*Ele está na Cocatrel há 37 anos atuando também como engenheiro civil e assina grandes conquistas ao longo de sete mandatos

DENIS PEREIRA 

A Cocatrel realizou Assembleia Geral e na pauta elegeu os novos conselhos de Administração e Fiscal. Francisco Miranda de Figueiredo Filho está deixando o comando de uma das maiores cooperativas do Brasil. A nova diretoria executiva toma posse nesta segunda-feira (02) e será formada pelo presidente Marco Valério Araújo Brito, o diretor técnico industrial Francisco de Paula Vitor Miranda e pelo diretor comercial Luiz Antônio Vinhas Oliveira.

Esta semana, em um dos últimos dias de trabalho, Francisco Miranda de Figueiredo Filho recebeu o Correio Trespontano e a Equipe Positiva para uma entrevista. Bastante emocionado, Chico falou da sua trajetória de sucesso a frente da cooperativa que cresceu não apenas em número de cooperados, mas sua estrutura foi desenvolvendo e se modernizando ao longo de 37 anos, sendo 21 anos somente na presidência.  Uma revista foi confeccionada mostrando toda a trajetória de Francisco Miranda, o início dele como engenheiro civil, as obras que assinou e as lutas que travou em prol da cidade e da cafeicultura.

Formado em 1975, em Engenharia Civil, pela Fundação Mineira de Educação e Cultura (FUMEC), exerceu a profissão de engenheiro nas cidades de Contagem e Três Pontas, atuando desde 1980 na Cocatrel. Atuou como vereador pela Câmara Municipal de Três Pontas durante três mandatos. Foi diretor administrativo do Conselho Nacional do Café (CNC)   e atualmente é membro de seu Conselho Diretor.

Hoje é representante titular da produção no Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), membro do Conselho de Administração do SESCOOP/OCEMG, além de ser membro da Comissão Técnica de Café da FAEMG. Cafeicultor, exerceu desde 1997, o cargo de presidente da Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas. Acumulando por 21 anos as funções de presidente e engenheiro, Francisco conta que apenas no final de 2017 é que a Cocatrel contratou um novo engenheiro civil para substituí-lo nesta função.

Casado com Tamara Maria de Oliveira Figueiredo, possui três filhos: Francisco Neto, Fernanda e Flávia e é o orgulhoso avô dos netos Antônio e Augusto. Atuando por 37 anos na cooperativa e por 21 na sua presidência, sua história se confunde com a da Cocatrel, baseada no profissionalismo, na dedicação e no empenho pelo desenvolvimento, modernização e crescimento da cafeicultura  e da cooperativa. 

ENTREVISTA
FRANCISCO MIRANDA DE FIGUEIREDO FILHO

Francisco, foram 21 anos seguidos como presidente da Cocatrel. A decisão de não continuar é pessoal ou os cooperados optaram por uma mudança?

Não. Eu fiquei muito satisfeito com a demonstração de apoio que eu tive na Assembleia. Eu entendo que cooperado nenhum gostaria que eu saísse. É uma decisão minha que eu pensava ha uns três meses nesta mudança, mas eu também sentia que estava na hora de sair e dar um tempo, mudar algumas coisas na minha vida e acertar umas coisas pessoais. Foi uma decisão difícil porque é muito tempo que estou aqui, não apenas como presidente, mas também como engenheiro. Hoje eu sinto que foi dolorida a minha decisão, mais foi o certo.

Qual o número de cooperados daquela época e o de hoje?

Devia ser uns três mil e hoje são cinco mil. 

Você acha que os cooperados estão satisfeitos com os trabalhos realizados pela Cocatrel?

Acredito que sim. A gente vê algumas reclamações que são pontuais, que não são de vários associados. E a gente nunca acerta tudo.

A Fecom e a Expocafé. Qual a importância desses eventos para os cooperados?

Comprar mais barato. E isto é tudo. Conseguir comprar a preços melhores, para que se possa manter na atividade cafeeira e reduzir os custos.

A Cooperativa de quando você iniciou e a Cooperativa de hoje é muito diferente?

Lógico que cooperativa tem trabalho de muita gente. São diretores, conselheiros, colaboradores. Para se ter uma ideia, quando cheguei tínhamos apenas um barracão na Rua Urbano Garcia Neto, agora são cinco e passamos a receber café a granel. Tudo que tem lá de construção foi eu que fiz. Todas as filiais foi eu quem fiz e até a loja que está sendo desativada em Nepomuceno, pois estamos construindo uma nova, foi eu que fiz. As vezes eu passava o projeto para um arquiteto, mas eu sempre levei a ideia que eu queria que fizesse ao profissional. Foi comigo na presidência que compramos aqui em Três Pontas, a aquisição da área que era da Kiwi, empresa de implementos de informática onde está a loja Matriz, na Avenida Ipiranga. O terreno que foi doado pela prefeitura para a Kiwi, havia algumas construções. Quando eles abandonaram o projeto na cidade, iniciamos uma desgastante negociação com a Prefeitura. Depois de muito empenho, quando o ex-prefeito Paulo Roberto Nogueira assumiu a administração de Três Pontas, ele fez esta doação para a Cocatrel. Em contrapartida, doamos 50 mil litros de leite para o município e pagamos à empresa, pelas construções existentes no terreno. Ali foram feitas as obras de adequação necessárias para a instalação da loja, construção de galpões para armazenamento de mercadorias e também para armazenamento de café ensacado, quando necessário. Hoje, em um destes galpões está a nossa loja de defensivos. Onde hoje está a cafeteria/ loja de laticínios/ Cocatrel Direct Trade foi comprado da Kiwi e feitas as obras de adaptação. O prédio do Departamento Técnico, onde ficam os escritórios e o laboratório também foi adquirido nesta compra e precisou ser adaptado para a instalação do laboratório de análises de solo e folhas. O galpão que tem no fundo deste terreno, com área de 900 metros quadrados com uma varanda, foi construído em alvenaria, com cobertura de madeira e telhas de cimento amianto, para ser utilizado também para armazenar defensivos agrícolas e fertilizantes. Depois disso, o terreno ao lado, com 10 mil metros quadrados, onde hoje acontece a Fecom, foi comprado pela Cocatrel. Enfim, fizemos obras para todos os lados, como o Silo que fica as margens da MG 167, em frente a Fazenda Experimental da Epamig. Compramos um terreno e fizemos três silos com capacidade de 300 mil sacas no total, escritório, balança de 80 toneladas, tombador moegas para recebimento, dois secadores e poço artesiano. O trevo que foi construído ali, foi uma trabalho muito significativo e tem uma história. Eu conversei com o Dr. Fábio Araújo Reis, que era amigo pessoal do deputado Agostinho Patrus, que era secretário de Obras do Estado. Ele autorizou a fazer o DER a fazer o projeto. Com o projeto pronto, eu comuniquei ao então ex-vice governador Clésio Andrade da nossa intenção e ele abraçou a ideia. Por coincidência, o então governador Aécio Neves teve que se afastar por 15 dias por causa de uma viagem. O Dr. Clésio assumiu e autorizou a construção do trevo. O trevo beneficiou a Cocatrel, a Epamig e o próprio município de Três Pontas. A Cocatrel deve a estas pessoas que nos ajudaram a resolver aquela questão. Uma coisa que me deixou um pouco frustrado é que desde que entrei aqui, eu fico correndo atrás da construção da terceira pista na MG 167 entre Três Pontas e Varginha e não consegui.

Você deixa a direção da Cocatrel frustrado por não ter conseguido convencer o Governo de Minas a fazer esta obra?

“Saio com a consciência de que cumpri com o meu dever” Francisco Miranda

Lógico que a gente fica triste, não frustrado, porque uma hora esta obra vai ter que sair, porque não tem cabimento mais. Sempre digo que o café que é produzido sentido norte de Varginha, passa todo ele nesta MG 167. Isto vai ter que acontecer um dia, não tenha dúvida. Um dia aparece uma pessoa preocupada com isto e resolve.

Durante estes sete mandatos, tem algum projeto que você sente não ter realizado?

Na Cocatrel não. Aqui realizei tudo que eu tinha vontade. Saio com a consciência de que cumpri com o meu dever. Vou te dar um exemplo e citar um fato. Nestes anos que fui presidente e engenheiro, jogando por baixo, a cooperativa deve ter hoje de mais de 60 mil metros quadrados. Você divide por 37 anos que fiquei aqui, dá quase 2 mil metros quadrados de construção por ano.

Qual a importância da Cocatrel para Três Pontas? 

A Cocatrel é tudo. A gente conversa com pessoas ligadas ao comércio, a Associação Comercial, donos de supermercados, lojas de departamentos e todo mundo fala. Chega a colheita de café, o dinheiro gira muito mais na cidade. Então, a Cocatrel impulsiona o comércio. Você acha que estas lojas de departamentos estão em Três Pontas porque? Elas vem para ganhar dinheiro e o café é uma demonstração disso. No Sul de Minas inteiro é assim.

A cafeicultura é um bom negócio?

Tem época que sim. Hoje estamos em um momento difícil. A Ufla, que tem credibilidade neste assunto de café, levantou os custos da saca de café e mostrou que o preço do grão não cobre os custos. Então o produtor está perdendo dinheiro. Isto é muito preocupante. Como você paga as contas e investe se está perdendo dinheiro? Mas toda a vida foi assim, um dia melhora.

Qual o sentimento ao deixar a direção da Cocatrel? O que você gostaria de falar aos diretores, conselheiros e colaboradores.

Uma pessoa que vive em um ambiente durante 37 anos, se ela sair alegre ela não é normal. Estou tentando ficar bem, mas dentro de mim só eu sei, o sofrimento e a dificuldade de encarar isto. Sei que um dia isto iria acontecer e eu tenho que aceitar. Mas estou encarando com naturalidade.  Tenho acordado de madrugada e não consigo dormir. Eu tenho que dominar meus sentimentos. Saio com uma satisfação muito grande de dever cumprido. Na Assembleia um cooperado deu uma demonstração que eu me emocionei demais e chorei muito. E muitas pessoas choraram comigo. Isto me dá combustível para que eu possa viver o resto da minha vida, dormir em paz e continuar trabalhando. Eu quero continuar trabalhando no café e fazendo o que eu gosto que é a engenharia civil. Vou ver se eu consigo passar o que eu aprendi não só de construção de armazéns, mas também algo relacionado ao café, como produção, mercado, manejo de café e cafés especiais. Eu passei 37 anos, vivendo e falando de café, vivendo com pessoas que tem grande conhecimento e a gente aprende.

Como você pensa a sua vida daqui para frente sem a Cocatrel?

Eu sou engenheiro de formação. Tenho conversado com algumas entidades que eu conheço e fiz neste tempo muitas amizades. Eu tenho vontade de trabalhar. Foi eu que implantei na Cocatrel este processo de granelização e aprendi muito. Isto me deu certo conhecimento. Eu gostaria de trabalhar em algum lugar que eu pudesse passar para os outros conhecimentos que eu adquiri. Essa é a minha vontade.

Você foi vereador por três mandatos. Você sente vontade de voltar à política?

Não sei [risos]. Depende. Seu eu tiver saúde e tiver disposição, quem sabe? É uma opção que não posso jogar fora. Eu gosto da minha cidade. Eu preciso que ela cresça e abra oportunidade para pessoas mais jovens. Eu sempre falo que ser vizinho de Varginha é um privilégio, mas não podemos deixar Varginha só criar emprego e Três Pontas ficar quieta. Por isto que eu falo tanto nesta rodovia. Eu tenho certeza que o dia que fazerem a terceira pista, vem armazéns gerais para Três Pontas. Porque que foi para Nepomuceno e Alfenas e não veio para cá? Era muito melhor aqui, onde tem a matéria prima. Eu acho que a população trespontana devia cobrar mais isto dos nossos representantes. Eu cansei de falar ao deputado estadual Mário Henrique, que se ele construísse esta terceira pista até Varginha e ajudasse a Santa Casa, ele nunca mais perdia a Eleição em Três Pontas. Mas ainda tem tempo dele conseguir. Ele vai conseguir.  Porque ajudar a Santa Casa ele ajuda. E a gente sabe das limitações das pessoas, do Governo de Minas Gerais que está muito sem dinheiro. Mas o trespontano merece esta estrada.

Francisco, deixe sua mensagem.

Eu gosto de Três Pontas porque eu tenho muito fé no Padre Victor. Eu adoro o slogan: música, café e fé. Eu vivo de café, gosto da música, principalmente de Milton Nascimento e tenho fé em Padre Victor.