Rapaz foi preso poucos dias após o crime. Foto: Arquivo EP

 

A justiça condenou Igor Alves de Sousa a 14 anos de prisão em regime fechado, pela morte da sua esposa, Rita de Cássia da Silva, morta a pauladas dentro de casa. O crime foi registrado em setembro do ano passado, no bairro Ponte Alta e poucos dias após a abertura do inquérito para apurar o caso, a Polícia Civil já tinha a autoria do crime, pediu a prisão do suspeito e Igor Alves está preso desde então aguardando julgamento.

A sessão realizada nesta terça-feira (30), teve início as 9:30 da manhã, no Salão Nobre do Fórum Dr. Carvalho de Mendonça e foi acompanhado por policiais civis que atuaram na investigação e alguns familiares do acusado. O acusado na época tinha 40 anos e a esposa Rita 37. Ela era uma procurada pela justiça, havia um mandado de prisão expedido pelo Poder Judiciário contra ela. A acusação era de que ela consentia os abusos sexuais que eram cometidos contra suas próprias filhas. O rapaz já tem histórico na polícia por violência doméstica. Ele já agrediu a sua irmã com barra de ferro, ameaçou sua sobrinha e já tentou matar sua ex-companheira, inclusive desferindo uma facada contra ela.

Igor Alves foi ouvido no período da manhã e o espaço foi aberto para acusação e defesa em seguida. O promotor de justiça Dr. Estevan Sartoratto iniciou mostrando dados de 2019 relacionados a violência contra a mulher e informando que infelizmente, os números dispararam durante a pandemia da Covid-19, inclusive casos de feminicídios como este registrado em Três Pontas. Antes de falar do caso, fez ampla menção ao trabalho de investigação realizado pela equipe da 15ª Delegacia de Policia Civil, que trouxe um relatório coeso, mostrando a forma como Rita foi morta e determinando sem dúvidas nenhuma a sua autoria. Aliás, segundo o promotor, os inquéritos confeccionados pela equipe, sempre estão recheados de elementos de convicção que confirmam e dão certeza dos fatos.

Ao autor disse que ele sempre fez escolhas ruins em sua vida e o quis integrar o mundo do crime. Já a vítima, parece ter nascido para sofrer. Quando criança foi vítima de violência sexual dentro de casa. Depois de adulta e casada, permitiu que suas filhas também fossem vítimas de seus companheiros.

As investigações se iniciaram, depois que a Polícia Civil foi acionada no Hospital São Francisco de Assis. A mulher estava com o corpo cheio de hematomas e lesões. Ela deu entrada no Pronto Atendimento Municipal (PAM), as 20:00 horas e 50 minutos depois, quando deu entrada em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ela acabou não resistindo e morreu. Rita de Cássia sofreu o rompimento do fígado que ocasionou uma hemorragia.

A mulher foi encontrada desacordada e em parada cardiorrespiratória. Foi reanimada com massagem cardíaca pelos socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), ainda no local. A equipe teve que parar no caminho e fazer o trabalho novamente. Porém, da hora que Igor chega em casa e diz ter encontrado a esposa caída no chão da casa se passou cerca de meia hora. Ele primeiro chama pela sua mãe que mora na residência ao lado e depois é o padrasto dele quem aciona o socorro. “A versão dele, de que a mulher não queria que o socorro fosse chamado com medo de que a polícia descobrisse e a prendesse, é uma grande lorota contada por ele”, classifica o promotor.

Ainda segundo a acusação, as versões dadas pelo indiciado não batem, são completamente contraditórias e no seu depoimento no Juri ele trouxe novas histórias para justificar sua conduta cruel e criminosa. A versão que contou aos vizinhos de que a esposa havia falecido por infarto foi logo descartada ainda nas investigações. No dia, Igor não foi ao velório e nem no sepultamento e quando os policiais estiveram com ele, não encontrou uma pessoa enlutada e sim embriagada

Um dia depois, Igor Alves foi a Delegacia acompanhado de um advogado. Ele sempre disse que nunca havia brigado com Rita, que não tinha nenhum inimigo, mas depois alegou que os dois são usuários de drogas e que eles deviam dinheiro para pessoas que estariam a ameaçando.

Quando os investigadores foram ouvir os vizinhos ao lado, eles disseram que a vida do casal era normal, porém, se tratavam de familiares dele. Quem morava um pouco mais distante, mas sabia da convivência entre os dois, revelaram um homem extremamente violento, que foi capaz de brigar e agredir a esposa no meio da rua. Isto está em depoimento no inquérito.

A Perícia realizada no local encontrou pedaços de madeira com fios de cabelos longos e sangue. O sangue estava inclusive nas paredes do banheiro, em uma altura que descarta a possibilidade da versão dada por Igor, de que a mulher estaria menstruada. A perícia no corpo mostra lesões internas, no fígado, também nas pernas, nas nádegas, nos braços, nos ombros e na cabeça. O trabalho foi capaz de identificar pela coloração das marcas, que Rita de Cássia estava apanhando a pelo menos uma semana. No dia do crime, ela estaria acamada, nem conseguiu se levantar. Uma testemunha ouviu Igor gritar que se ela não levantasse, ele a mataria.

Em seu depoimento, Igor chorou. Disse que amava a esposa, que ela dizia que ele era a única pessoa que ela tinha. Sobre a ida dele na festa, mesmo com a mulher acamada e a alegação dada por ela por convidados de que ela não queria ir, o indiciado contou que a mulher não queria receber visitas naquele dia, uma vez, que a residência deles era bastante movimentada.

O rapaz diz que quando voltou para casa, não encontra Rita deitada onde deveria, em uma cama colocada na sala, mas estava caída no banheiro. Que ela não queria que fosse socorrida com medo de ser presa. Ele acrescentou que sempre trabalhava, ou fazia bicos recolhendo reciclagem na cidade, que bebe com frequência, mas que isto nunca foi problema.

Por volta das 15:30, a sessão foi reaberta ao público depois da votação e foi lida a sentença. Igor Alves foi condenado a 14 anos de prisão por feminicídio com qualificadora por meio cruel.

Defesa e acusação disseram que irão recorrer da sentença. A Promotoria tentando aumentar a pena dado aos antecedentes e a reincidência do sentenciado. A pena mínima para o crime de feminicídio é 12 anos e a máxima pode chegar 30 anos de prisão.

Antes de encerrar a sessão, ao fazer os agradecimentos pelo apoio para a concretização do juri, Dr. Enysmar Kelley de Freitas enalteceu o trabalho desempenhado pela equipe de investigadores da Delegacia de Três Pontas. Falou das provas sempre robustas apresentadas em seus relatórios e em nome do delegado Dr. Gustavo Gomes e do inspetor Gustavo Domingos, disse que não esconde que a PC do Município é uma das melhores do Estado.

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