O relatório feito pela Polícia Civil de Três Pontas, confeccionado na investigação criminal que apura a morte do 2º Sargento da Polícia Militar, Rodrigo Sarto Lomonte de Oliveira, em 16 de maio, em Boa Esperança, aponta que ele foi morto a tiros por Jaciel Mateus de Paula de 23 anos, que se entregou na Delegacia de Polícia de Boa Esperança e não por Abner Willian dos Santos, de 21, que acabou morrendo depois de ter trocado tiros com a Polícia Militar.

Os trabalhos de investigação foram desencadeados em Boa Esperança e Cristais, pela Polícia Civil da cidade, e as equipes de investigadores de Três Pontas e Varginha, convocados para identificar os criminosos que tiraram a vida do PM, aos de 37 anos. Foi um intenso e exaustivo trabalho de campo. Numa resposta rápida foi possível elucidar o caso e prender todos os responsáveis, apresentando um relatório ao Poder Judiciário, com mais de 150 páginas, toda dinâmica do que ocorreu na morte do policial, que morreu trabalhando em defesa dos cidadãos de bem.

O caso é tratado como crime bárbaro, sobretudo por representar insurgência contra as forças de segurança do Estado, subvertendo e gerando corrosão a todo o Sistema de Defesa Social, da malha protetora da sociedade, na medida em que o fato ofende não apenas a vítima, seus familiares e amigos, mas todo Estado Democrático de Direito.

O crime

A guarnição comandada pelo policial, juntamente com o Soldado Carlos André da Rocha Ferreira, se depararam no Centro, com uma motocicleta Yamaha XTZ250, com dois ocupantes que tinha sido furtada na cidade no dia anterior, na garagem de um edifício. O veículo estava com a chave na ignição e o capacete no guidão. A vítima tinha subido no apartamento e poucos minutos depois de que voltou, percebeu que a moto tinha sido levada.

Ao perceberem a presença policial, a dupla empreendeu fuga em alta velocidade. Eles aparentavam que iriam fazer um assalto em um posto de combustíveis, no bairro Nova Era. Sarto e André investiram em perseguição aos criminosos, que passaram ruas em contramão de direção e seguiu em direção à rodovia BR 265, sentido trevo da cidade de Campo Belo. Durante a perseguição, o condutor da motocicleta perdeu o controle direcional, e caíram. Mesmo assim continuaram fugindo entrando em um cafezal, embrenhados em meio a um matagal. O Sargento Sarto conseguiu conter o passageiro da moto e o Soldado André foi atrás do condutor, mas o perdeu de vista. Foi quando ele ouviu de quatro a cinco disparos. Ao retornar para a viatura, passou a chamar o Sargento que não respondeu mais e não atendeu as suas ligações.

No depoimento prestado, o Soldado da guarnição, disse que mesmo com o empenho de todos os militares do turno de serviço, não conseguiram localizar o companheiro e nem conseguiram contato com ele por telefone celular. O caso foi repassado ao comandante da Companhia, que foi para o local imediatamente e determinou o acionamento do Plano de Chamada. As buscas começaram e mesmo depois de cerca de três horas, Rodrigo não foi encontrado. Foi feita uma nova reunião, de onde se iniciou a perseguição a pé as margens da rodovia, foi quando Sarto foi achado. Ele estava caído em uma vala em meio ao matagal, encoberto por um tronco de árvore, com sangramento na cabeça. Blusas de moleton encontradas no local foram apreendidos. O Sargento foi socorrido imediatamente em uma viatura da Polícia Militar do Meio Ambiente para o Pronto Atendimento Municipal de Boa Esperança.

Ele chegou ao PAM a 1:14 e a 1:50 a equipe médica comunicou que mesmo com todos os esforços, Sarto não tinha resistido aos ferimentos de dois disparos na cabeça e tinha acabado de morrer.

Força tarefa para apurar o crime uniu Policia Civil da região

Os trabalhos começaram com a análise das câmeras de monitoramento do local onde a motocicleta foi levada, notadamente pelo fato de que o autor do furto da motocicleta era, em princípio, o suspeito de ser o autor do homicídio, o que ao longo da apuração foi descartado. O ladrão do veículo foi identificado como André Luiz dos Santos, o “Andrezinho”, de 34 anos, usuário de drogas, com extensa ficha criminal, sobretudo com passagens por furto. “Andrezinho” estava morando ultimamente na cidade de Cristais. Isto levou os investigadores a suspeitar que a autoria do homicídio poderia ser de algum morador desta cidade, uma vez que usuários de droga de crack, tem o hábito de realizar furtos e trocar por drogas em biqueiras, os pontos de venda de drogas. Na casa de familiares dele, em Boa Esperança, sua mãe, informou que após saber da morte do Sargento da PM, fugiu de casa na manhã de domingo (17), junto com sua mulher, com medo de ser preso, mas a esta altura a polícia já havia descoberto que este não tinha  relação com o homicídio.

Durante as diligências, foi identificado que Abner Wilian dos Santos, foi visto na motocicleta juntamente com a pessoa de Jaciel Mateus de Paula. Na casa de Jaciel  foram encontrados os telefones celulares (supostamente da mãe e irmão) usados por ele. O seu irmão chegou a mostrar uma foto de uma arma de fogo, em que aparece o tênis de Jaciel que foi apreendido. A equipe policial foi informada de que Jaciel e Abner,  fizeram contato com seus familiares e teriam revelado envolvimento no crime e que, desde então, estavam desaparecidos. Inclusive, Jaciel já era procurado pela polícia, por ter um mandado de prisão contra ele em aberto. Colaboradores anônimos revelaram que Jaciel tem um moletom idêntico ao encontrado na cena do crime. É comum que assaltantes se vistam com várias peças de roupas, a fim de dificultar a identificação dos suspeitos. Eles cometem o crime e trocam de roupas na fuga. A Perícia Técnica da Polícia Civil, apontou que apenas o passageiro que estava na garupa da motocicleta, após a queda, empreendeu fuga no sentido em que foram encontrados os moletons. O condutor da motocicleta fugiu pela rodovia e se embrenhou em meio a uma lacuna da lavoura de café.

Os policiais conseguiram chegar até a casa de Jaciel que fica na zona rural, em um local chamado de “Pantano”, mas ele não estava em casa. O celular que ele utilizava foi apreendido com autorização da justiça e ao analisarem imagens, foi possível ver selfies tiradas por Jaciel que mostra ele com uma das blusas encontradas no local do homicídio. Um amigo íntimo de Jaciel prestou depoimento juntamente com outras testemunhas. Este, apontou Abner e Jaciel como sendo os autores do homicídio. Ele é o dono da arma, revólver calibre 38, que tinha costume de emprestar para Abner praticar assaltos. Este havia deixado o revólver com outro rapaz, Abner pediu emprestado para cometer um roubo, que tinha visto a dupla na moto e reconheceu as blusas apreendidas próximas ao Corpo do Sargento Rodrigo Sarto, como sendo as que foram usadas por Jaciel e Abner no dia do crime. Esta testemunha, confirmou a suspeita da PM, que eles foram a Boa Esperança praticar um roubo, mas que foram surpreendidos pela guarnição da Polícia Militar.

Uma ex namorada de Abner encontrada durante as diligências, afirmou que ele mandou uma mensagem de áudio para ela dizendo que Jaciel, a quem ele chamava de “Louco”, teria matado um policial. Ele revelou para ela, que estava pilotando a moto. Ela ouviu o áudio sozinha e contou o ocorrido apenas para sua mãe, mas que não acreditou e logo Abner apagou a mensagem. Ela chegou a orientar o ex a se entregar, mas ele não chegou a ouvir e acabou morto.

Jaciel estaria atuando no tráfico de drogas e obtendo uma grande vantagem financeira. Ele estava em prisão domiciliar desde janeiro deste ano. Foi orientado por sua advogada a simular tristeza durante audiência a fim de induzir a autoridade judiciária, mas bastou ganhar o benefício que voltou a se dedicar novamente ao tráfico de drogas.

Jaciel é o autor dos disparos que mataram Sarto

Polícia Civil de Três Pontas foi convocada a atuar no caso da morte do Sargento Rodrigo Sarto

A Polícia conseguiu ouvir diversas testemunhas que confirmam a relação entre Abner e Jaciel, e que apontam Jaciel como sendo o autor dos disparos contra o Sargento Rodrigo Sarto e não Abner, que foi morto durante confronto com a PM.

Abner foi encontrado na tarde de terça-feira (19), pela PM no bairro Monte Alegre e não se rendeu. No confronto, acabou sendo atingido por três disparos e foi socorrido pela própria PM em uma viatura. Ele foi levado para o Hospital Municipal de Cristais, onde foi atendido e depois em uma Unidade de Suporte Avançado (USA) do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), foi transferido para o Hospital de Campo Belo. No início da tarde do dia seguinte, ele não resistiu aos ferimentos e morreu.

No mesmo dia, Jaciel Mateus de Paula se entregou na Delegacia de Polícia Civil de Boa Esperança, acompanhado por um advogado de Campo Belo. Na ocasião ele permaneceu em silêncio. Posteriormente, depois de contratar outro advogado de Lavras ele prestou depoimento. O rapaz confessou que as blusas encontradas no local onde o Sargento estava ferido, eram dele e mais – que seria ele o autor dos disparos que mataram o Rodrigo Sarto.

Era Abner que estava conduzindo a moto no dia do crime. Detalhando o ocorrido, o veículo estava a mais de 100 quilômetros por hora e quando eles cairam, Jaciel feriu as mãos e o joelho, mas seu parceiro ficou bastante machucado. O acusado contou em depoimento, que adentrou em uma cerca, foi quando suas blusas ficaram presas e ele as retirou, deixando no local. O acusado diz que se deitou para engatinhar por baixo da cerca, quando foi alcançado pelo Sargento Rodrigo Sarto.

No impulso e apavorado ele reagiu, sacou a arma, um revólver calibre 38, que tinha comprado a cerca de um mês e fez os disparos. Mesmo estando em posição privilegiada e mais favorável, em cima de um barranco e a uma distância com condições reais para fugir e o policial abaixo, em posição desfavorável, ele optou por efetuar os disparos, demonstrando ato excessivo de violência e covardia, efetuando entre quatro e cinco disparos. A arma que ele usou tem capacidade para sete munições, mas ele só tinha cinco e ele atirou quatro vezes.

Depois disso, correu em direção ao final da rua de café onde se encontrou com Abner e eles seguiram em direção a rodovia de Cristais e fugiram. Eles conseguiram fazer contato telefônico com um homem, que não disse o nome, que teria ido buscar eles.  Chegando na cidade, cada um foi para suas casas. Sua família contratou um advogado, que não está mais no caso para ele se entregar.

Ele alegou que não conhecia o PM, não tinha intenção de matá-lo, que está arrependido, por isto, decidiu se apresentar voluntariamente e se entregar. Não fez isto antes com medo de ser morto.

Jaciel contou que é casado, é pai de uma menina de 1 ano e 6 meses, sua mãe tem idade avançada e sofre de depressão e lamenta pelo que aconteceu, pelo sofrimento que impôs a sua família, bem como por ter tirado a vida de um policial. Consta contra Jaciel Mateus de Paula, 121 registros policiais. Ele é considerado de alta periculosidade, na prática de diversos crimes, envolvendo violência e o uso de armas de fogo. Jaciel está preso a disposição da justiça e vai responder por homicídio qualificado contra servidor de segurança pública no exercício da função.

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