A enfermagem se deparou em 2020, com um desafio que talvez tenha sido a maior das últimas décadas: a pandemia de Covid-19. A situação exigiu uma resposta rápida dos profissionais, que, ao se colocar na linha de frente do combate ao Coronavírus, passaram a chamar mais a atenção, afinal, são os enfermeiros que estão em contato direto com os pacientes, tanto os suspeitos quanto os confirmados com a doença.

Devido ao protagonismo da enfermagem nos últimos tempos, a profissão tem passado por uma valorização maior, mas que almeja ainda ser reconhecida financeiramente.

A enfermagem não pode ser resumida ao atendimento de pacientes, mas ao carinho, dedicação e atenção dadas as pessoas que estão enfermas. De acordo com a coordenadora e responsável técnica pela enfermagem, do Hospital São Francisco de Assis de Três Pontas, Alessandra Coelho Pereira Oliveira, apesar dos anos de experiência e da morte ser um processo natural de todo o ser humano, Alessandra Oliveira afirma que toda perda é um sofrimento e antes que ela aconteça, a luta é incessante.

Nesta quarta-feira, 12 de maio, no Dia Internacional da Enfermagem, conversamos com Alessandra Coelho sobre os desafios desta profissão e o momento que eles estão enfrentando, exaustos de tanto trabalho e sensíveis a toda perda provocada por esta pandemia desconhecida.

Alessandra Coelho é enfermeira a 12 anos, trabalha a 7 na Santa Casa e tem 2 anos e 2 meses a frente da equipe de enfermagem, com 25 enfermeiros, 134 técnicos, 4 secretarias de ala e uma secretaria de enfermagem, sendo o maior quantitativo do Hospital.

ENTREVISTA

Enfermeira – Alessandra Coelho Pereira Oliveira
Coordenadora e responsável técnica pela enfermagem

Alessandra, como é ser um profissional de enfermagem?

Gostaria de agradecer pela oportunidade e parabenizar todos os meus colegas por esse dia, os enfermeiros, os técnicos que fazem parte da nossa equipe e mas também todos aqueles que não trabalham nesta instituição. A enfermagem em um contexto geral é um dom e para poder obtê-lo a gente tem que ter ciência, ser destinado para receber este dom e ter dedicação exclusiva constantemente. Trabalhar na enfermagem é um prazer pessoal e profissional que a gente tem. Participamos da vida de um ser desde o nascimento até o contexto final, que é o que todos nós vamos passar um dia. E para isso, só tem enfermos se tiver hospital e só tem hospital se tiver a enfermagem. Precisamos de todos os líderes, de todos os setores, mas para termos os cuidados com os pacientes precisamos da enfermagem. Mas do que um dom, a enfermagem é uma vocação, procurada pelas pessoas que destinam a este trabalho e são retribuídos por ele, financeiramente dentro de uma instituição e retribuídos pela emoção e doação aos pacientes quando eles saem bem depois de todo o cuidado ofertado.

Com exceção da pandemia, qual é o maior desejo que os profissionais de enfermagem tem?

Acho que o maior desejo da classe em geral é ser valorizada. Não apenas com palavras, porque ano passado nós tivemos para os católicos o ano da enfermagem e todos os anos para nós que vivemos e vivenciamos os cuidados dia a dia dos pacientes, queremos ser valorizados financeiramente mediante os trabalhos ofertados.

Diante da pandemia da Covid-19 qual a maior dificuldade que vocês enfrentam atuando na linha de frente?

Diante da pandemia é estar de frente com algo que a gente desconhece. A gente sabe bastante, estuda e tenta se atualizar todos os dias e ao mesmo tempo a gente tem dúvidas, ficamos na preocupação do que está contaminado e o que não está. Se a gente está recebendo ou transmitindo o vírus, porque não é um “bom presente”. Estamos de frente de um escuro total de onde está o vírus neste momento e ficamos preocupados com a forma alarmante que ele vem modificando dia a dia. Todos os dias acontecem as mudanças. A gente recebe alguém bem e ao mesmo tempo ele desestabiliza. Mas valorizamos também o contrário, de quando o paciente que chega grave e saem daqui com diploma na mão. No mês passado, nós tivemos a iniciativa de fazer um diploma para quem está deixando o nosso Hospital curado da Covid-19, porque é uma vitória do paciente, da família, mas é uma vitória nossa também, que é muito valorizada por toda equipe hospitalar.

Como foi a reação da família de vocês desde quando começou a pandemia, colocando-se em risco para atender as pessoas que estão aqui?

Com as nossas famílias desde quando a gente faz o curso de enfermagem, estamos apoiados pelas nossas famílias, porque a gente descobriu que tem uma vocação, uma profissão e temos o apoio familiar. Diante da pandemia a gente vê que é muito difícil. Eles tem as preocupações assim como a gente tem e tratamos diariamente. A gente toma todos os cuidados dentro do Hospital, após sair daqui para irmos embora e não levar nada para casa. E para vir trabalhar também temos os mesmos cuidados para não trazer nada para cá.

O processo de vocês acompanharem um paciente e depois ele vir a óbito, se torna algo, digamos, normal, que é inerente a profissão? Com a pandemia isto tem sensibilizado mais os profissionais?

Eu sempre falo que a gente não acostuma. Toda perda é um sofrimento. Nós temos paciente de mais de 100 anos que nós conseguimos reanimar. A gente não espera perder e lutamos até o fim para que isto não aconteça. A única realidade do ser humano é que um dia ele terá um fim, mas mediante a enfermagem e a medicina a gente não se dá por vencido até que se tenha o finalmente, porém, com a morte ela se torna uma derrota para a equipe. Diante da pandemia estamos com os profissionais todos exaustos. Tem mais de um ano que estamos nesta luta direta. Temos profissionais que tem ficado sensibilizados, principalmente nos dois setores que temos dedicados exclusivamente para pacientes com Covid-19.

Dizem que não existe um bom médico sem uma boa equipe de enfermagem. Você concorda com isto?

Concordo plenamente. Precisamos de bons médicos e excelente equipe de enfermagem. A gente precisa de todos os profissionais, de alguém para a recepção para ter a entrada no Hospital, de todos os serviços de lideranças que temos na instituição e principalmente de uma equipe bem formada e multidisciplinar como temos aqui no Hospital como – fisioterapia, nutrição, enfermagem, médicos, serviço social, psicologia, o setor administrativo, de cozinha, copa, lavandaria, higiene, manutenção, limpeza enfim, todos estão envolvidos.

O enfermeiro precisa se doar, oferecendo carinho e atenção a cada atendimento? Isto é importante para o paciente?

Com certeza. A gente faz reversão troca por com bom atendimento e cordialidade temos muitas vezes a melhora clínica mais rápida diante de sinais e sintomas da patologia do paciente. do profissional de enfermagem diante desta pandemia.

Qual o recado você manda para as pessoas em relação a isto?

Diante da exaustão do profissional o recado para a população é que coloquem a mão na consciência, priorize sair de casa somente se necessário, tome todas as medidas de prevenção pra contermos o avanço do vírus, se colocar no lugar de quem está se expondo para cuidar de todos. Assim que podemos conter o avanço deste vírus. A maior parte ainda não se conscientizou da forma e do avanço e gravidade que vem tomando conta do cenário de pandemia.

Representando toda a classe da enfermagem, qual a mensagem você dedica a eles?

Eu gostaria de parabenizar todos os colegas, técnicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem por este dia, por todos os dias, por conseguirmos entrar na vida das pessoas através dos cuidados e dedicação. Quero também agradecer aos nossos pacientes por entrarem na nossa vida. Quero agradecer muito a Deus pela força diária que Ele nos dá.

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