Dr. Eduardo, o provedor Michel Renan e Dr. Geovanni

 

O fechamento dos setores de Pediatria e Maternidade do Hospital São Francisco de Assis de Três Pontas ficou para esta quinta-feira (12). O comunicado já foi feito às autoridades municipais e municípios atendidos na entidade que nesta quarta-feira (11), já não haveria atendimento, mas, após uma reunião realizada na tarde de ontem, eles decidiram conversar com representantes dos profissionais dos setores afetados a fim de encontrar uma solução para que o atendimento permaneça. Porém, se não for encontrado solução, não há outra maneira a não ser parar. Os recursos precisam chegar para que as coisas funcionem.

Em uma entrevista coletiva no início da noite de ontem, o provedor da Santa Casa Michel Renan Simão Castro e os diretores clínico e técnico Dr. Geovanni de Barros Pereira e Dr. Eduardo de Vasconcelos Camargo, respectivamente, anunciaram que a decisão de parar foi tomada em conjunto, diante da falta de pagamento dos profissionais, provocada pelo não repasse de recursos financeiros pelo Governo do Estado de Minas Gerais. Eles somam somente em 2018, cerca de R$600 mil, porém, o montante da dívida está calculado em R$5.339,797,87, que apesar de ser negado pelo Estado está disponível no Portal Transparência.

O diretor técnico Dr. Geovanni Pereira, explica que neste momento, o maior problema é a manter a escala de profissionais nestes dois setores. Na ginecologia, ou seja, na Maternidade Nossa Senhora de Fátima, 40% dos plantões estão sem médicos. Estes eram realizados por médicos eventuais, de outras localidades que não querem trabalhar mais por falta de pagamento. E pela falta de credibilidade justamente por isto, nenhum outro quer trabalhar na entidade sem saber quando vai receber, por isto, estão procurando outros lugares para trabalharem. “Não está faltando médicos, falta pagamento”, pontua o diretor.

Segundo Dr. Eduardo Vasconcelos, mês a mês a situação está piorando, mas nos últimos 60 dias, está sendo feito um malabarismo para manter a obstetrícia, onde são feitos cerca de 10 partos por dia, mas a escala está tão descoberta que para evitar um risco maior, pela própria segurança dos pacientes, o melhor é encerrar as atividades e as gestantes e crianças procurar outros lugares.

Nesta quarta-feira ainda haverá médico disponível na Maternidade, que vai analisar caso a caso as pacientes. Mas, não serão aceitos pessoas de outras localidades, que não estejam em trabalho de parto, já que amanhã, quinta-feira (12), não tem médico, a não ser que a situação se regularize.

O montante para quitar todos os seis meses de salários atrasados é de R$2,6 milhões. Não há outra a saída a não ser o repasse do Estado, já que a Santa Casa está negativada e não consegue financiamentos em instituições financeiras. “Os recursos já não são suficientes, e sem eles, a Santa Casa está condenada a morte”, definiu o provedor Michel Renan.

A intenção é clamar ao governador Fernando Pimentel (PT), que envie os recursos que o Hospital tem direito, caso contrário, serão cerca de 150 mil pessoas desasistidas na região.

No caso da Maternidade, se alguma paciente chegar em trabalho de parto, elas receberão toda assistência, mas fora esse caso extremo, nenhum atendimento será feito, principalmente de pacientes de outras cidades

Ajuda de outros municípios não se concretizou 

Há mais de um ano, a direção da Santa Casa, com a participação ativa do Ministério Público, tenta convencer e sensibilizar os prefeitos das outras cidades que seus moradores atendidos pelo Hospital, para que colaborem financeiramente. Ainda mais que foram demonstrados por diversas vezes que os recursos recebidos pelo governo são insuficientes. Os municípios de Santana da Vargem, Coqueiral, Boa Esperança e Ilicínea até trataram de ajudar, aprovando inclusive um projeto de lei nas Câmaras de Vereadores. Porém, até hoje dinheiro algum chegou para o Hospital. A cidade em que está mais concreto é Santana da Vargem e o recurso deve chegar até a próxima semana. Em Coqueiral, segundo Michel, o projeto está na Câmara Municipal. A situação pior é Boa Esperança e Ilicínea, que ainda precisam ser sensibilizados e não sinalizaram. O problema vai além, no caso de Boa Esperança já foram gastos nestes seis meses, o que é pactuado para o ano inteiro e Ilicínea está devedora. Desde 2015 o Governo do Estado não repassa o extrapolamento ao Hospital. “Peço a estes prefeitos que nos ajudem, porque os pacientes das cidades deles ficarão sem atendimentos. A Santa Casa não é da cidade de Três Pontas é de todos os municípios da microrregião”, alertou Michel Renan.

Próximos setores que podem parar

De acordo com os diretores da Santa Casa, a maior dificuldade neste momento é manter a escala de profissionais destes dois setores, porém, isto já está se estendendo para outras especialidades, como a clínica médica, que necessita de malabarismo para ser mantido os profissionais sem comprometer o atendimento aos pacientes. Dr. Geovanni diz que se não houver resolução deste problema financeiro, o próximo setor a parar é a clinica médica e depois a Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Falta de pagamento dos médicos não é de agora

Há exatamente um ano, profissionais da clínica médica anunciaram que iriam parar os atendimentos na Santa Casa. O motivo? O mesmo. A falta de pagamento dos salários que completava cinco meses de mais de 50 médicos. Da mesma forma, a manutenção dos plantões se tornou inviável e desumano aqueles que restaram. Em uma assembleia realizada pelo Sindicato dos Médicos do Estado de Minas Gerais, o Sinmed, com o amparo do Conselho Regional de Medicina (CRM), o comunicado foi feito às autoridades que apenas casos de urgência e emergência seriam.

Duas semanas depois, os médicos fizeram um acordo, assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), intermediado pela Promotoria de Justiça, e voltaram ao trabalho. Neste período, apenas os casos de urgência e emergência foram mantidos.