muitas frutas, como banana e abacaxi. Até água eles levaram na bagagem, para não ficarem expostos, já que lá não tem água tratada.

Por mais que Júlia, médicos e enfermeiros foram fazer um trabalho voluntário, como cirurgias e outros tratamentos, eles tiveram que levar medicamentos. Para fazer os atendimentos no hospital de lá, apesar da estrutura ser bastante precária, a missão teve que bancar as despesas.

Na função que Júlia foi exercer, ela ministrou aulas de primeiros socorros em 9 escolas, todas particulares, mas em apenas uma tem energia elétrica, porque um eletricista foi chamado para fazer a ligação. As escolas públicas não aceitaram receber o projeto.

Os trabalhos começavam de manhã por volta das 7:00 horas. Em cada uma das escolas, havia uma entre 40 e 60 pessoas, onde Júlia e Breno da Silva Cantizano, cujo projeto ficou em segundo lugar, com apoio da tradutora Lis. As aulas foram dadas primeiro aos professores e depois aos alunos sempre acompanhados de um médico, para sanar possíveis dúvidas.

O caso mais curioso, foram as aulas ministradas para uma família numerosa. O homem de um vilarejo tem 44 esposas e 157 filhos. Para chegar ao local foi preciso pedir autorização.

Todos estavam bem dispostos e interessados em aprender. Eles queriam participar das manobras, onde foi utilizado o manequim, para a realização da simulação de reanimação cardiorrespiratória. Atendimentos cirúrgicos foram em média 40. Este número não foi maior porque justamente por questão financeira.

Julia pode participar de cirurgias junto com a equipe médica

Apesar da vida sofrida dos beninense, Júlia sentiu muita emoção ao receber o carinho destes africanos. “Eles, são pessoas muito amorosas, que ficaram felizes com a nossa presença. As crianças sobretudo, vinha nos abraçar. Algumas pessoas ofereceram as crianças para a gente trazer, porque lá não tem condições. Isto mexeu muito comigo e é difícil a gente dizer não”, revela a estudante.

E se surgir outra oportunidade, ela quer voltar ou então ir para o Afeganistão. Ela gosta destes lugares remotos, onde as pessoas precisam muito dos outros.

Júlia de Castro não esconde que foi ensinar, mas que aprendeu muito, com o conhecimento dos alunos com os estudante, médicos e cirurgiões. “Foi uma experiência muito rica”, disse a universitária.

Ela agradeceu os apoios que recebeu. A empresa Artvac Embalagens pela doação de uma TV, que foi sorteada através de uma rifa, a Associação Médica de Três Pontas, na pessoa de Dr. Gilberto Ximenes e ao Sicoob que fizeram as doações que possibilitaram a compra do manequim que foi levado para as aulas de primeiros socorros. Por fim, a Equipe Positiva e o Jornal Correio Trespontano pela divulgação e todos aqueles que ajudaram nas doações de roupas para o Bazar Solidário, na venda e compra das rifas e na doação em dinheiro para a Missão Benin. “A ajuda de todos foi imprescindível para o sucesso da missão, que conseguiu sem dúvidas, transformar a vida de muitos beninenses. Agradeço de coração a todos”, finaliza a trespontana estudante de medicina Júlia de Castro.

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