Entre eles, todos merecem aplausos, mas os destaques são: Matheus e Danilo, da esquerda para a direita. (FOTO: Arquivo pessoal)

Loui Jordan

“Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si, carrega o dom de ser capaz, e ser feliz”, é com esse trecho da música “Tocando em Frente”, que um trespontano vem trilhando seu brilhante caminho na música. Certamente Almir Sater tem razão, afinal de contas, quem melhor que nós mesmos, para compor nossa própria história. O músico Danilo Henrique Santos, de 23 anos, venceu ao lado de seu amigo e companheiro de música, Matheus Rodrigues, o 3º Festival Nacional de MPB Celly Campello. O evento ocorreu na cidade de Taubaté-SP, nos dias 12, 13 e 14 de julho.

O festival que recebeu nesta edição participantes e inscrições de todas as partes do país, teve a dupla trespontana como a grande vitoriosa. A melhor música, além de categorias como: música mais comunicativa, melhor letra e melhor interprete, ficaram na galeria de troféus de Danilo e Matheus. Por falar em troféu, a música “A imagem da Fé” que conta a história dos pescadores que encontraram a imagem de Nossa Senhora Aparecida é um verdadeiro “troféu” para a música de maneira geral.   

O festival “Celly Campello”

Antes de mais nada, Danilo trabalha com música, ou para quem preferir, é apaixonado por música desde criança. A inspiração pelas canções veio do seu bisavô, Godofredo (Da Usina Boa Vista), grande repentista que capitaneou por muitos anos a tradicional e adorável, “Companhia de Reis”. Isto posto, Danilo profissionalmente trabalha há 4 anos na Banda Exta’Z, e utilizando dos sons, letras, ritmos e de seu talento, as mais premiadas músicas. É claro que o entrosamento com o amigo Matheus é importante e no festival do último final de semana, os dois foram os únicos que não usaram a famosa banda de apoio.

Falando nisso, Danilo acredita piamente que a ausência da banda, foi um diferencial. “Acho que foi um diferencial, porque o pessoal estava fazendo com muita banda, muito instrumento e a gente chegou lá fez o mais simples, ficou simples. Assim, sempre no nosso estilo de apresentação, nós tentamos fazer o mais simples possível, a gente tenta fazer uma pegada bem regional, só com viola e sem instrumento de percussão, uma coisa mais simples”, diz o cantor. As atrações em Taubaté foram divididas em três dias, na sexta e no sábado fase classificatória e no domingo a final. Nos dois primeiros dias, 20 grupos se apresentaram, 10 em cada dia, acabando com 10 na final, ou seja, 5 de cada dia avançaram para a decisão.

Sobre o nível de competitividade do torneio musical, Danilo conta que desde o início no processo de seleção, já era difícil de acreditar na convocação, tamanha a qualidade do evento. “É um festival que já é muito famoso ali naquela região, a gente nem acreditava que iria passar para se apresentar lá e foi uma surpresa muito grande quando saiu o resultado. A gente pôde ir pra lá e além de tudo, ter conseguido todos os troféus que a gente conseguiu”. Para ganhar em 1º lugar de melhor música é necessário no mínimo ter uma coisa: vocação.

Como Danilo e seu parceiro Matheus já são experientes no meio, o dom em fazer e formatar letras e formas distintas de som, é uma vocação que exige determinação e foco. No caso da criação de repertório, Matheus é o mais escritor e compositor dos dois, embora é bem verdade que as criações surgem das formas mais naturais possíveis, a sintonia de um com o outro é uma ligação que só uma arte como a música pode traçar.

Sobre o fato de ligação e sintonia, é bom dizer que a música com a qual a dupla venceu o “Celly Campello”, não tem apelo e predileção religiosa. Se trata apenas de contar através da melodia, um fato que comove e toca um grande público. O motivo e os bastidores por de trás dessa música e dessa letra, mas principalmente dessa escolha, é a imagem que traz os pescadores para o enredo. “Quando a gente foi compor essa música, a gente quis fazer uma música a respeito da Nossa Senhora Aparecida. E aí no processo de composição o Matheus pensou uma coisa que foi genial, porque ele pensou assim, poxa o pessoal sempre faz homenagem para Nossa Senhora que é muito querida, mas ninguém nunca falou dos pescadores que encontraram Nossa Senhora. Então, essa música conta a história dos pescadores que encontraram Nossa Senhora Aparecida”, revela Danilo.

Para não dizer somente deste festival, eles já venceram o Festival Canto Aberto. Na edição de 2018 levaram o 1º lugar com a música “Sangue Mineiro”, que aliás, estará nos palcos do Festival Nacional da Canção (Fenac) no dia 23 de agosto em Três Pontas. Pela segunda vez os dois cantarão novamente esta canção, se ela levou o Canto Aberto, o mesmo não pode ser dito no Fenac. A dupla participou pela primeira vez em 2018 e foram digamos “vetados” com ela. A aposta é que o estilo é muito bom, afinal de contas já está mais do que credenciada com o mais alto lugar no pódio do festival municipal.

Para finalizar os acontecimentos em Taubaté, Danilo ressalta o valor da parceria com Matheus e claro, exalta o entrosamento dos dois. “Aí a gente faz uma parceria, ele me manda a poesia escrita e aí eu vou trocando as palavras, criando arranjo. A gente vai fazendo assim, deu muito certo. Ano passado a gente fez Sangue Mineiro juntos que foi a canção que a gente ganhou o Canto Aberto e se apresentou no Fenac e esse ano deu certo de novo. A gente conseguiu mais festivais porque a gente fez mais inscrições e o Fenac de novo,” acrescenta o vencedor do Festival Nacional de MPB Celly Campello. Por se tratar do primeiro “show” em Taubaté, a experiência ajudou no enriquecimento e na coroação dos cantores que já deixaram de ser promessas, passando a galgar realidades no mundo da música.

Danilo e Matheus Rodrigues, músicos vencedores do festival em Taubaté. (Foto: Arquivo pessoal)

A paixão pela “música raiz” e pelos festivais

Moda de viola ou música raiz, chame como bem entender. A verdade é que Danilo tem um amor por esse gênero. De acordo com o vocalista da Banda Exta’Z, a união da música raiz com os mais variados festivais, faz com que ele se sinta feliz fazendo o que mais gosta. “Infelizmente o mercado para viola hoje em dia é muito escasso. Então, é muito pouco valorizado, inclusive é uma felicidade muito grande nos festivais, porque é uma oportunidade que eu tenho de tocar o que eu amo desde a infância e ser valorizado por isso”. Mesmo que desvalorizada no mercado, a música da roça, da união, da sabedoria, do povo, e da simplicidade, faz com que as coisas sejam vistas e no caso, ouvidas, com menos superficialidade.

O jovem que decidiu seguir os conselhos do tio, dos pais e das pessoas a sua volta, se destaca pela sua simplicidade, palavra em pauta na música caipira. Para Danilo, sua maior qualidade, aquilo que mais o encanta, é a forma simples de fazer o extraordinário parecer fácil. “O que eu acho que mais chama a atenção na minha forma de tocar é a simplicidade. É isso que tem conquistado as pessoas, a forma autêntica de tocar. Sempre quando a gente compõe não é uma música com muito acorde. A gente sempre preza a simplicidade, tentar falar de coisas que eu vivi ou que o Mateus viveu. Eu cresci no campo, na roça e a viola chama muito isso e a gente tenta fazer o mais simples possível para tentar tocar o coração das pessoas”, relata o cantor que de degrau a degrau, decolou na simplicidade.

Um lado interessante, é o fato de uma banda de 25 anos de história na qual Danilo está inserido desde um passado recente, cantar um estilo diferente. Se o rapaz que quando tinha 17 anos teve oportunidade de estudar música em Curitiba e que desde muito pequeno, observa admirado as canções do campo, tocar funk, pagode, sertanejo universitário, pop, enfim, tudo o que se imaginar, não é fácil, mas também não é difícil. O amor pode sim estar nas raízes dos cânticos “caipiras”, no entanto, a música o atrai. A única dificuldade segundo ele, seria compor uma música da atualidade que fala sobre os clichês do cotidiano da juventude.

O bisneto de Godofredo, sempre estudou sozinho em casa. O desejo de tentar uma faculdade de música, vira e mexe volta, como há dois anos atrás, mas o mesmo já salientou que sua paixão é com o violão na mão. A formação é importante, não há o que negar, entretanto, um dos melhores certificados da vida, é ser feliz com o que o vive. Danilo é privilegiado por escolher a música, o mesmo pode-se dizer dela por ter Danilo como seu representante.

Compondo sua história

Dos projetos visados por Danilo, a música raiz, a presença em festivais e continuidade na banda, fazem parte do seu leque. Tocar violão, viola caipira, cantar e ainda ser um vencedor, orgulha muito todos a sua volta. O também compositor que trabalha o lado regional, tem convicção que seu lugar ao sol é nos festivais e de quebra, cantando o que gosta. “Eu estou completamente apaixonado por esse mundo de festivais, e o que eu quero para o futuro, é poder criar uma identidade nesse universo, nesse circuito de festivais como um dos grandes festivaleiros. Eu tô chegando agora e graças a Deus tem dado muito certo. Eu tive oportunidade de conhecer um pessoal que toca há 25, 30 anos em festivais. E a gente tem a oportunidade de estar lá com eles e até pegar troféu junto com eles. Então, o que eu quero para o futuro é poder levar essa música raiz, porque muita pouca gente faz isso hoje em dia e já é o que toca no meu coração”, revela Danilo.

Além de vencedor, Danilo é um dos três vocalistas da Banda Exta’Z. (Foto: Arquivo pessoal)

Talvez o destino trace um outro caminho ou pelo menos, um outro meio de divulgação. Danilo, reconhece o desejo de um dia se apresentar na TV. O cara que cantava na rodinha de amigos e teve sua “fase dos barzinhos”, se vê em um estágio de encantamento e crescimento. Sua “fome” por música, só será parcialmente saciada no cantar delas. Por fim, Danilo divulga como é o processo de “aprovação” de uma música e até nisso ele é simples em admitir que as opiniões são fundamentais. “Todas as vezes que a gente apresentou a música, o pessoal se emocionou muito e gostou. Aí a gente vai apresentando aos poucos, para os amigos e os mais próximos. Acho que o feedback tem que vir primeiro de quem está mais perto, porque quem tá mais perto tem a intimidade de falar: ‘olha eu não gostei disso, acho que vocês poderiam ir por esse caminho’. A gente apresenta assim, aí depois que a gente vê que está concluído o projeto, a gente vai e grava”, finaliza Danilo.

Ele, assim como Matheus e também a banda na qual faz parte, formam um conjunto que trata a música como forma de viver. É claro, tem o lado comercial, mas o lado pessoal é motivador, sempre tem um preço especial. Aos prêmios conquistados e aos que ainda virão, é de se aplaudir e pedir “bis”. A dupla que encantou o público na Praça Monsenhor Silva Barros, em Taubaté, volta a compor sua história dia após dia, festival após festival. O que importa não é sempre vencer, mas sim estar presente, até mesmo porque o extraordinário é fazer isso parecer normal. A música agradece.

“Esse ano entramos de cara nos festivais”

Resumo de eventos e premiações

FESTIVAL NACIONAL DE MPB CELLY CAMPELLO

Final dia 14 de julho

– 1º lugar com a música “A imagem da fé”

Abaixo o link no You Tube

Outras premiações:

– Música mais comunicativa

– Melhor letra

– Melhor intérprete

FESTIVAL CANTO ABERTO

2018 – Vencedor com a música “Sangue Mineiro”, que fala do homem do campo

2019 – 3º lugar

FENAC

*Será a segunda vez que eles vão participar

2018 – Não se classificaram com a música “Sangue Mineiro”

2019 – No dia 23 de agosto em Três Pontas, vão cantar a música “Sangue Mineiro” novamente