Mariama compartilhou nas redes sociais a experiência de dar a luz, enquanto estava infectada pela Covid-19. E o menino Bento, que tem no significado de seu nome “bendito”, chegou abençoado pela proteção divina, assim como a mãe

A pandemia provocada pela pandemia da Covid-19 trouxe ao longo do ano de 2020, muita tristeza e lamentações, fez com que as pessoas ficassem sem se tocarem, sem se abraçaram e demonstrarem os sentimentos mais puros, sinceros e fortes, como o carinho, a amizade e o amor ao próximo, seja ele um amigo, um pai ou um mãe ou um marido ou a esposa. E o pior aconteceu na vida de muitas famílias, a perda de um ente querido, que foi embora de uma forma inesperada, as vezes consequência de um sofrimento vivido no leito de um hospital.

Contar histórias como estas, que revelam o drama que vivemos neste ciclo que acabamos de concluir, foi pautada para muitas reportagens. Mas há também aqueles personagens, que enfrentaram a doença, estão vivos, se sentem ainda mais fortes e se tornaram mais tementes a Deus pela segunda chance que tiveram.

Uma destas lindas histórias é da professora de educação física Mariama Neves Simão Brito de 36 anos. Formada em educação física, ela é gestora da academia da família, a Aacqua Life. Ela viu sua vida, bem planejada com a chegada do segundo filho, se transformar em momentos de apreensão e medo, depois de contrair o vírus da Covid-19, da própria filha, a Clara Simão Miari de 6 aninhos. Ela descobriu a doença estava grávida de 37 semanas e por recomendação médica, o “bendito”, “abençoado”, Bento teve que vir ao mundo antes do que ela previa. É bom dizer que o nome dele que tem estes significados, já havia sido escolhido antes de tudo acontecer, e quem sabe foi este anjinho, quem intercedeu por Mariama dos riscos que ela correu.

Ela nos recebeu em sua casa no horário agendado, mantendo todos os cuidados como o distanciamento e o uso de máscara. Tivemos que compreender que uma mãe não tem horário para nada, troca o dia pela noite, por isso, enquanto nos contava sua história, ela amamentava o pequeno Bento em seu braços. O bebê nos ajudou, estava  sendo amamentado e foi para o colo da avó, a professora Edilamar que deixou seus afazeres para cuidar dos netinhos.

Os sintomas começaram depois que Clara foi ao aniversário de um amiguinho. Ela se recusou a comer bolo, brigadeiro e outras guloseimas que ela adora. Pior que isto, disse que não estava sentindo gosto das coisas. No dia 16 de dezembro, uma quarta-feira, no dia da sua missa de formatura do pré escolar. A mãe percebeu que ela já estava diferente. A menininha tinha pedido para a família jantar fora, uma forma de comemorar, mas Clara não quis brincar e não comeu. Voltou para casa e não teve mais febre. Desconfiada, Mariama pediu ao dono do restaurante um termômetro e quando foi medir a temperatura a criança estava com 37,5º. No dia seguinte, procurou o pediatra Dr. Geraldo Emílio, que alegou que poderia ser uma virose comum desta época do ano.

Mariama com Bento nos braços na saída do Hospital, após o nascimento realizado através de procedimento cirurgico. Fotos: arquivo pessoal

No dia seguinte teve mais febre e depois na sexta acordou melhor e o estado febril passou. Já no sábado dia 19 de dezembro, ela pediu ao pediatra que queria fazer o teste de Covid-19 na filha e diante destes sintomas o médico concordou. Ela foi em uma farmácia, mas foi orientada que deveria esperar 10 dias após os sintomas para detectar se a menina estava infectada. Ela não se acomodou, procurou o Hospital da Unimed e no plantão havia uma pediatra. Clara estava tão agitada, o que é normal para uma criança da sua idade, que a médica disse que dificilmente o problema seria o Coronavírus. Mariama insistiu pelo teste, mas teve que esperar a segunda-feira, dia 18.

No fim de semana, Clara recusou comer as coisas que mais gostava, mas brincava normalmente, ficou sem paladar e diante da insistência para se alimentar, a menina revelou que estava com um gosto e um cheiro diferente na boca, sem saber explicar o que seria.

Antes de segunda-feira, no sábado a noite mesmo, Mariama começou a passar mal. Sentia dores no corpo e no domingo de manhã, também estava com 37,5º de febre. Passou o domingo inteiro com enxaqueca e mal estar. Virou a madrugada toda acordada. Como a febre persistiu, ligou para sua ginecologista e obstetra, a doutora Márcia Andreia.

Na segunda-feira, Clara fez o exame para detectar a Covid, mas o dela teria que esperar mais três dias. No dia seguinte, Mariama recebeu uma ligação da Unimed informando que a filha havia positivado e foi recomendado o isolamento imediato. A mãe passou a ter dores de garganta e dores nas pernas, do joelho para baixo. Ela conta que era tão forte, que tinha a sensação que seus ossos estavam se quebrando.

A obstetra pediu que fizesse vários exames com urgência, entre eles o Dimero-D, que detecta a trombose em pessoas que contrairam o Coronavírus, para que fosse submetida a um tratamento com antibiótico.

Na quarta-feira, o exame ficou pronto e a noite enviou à Dra. Márcia Andreia. O contato de Mariama foi todo feito virtualmente, pela internet. Um dos exames deu uma alteração muito grande. De uma variação entre 600 a 700 que poderia ser diante da gravidez, o da gestante apontou 5.000. Isto preocupou a médica e também a mãe, porém, sentia apenas um cansaço, mas continuava com sua rotina caseira normal, fazendo inclusive os serviços de casa, já que teve que dispensar sua funcionária. Ela, a filha e o marido Tiago Miari ficaram isolados em quarentena e com uma preocupação porque os sintomas mais graves durante a gravidez vem na segunda semana. Mariama se desesperou, chorava muito e bateu o medo. Era preciso decidir sobre a gravidez, antecipar o parto ou esperar. É preciso registrar que Tiago, que ficou isolado com elas, testou negativo.

Dra. Márcia Andreia consultou outros profissionais e decidiu por marcar uma cesariana. Como a criança estava formada,bem de saúde e pronta para nascer, o risco de vida que estava correndo era a mãe. Ela precisava tratar da Covid-19, sem que o menino estivesse na sua barriga. O procedimento cirurgico foi agendado para o domingo dia 27 de dezembro. Ela se internou de manhãzinha e as 10h30, com 38 semanas e 5 dias, Bento nasceu, pesando 2,850kg, com 49 centímetros. “Não era esse o meu sonho, mas nem sempre as coisas saem do jeito que sonhamos, o importante é que ele veio com saúde”, comemora a mãe.

Mariama e o pai Tiago com Bento e as funcionárias da Santa Casa

Para realizar o parto, o Hospital São Francisco de Assis teve que montar uma estrutura especial e exclusivamente para ela por causa da doença. Ela ficou isolada na pediatria, usando máscara o tempo todo. A criança depois que veio ao mundo, foi ficar direto com a mãe, acompanhada por uma equipe de profissionais da Santa Casa e não foi para o berçário, como acontece naturalmente, pois Bento teve contato com o vírus.

Cerca de 10 horas depois, os médicos já entraram com a medicação, um coagulante para que Mariama tratasse o Coronavírus. Dois dias depois recebeu alta hospitalar e os funcionários do hospital se emocionaram com mais esta vitória. Agora, já em casa, livre da doença, ela conta esta trajetória com tranquilidade, bem diferente dos dias que viveu de insegurança. Hoje considera ter sido abençoada por um milagre de Deus e só pede que Ele continue na sua vida e de sua familia.

Mariama conclui agradecendo imensamente a toda equipe do Hospital São Francisco de Assis que não mediram seus esforços, por terem sido tão atenciosos com ela e com seu filho Bento e também a todos que a acompanham nas redes sociais e a deram tanta força nesse momento tão difícil que passou. Isto fez toda a diferença.

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