No dia que se comemora o Dia do Patrimônio Histórico, 17 de agosto, a Prefeitura de Três Pontas, através da Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Turismo, lançou um documentário sobre Três Pontas. Produzido pela Usina Áudio Visual, a série foi dividida em 9 capítulos é contada na voz de Paulo Costa, um ilustre cidadão trespontano que adentrou o universo da história. Um pesquisador que tinha a exatidão da história real, isto porque se tornou um apaixonado pelas suas ‘Três Pontas’. Aos 97 anos, ele ocupou um espaço na sombra do quintal de casa e a equipe da Usina e da Secretaria tomaram todos os cuidados pois a gravação foi feita em plena pandemia.

Com sua voz inconfundível, meio ao cantar dos pássaros, Paulo Costa foi tecendo como a cidade foi sendo desenvolvida. Como ela foi surgindo meio a serra, a abundância de água e as outas comarcas que haviam na região ao seu entorno.

O primeiro episódio foi exibido durante um evento no Centro Cultural Milton Nascimento, na manhã desta quarta-feira (17), onde foi ministrada a palestra com o tema Arte, Memória e Patrimônio. Antes da exibição, os momentos do cerimonial foram de emoção. As falas começaram pela filha de Paulo Costa, Andréa Campos (foto). Ela representou os demais, Raquel que estava a acompanhando e Paulo Ivan, Vagner e Daniel que por compromissos familiares e de trabalho não puderam comparecer.

Revelando de cara a paixão pelas letras, contou ser boa nas palavras, mas no papel, pois além de ser dentista é formada em letras, herança bendita deixada pelo pai. Apesar de matemático e ter trabalhado tantos anos no banco, gostava de escrever. Sem preparar nenhum discurso, disse que seus pais sempre lhes contavam muitas histórias, foi engajado em causas sociais e ativo em tudo. Falava que os filhos tinham que saber da história deles para construir o presente em direção ao futuro. Ela agradeceu imensamente o empenho da Secretaria de Cultura e de Meio Ambiente. Acrescentou Andréa, que é muito bonito ver o Município engajado nisso e certamente seu pai estava muito feliz por isso, o que chamou de reviravolta.

Agradeceu ao colunista e amigo Maurinho Bueno, a sua professora de teatro Marita Duarte (que apresentou o cerimonial), ao secretário Alex Tiso Chaves, que Paulo Costa chamava de primo, o cinegrafista Milton Lima, ao Ederson Malaquias “Dedê” e Paula. Ela revela que não foi tarefa fácil convencer seu pai a gravar naquela época em plena pandemia. “Ele falava que nasceu em 1925, mas é da época da gripe espanhola que durou mais de 10 anos e tinha muito medo de morrer de Covid-19 e faleceu de outro problema. Mas o nosso pai viveu intensamente”, recordou a filha Andréa.

Ela guarda com carinho, a foto que Milton tirou do seu pai no quintal da casa dele. A imagem foi muito compartilhada nas redes sociais, em homenagem ao seu falecimento. Todos falam que ela demonstra como ele realmente era. Paulo Costa fez a promessa à filha que queria viver, até o filho de Andréa completar 15 anos e ele poder contar as histórias para ele. A promessa foi cumprida e ele deixou seu legado. Ela espera que o trabalho dê continuidade, que outras pessoas continuem contando esta história de Três Pontas que seu pai tanto amou.

Extrovertido e muito feliz com o resultado do trabalho que está fazendo na Secretaria de Cultura, Ederson Malaquias, o Dedê, parafraseou o Rei Roberto Carlos, com a frase “são tantas emoções”, expressando o momento que estava vivendo. Na gestão de Dedê, o Patrimônio Histórico alcançou pontuações recordes.

Mas acrescentou que “dentro daquela casa”, se referindo a Casa da Cultura, sede da pasta, ninguém faz nada sozinho, por isso, em nome dos demais amigos de trabalho, citou duas pessoas que se desdobraram para que o evento acontecesse – Keyre e Samira.

Fez menção a equipe da Usina Áudio Visual. Juntos, eles passaram três dias na casa de Paulo Costa primeiro convencendo ele a gravar e não foi fácil, como os próprios filhos dele testemunharam, mesmo com a promessa de que tomaria todos os cuidados por causa da pandemia. Depois, Paulo Costa tomou gosto pelas gravações. Nos últimos dias, ele não queria parar mais. Na partida dele, a filha Andréa procurou por Dedê, para dizer que estava muito feliz com o trabalho. Nos últimos dias dele era esta missão que o sustentava.

Paula, Dedê, Miltinho e Lucas trabalharam para que o documentário fosse produzido

Os planos para marcar e materializar o nome de ‘Seu’ Paulo Costa na história, não param neste documentário, além de fazer o lançamento do livro que ele preparou. Miltinho Lima que registrou as imagens, disse que a experiência foi muito interessante. Eles mantiveram distância nas gravações e usavam máscaras o tempo todo. O que lhe chamou muito a atenção, foi que ele começava a contar as histórias. No meio dela a conversa tomava outro rumo e até eles se perdiam. Mas Paulo Costa sabia o ponto que havia parado e mantinha o foco. Bom ressaltar que isto foi no auge dos seus 96 anos. Ele sabia a ordem cronológica de tudo, com datas e detalhes interessantes.

Sobre a foto que as pessoas compartilharam no seu falecimento, Miltinho não escondeu: Paulo Costa não gostou. Disse na época que havia ficado muito velho, mas para o produtor era ele. A imagem foi captada durante uma das pausas na gravação – ele pegou a câmera e fotografou.

Alex Tiso chorou o tempo todo e teve a voz interrompida pela emoção por causa do primo. Eles mantinham uma amizade de longa data, mas quando Alex assumiu a Secretaria de Cultura eles se aproximaram ainda mais. A cultura, segundo o secretário proporciona coisas indescritíveis. As dificuldades de atuar no poder público são enormes, entraves em burocracias que muitos desistem. Assim foi com o documentário gravado com Paulo Costa. Ele sempre defendeu que apenas do livro, ter o recurso áudio visual foi uma felicidade que não tem tamanho. E poder ouvir e assistir a história contada por Paulo Costa, o sentimento é de missão cumprida.

Falando em dificuldades, Alex revelou que tem o apoio do prefeito Marcelo Chaves e da secretária de Desenvolvimento Econômico, Melissa Chaves. Apesar dos problemas que as vezes precisa levar ao gabinete, é sempre recebido com um sorriso no rosto pelos dois, que o ajudam a resolver.

Para eternizar aquele momento, Alex entregou uma caneca personalizada com a tão falada foto de Paulo Costa estampada no utensílio, para que quando forem tomar um bom café de Três Pontas, lembrem-se do pai e da frase que ele deixou e que serve como lição. “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.

O prefeito Marcelo Chaves começou agradecendo sua equipe e as pessoas que engajam com ele na forma de administrar, abraçando a causa por Três Pontas. O gestor acompanha Paulo Costa há bastante tempo e quando foi marcado para eles se encontrarem, eles ficaram juntos quase 4 horas. A conversa com o historiador e seu filho Paulo Ivan, com quem Marcelo mantém uma amizade antiga rendeu bastante. O prefeito e Paulo Costa ficaram distantes na enorme mesa da sala, mas o bom papo lhe proporcionou uma tarde inesquecível.

Pelo tempo ou pela memória, o gestor admitiu não ter a memória que Paulo Costa tinha. Por isso, muitas pessoas que o procuravam ficavam o ouvindo o dia todo, os fatos raros que somente com a capacidade dele é capaz de contar e recontar.

A biografia de Paulo Costa foi lida ainda no presente. Nada que ele foi ou que era. Foi um pedido dele ao Maurinho Bueno que o homenageou pouco antes dele falecer. Ele mesmo é que não queria que colocasse ele no passado, como se ele tivesse ido embora, Paulo Costa vai ser sempre uma lenda viva.

 

As filhas Andrea e Raquel receberam e levaram para os irmãos, uma caneca personalizada de Paulo Costa

 

O evento seguiu com a palestra do presidente da Fundação de Ouro Preto (Faop), Jefferson da Fonseca Coutinho, com o tema – Arte, Memória e Patrimônio. Ele mencionou que cada uma das cidades tem sua história, independente do tamanho e o patrimônio delas precisa ser preservado, fazendo valer seu valor e a força da influência dos cidadãos. Os participantes tiveram um tempo para uma roda de conversa. Participaram também, o vice prefeito Luis Carlos da Silva, a secretária de Desenvolvimento Econômico Melissa Chaves Garcia, o secretário de Meio Ambiente Marcelo Figueiredo e o procurador geral da Câmara Dr. Guilherme Ribeiro.

Nesta quinta e sexta-feira, no Centro Cultural acontece uma oficina de educação Patrimonial e Introdução a preservação de bens imóveis, com a professora Luana Marina Santos. No sábado tem visita técnica e aula prática sobre o assunto.

Paulo Costa – uma lenda viva na história

Paulo Costa Campos é natural de Três Pontas, onde nasceu a 17 de fevereiro de 1925. É filho de Benjamin Ferreira Campos e Maria Costa Campos. Viúvo de Elza de Oliveira Reis Campos, Paulo Costa viveu, ao lado de sua alma gêmea, uma linda e longa história de amor durante 68 anos de vida matrimonial, de uma cumplicidade que resistiu ao tempo e que serve de exemplo. Paulo Costa tem cinco filhos, 10 netos e um bisneto. Foi bancário durante 33 anos. Iniciou sua carreira no antigo Banco de Crédito Real de Minas Gerais. Posteriormente prestou concurso para o Banco do Brasil, onde permaneceu até 1975, quando se aposentou. Técnico em contabilidade pela Escola de Comércio Nossa Senhora D’Ajuda. Licenciatura em matemática pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Varginha. Paralelamente às atividades como bancário, exerceu o magistério em algumas escolas, além de preparar candidatos a concursos para cargos públicos, Banco do Brasil e Caixa Econômica.

Teve uma intensa participação nas obras sociais de Três Pontas. Dedicou-se por algum tempo as atividades agropecuárias, como pequeno produtor. Após sua aposentadoria como bancário, dedicou-se à política local, tendo sido eleito vereador na Legislatura 82/88. No período 87/88 foi presidente da Câmara Municipal de Três Pontas. Há mais de 30 anos vem desenvolvendo um trabalho de pesquisa, não só na área da genealogia, mas também nas pesquisas das sesmarias e quilombos da região de Três Pontas.

Dedica-se ainda ao trabalho de levantamento histórico de Três Pontas e se destaca como o maior historiador, aquele passou décadas de sua vida estudando, investigando e contando a genealogia, a história do Município.

Graças ao seu trabalho, muitas famílias puderam conhecer, descobrir seus
ancestrais, constituir sua árvore genealógica e expandir laços de sangue. Paulo Costa também é filatelista, ou seja, colecionador de selos. Essa é uma das suas grandes paixões. Filatelia é o estudo de selos postais e dos materiais relacionados a eles. O termo vem do grego philos (referente ao amor fraterno) e atéleia (livre de encargo ou imposto). Antes dos selos serem inventados, o destinatário da carta efetuava o pagamento na hora de colocar as mãos nela. Depois, claro, todo mundo passou a amar receber as coisas sem ter que ser o responsável por pagar pela entrega. Por isso, em 1864, Georges Herpin sugeriu a palavra francesa “Philatélie” para a área que começava a se destacar na época. No auge dos seus 96 anos, Paulo Costa, respeitado por todos em Três Pontas, diz que todos os momentos da sua vida são marcantes. Como superação lembra do grande desafio vencido: a cura de um câncer. Publicou vários artigos sobre a história local e um trabalho histórico: Dicionário Histórico e Geográfico de Três Pontas”, lançado em 21 de abril de 2004.

É membro da Academia Internacional de Lexicografia de Divinópolis. Membro da Associação brasileira de pesquisadores de história e genealogia (ASBRAP), sediada em São Paulo (SP). Atualmente está intensificando suas pesquisas históricas de Três Pontas, com o objetivo de publicar um livro, sob o título “Achegas à história de Três Pontas”.

Este orgulhoso filho de Três Pontas, é descendente de nobre linhagem paulista. Ele enche o peito, e diz com orgulho: costumo dizer que sou um paulista de 500 anos.

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