Texto e fotos: Denis Pereira -A Voz da Notícia

 

“Romper o silêncio é sinal de proteção, denuncie”. A frase escrita pelo advogado e presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), subseção de Três Pontas Dr. Juliano Brito, foi a escolhida e se transformou no tema do evento realizado pela Polícia Civil de Três Pontas, na comemoração do Dia Internacional da Mulher de 2021, nesta segunda-feira, dia 08 de março. Ele enviou a frase elaborada por ele, como tantas outras pessoas fizeram durante um período aberto pela organização, com o tema voltado ao combate da violência contra a mulher, incentivando principalmente a denúncia dos agressores.

As palavras que expressam a grande vontade das polícias e instituições, de quebrar o silêncio e expor de forma segura, os mais variados tipos de agressões realizadas contra elas, foram usadas em um material gráfico para ilustrar o evento. As frases foram colocadas em banner’s e pendurados em cavaletes na Praça Tristão Nogueira, em frente a Delegacia de Polícia Civil durante a manhã. Os autores das três frases escolhidas pela equipe da Delegacia de Polícia Civil, receberam prêmios doados por empresas através da Associação Comercial e Agroindustrial (Acai-TP) e pela Cocatrel, que aderiram ao evento, que tem como grande parceiro o Conselho Comunitário de Segurança Pública (Consep Travessia) e a Equipe Positiva.

As autoridades convidadas foram recepcionadas com um café, entre elas, a delegada regional de Varginha Dra. Renata Fernanda Gonçalves de Rezende, a promotora de Justiça Dra. Ana Gabriela Brito Melo Rocha e a vereadora Maria Selena Silva (Selena Caté – PSD).

A legisladora foi escolhida para ser homenageada e recebeu uma placa, assinada pela Acai-TP e a Polícia Civil. O delegado Dr. Gustavo Gomes destacou que este é um dia de reflexão, que traz a certeza que dias melhores virão, por isso, é preciso se conscientizarem. Ele mencionou o trabalho realizado por toda equipe da Delegacia, que preparou o evento em etapas que culminou com estas homenagens. Ele adiantou que ainda este mês de março, pode haver novidades em um projeto que ele está empenhando esforços para colocar em prática, que vai ser a instalação de uma estrutura no acolhimento a mulher vítima da violência doméstica. Não é nada pioneiro, porém, vai suprir uma lacuna fundamental.

O inspetor Gustavo Domingos acrescentou que mesmo com toda a dificuldade por causa da pandemia, conseguiu realizar a comemoração mais uma vez e a escolha da homenageada, foi por unanimidade e aclamação. “Selena Caté, uma pessoa capaz de representar a luta, a força e o exemplo de mulheres vencedoras. Esta foi a primeira homenagem individual realizada”, justificou Gustavo.

A promotora de justiça da Comarca Dra. Ana Gabriela, é uma das autoridades que se declara publicamente fã do trabalho da Polícia Civil, na prevenção e no cuidado ao combate as violências, para que não se provoque mais danos. É que muitas vezes quando o Estado intervém para combater uma violência doméstica acaba causando mais danos, por isso, é fundamental que todos os agentes estatais tenham este cuidado e façam um trabalho em parceria, utilizando inclusive os instrumentos de assistência social. Se ele não for unido em uma única linha, não é possível transformar a cidade, só com o trabalho da Polícia Civil, ou só com a Polícia Militar, Ministério Público ou somente do Poder Judiciário. Defensora da bandeira da prevenção, ela esclarece que é preciso diferenciar o que o evento, que o que foi realizado nesta segunda-feira, com uma agenda, que trate de violências, no plural, porque não é somente a física. Esta é topo de um longo processo que já deixou sequelas inenarráveis e com uma agenda é possível analisar o modo de agir e construir uma nova realidade.

A delegada regional Dra. Renata diz ser muito prazeroso ver toda a comunidade envolvida em um projeto também importante. Ela que dedicou grande parte da sua carreira em Delegacias de Mulheres do Estado, por último em Alfenas, é defensora que o dia 08 de março seja de reflexão, que chegue aos ouvidos daquelas que ainda sofrem os mais variados tipos de violência e sofrem caladas.

Selena revela que já foi vítima de violência doméstica

A vereadora Selena Caté o inspetor da Polícia Civil Gustavo Domingos

Visivelmente emocionada, na sua simplicidade com as palavras, ela demonstrou o sentimento que estava sentindo naquele momento. Diz que não sabe se é merecedora, mas tudo acontece de acordo com a vontade de Deus e dedicou a homenagem da Polícia Civil à sua mãe a dona Maria do Carmo Silva. Quando recebeu a ligação para ir à Delegacia pensou de tudo, mas jamais que seria homenageada, porque quem já lhe deu muito apoio. Selena revelou pela primeira vez, que já foi vítima de agressão pelo seu namorado. Muitas vezes chegou em casa machucada, mas sempre arrumava desculpas para que a família não soubesse de nada. Quem sabia da história e via a rotina das agressões sempre lhe aconselhava a denunciar, pois se não ela iria morrer, mas o medo e vergonha, a fez permanecer em silêncio durante muitos anos.

Um dia a vereadora parou e percebeu que a única solução foi escolher entre a vida ou o amor. As tentativas foram tantas que ela conseguiu internação para o namorado se livrar do vício das drogas, mas foi em vão. Foi então que percebeu que aquilo não era amor. “Ninguém que ama ofende, agride, bate com tapa no rosto ou chutes e acabam assassinando a companheira”.

Se ela está viva hoje, segundo Selena, é graças ao apoio que a polícia deu À ela, baseado na Lei Maria da Penha. Ela termina sua fala fazendo um apelo, para que as mulheres não vivam como ela viveu durante muitos anos. “Não fiquem caladas, acreditem no poder que cada uma tem e no trabalho da polícia”, anunciou a homenageada.

Selena se tornou outra pessoa, mudou de vida e teve forças para começar uma nova vida. Voltou a estudar, se formou e deixou para trás o sofrimento. Sua simplicidade chamou a atenção de partidos políticos. Se candidatou a vereadora em 2016, recebeu mais de 700 votos, mas não conseguiu se eleger por questão partidária. Nas eleições de 2020, foi eleita pelo PSD e assumiu seu 1º mandato, sendo a única mulher com cadeira na Câmara Municipal nesta legislatura 2021-2024.

Concurso de frases

A Polícia Civil realizou pela primeira vez, um concurso de frases e recebeu durante um período, frases para servir na divulgação do combate a violência contra a mulher. A escolhida – “Romper o silêncio é sinal de proteção, denuncie”, de acordo com a escrivã “ah doc” do Cartório de Mulheres, Mônica Regina Tiso Vitor Oliveira, a Comissão que foi criada para fazer a escolha, levou em conta a frase curta, objetiva e demonstrasse a importância do evento, buscando chamar a atenção para os casos graves de violência que ainda acontecem contra as mulheres em Três Pontas. Esta frase foi colocada em uma logomarca desenvolvida pelo designer gráfico Getúlio Oliveira.

A escrivã Mônica Oliveira, o advogado Dr. Juliano Brito e o inspetor Gustavo Domingos

A motivação para o advogado Dr. Juliano Brito participar do concurso foi ver as situações que ocorrem diariamente e deixa claro que fica feliz em participar do evento que é pioneiro na região e aproveita para dizer que a OAB fica feliz ao integrar este trabalho social, através da Comissão da Mulher Advogada. A presidente é a Dra. Eliana Braga que é anuncia a realização de um projeto chamado “Primavera de Redes”, desenvolvido pela OAB, as polícias Civil e Militar e a Prefeitura. Juntos eles conseguem fazer mais ações conjuntas que culminam em resultado satisfatórios de resultados, às mulheres vítimas de qualquer tipo violência.

“Ninguém pode ajudar se não souber quem está precisando de ajuda. Fazemos o possível para que a vítima fique livre do sofrimento, mas o primeiro passo precisa ser dado pela mulher”, ponderou a escrivã Mônica Oliveira.

É ela quem ouve as vítimas de violência na Delegacia o que tranquiliza as mulheres. Ele explica que o primeiro passo é registrar um boletim de ocorrências, seja na Polícia Militar ou Policia Civil. Ele pode ser feito na hora ou posteriormente, basta procurar o Quartel da PM ou a Delegacia e relatar com detalhes o que está ocorrendo. O caso é repassado ao delegado e a vítima é ouvida. O processo é rápido e em caso de medida protetiva contra o agressor, é encaminhada a solicitação ao Poder Judiciário dentro de 24 horas.

As outras duas frases escolhidas para estampar banner’s colocados na Praça durante a blitz foram de duas jovens – Ariele Vitor Gonçalves e Janaína Aparecida Mantovani. Ariele Gonçalves foi escolhida pela frase “É por me amar que escolhi denunciar”. Ela diz que o sofrimento da violência não é sentido apenas pela vítima, mas por todos que estão ao seu redor, principalmente os filhos. Emocionada, ela termina dizendo que o amor não é violento. Janaína escreveu: “O primeiro amor de toda mulher deveria ser o amor próprio”. Ela sempre esteve confiante que sua frase estaria entre as escolhidas.

Segundo a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Três Pontas Maísa Patrícia Veloso, para encorajar mais pessoas e levar esta mensagem de luta, o Conselho irá colocar faixas com as frases escolhidas em pontos estratégicos da cidade – na Rua Barão da Boa Esperança e nas avenidas Ipiranga e Oswaldo Cruz.

O tesoureiro do Consep Paulo Eduardo Fasano parceiro de primeiro hora das ações das polícias, contribuiu e ainda buscou outros parceiros, como a Padaria Boca do Forno, para colaborar. O Conselho formado por voluntários, procura estar sempre atuante, trazendo novas pessoas para que ações como estas se concretizem. Qualquer cidadão pode  contribuir financeiramente com o Consep através das contribuições feitas através das contas de água do Saae. O dinheiro arrecadado é investido exclusivamente na segurança pública.

VEJA OS SORTEADOS QUE ENVIARAM FRASES PARA O CONCURSO DA POLÍCIA CIVIL DE TRÊS PONTAS

Os sorteados devem procurar a Delegacia de Polícia Civil no horário de expediente, munidos de um documento com foto. Os 03 (três) primeiros vencedores ganharam uma cesta da Cocatrel. A Joalheria Nobilis doou uma placa para a homenageada, Maria Selena.

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