A utilização de práticas da agricultura sustentável, visando à redução dos custos de produção é o foco do 1º Simpósio da Cafeicultura Sustentável, que está sendo realizado dentro da programação da Expocafé 2019, no Campo Experimental da EPAMIG em Três Pontas. Promovido pela Universidade Federal de Lavas (UFLA), em parceria com a EPAMIG, Emater-MG, Cocatrel e a União Cooperativa de Agropecuária Sul de Minas (Unicoop), o simpósio foi aberto nesta quarta-feira (15) e vai apresentar resultados e discutir, durante dois dias, as tecnologias que podem trazer benefícios ambientais e socioeconômicos.

Técnicas como o controle biológico de pragas e doenças nas lavouras, a remineralização do solo por meio da rochagem e o uso de plantas de cobertura para o manejo do solo já vêm sendo usado por produtores e os resultados serão apresentados durante o simpósio. “A realização deste simpósio foi uma demanda dos próprios cafeicultores e foi um desafio gratificante, especialmente neste momento difícil pelo qual passa a cafeicultura, onde os preços pagos ao produtor estão abaixo dos custos de produção”, afirma o professor do Departamento de Fitopatologia da UFLA e membro da comissão organizadora do simpósio, Flávio Henrique Vasconcelos de Medeiros.

Segundo o pesquisador, a cafeicultura precisa reinventar valores para a redução dos custos e a sustentabilidade da agricultura é um caminho viável também para as culturas perenes como o café, que pode servir de exemplo para outros cultivos, como a fruticultura, por exemplo. “A cafeicultura sustentável é um futuro promissor, que já é realidade para alguns produtores. Que este simpósio seja a semente para essa transformação que almejamos: redução de custos, produção econômica e socioambiental correta e a oferta de produtos de qualidade e com segurança ao consumidor”, afirma o pesquisador Flávio Medeiros.

O produtor Eric Miranda Abreu é um dos que já estão trilhando o caminho da cafeicultura sustentável. Partiu dele, inclusive, a iniciativa de levar a discussão ao meio acadêmico, buscando respostas e a aproximação com os pesquisadores da UFLA. Na fazenda Abrexia Negócios Agrícolas, onde tem 1,2 mil hectares de café, ele substituiu algumas práticas convencionais por outras sustentáveis e já está colhendo resultados. “Eu fiz essas substituições na propriedade há três anos, motivado pela redução do alto custo dos insumos. Também há uma demandada sociedade, cada vez maior, pela redução no uso dos defensivos agrícolas”, afirma.  Os resultados foram contabilizados na ponta do lápis: redução de até 40% nos custos dos insumos, melhoria na densidade dos grãos, evidenciado o incremento na qualidade da produção, além do equilíbrio nutricional das plantas e do meio ambiente.

Homenagens

No primeiro dia do simpósio, o produtor Eric Miranda foi homenageado como um dos incentivadores para a realização do evento. Também foram agraciados pela comissão organizadora os profissionais considerados pioneiros e que pavimentaram os pilares da Expocafé, atualmente reconhecida como um dos principais eventos mundiais do agronegócio café. Receberam a homenagem Antônio Nazareno Guimarães Mendes, Rubens José Guimarães, Gilson Ximenes Abreu, Francisco Miranda de Figueiredo Filho, Oswaldo Henrique Paiva Ribeiro e José Edgard Pinto Paiva.

A experiência da mulher na cafeicultura sustentável

Quando assumiu a gestão das fazendas Caxambu e Aracaçu para tocar o negócio familiar, a cafeicultora Carmem Lúcia Chaves de Brito (foto) optou pelo que chama de abordagem holística do sistema de produção: cuidar do solo, valorizar a equipe e os parceiros do seu negócio e adotar práticas sustentáveis na condução das lavouras de café.  “Se queremos ter longevidade em nosso empreendimento, ele tem que ser sustentável e comprometido com os pilares ambientais e sociais. Temos que cuidar da terra, que é o substrato para a nossa existência e o lucro é consequência desse posicionamento de cultura regenerativa para o meio ambiente”, afirma.

Localizadas no município de Três Pontas, as duas propriedades são vizinhas e somam 210 hectares, voltados para a produção de cafés especiais. Quando essa decisão foi tomada, 11 anos atrás, a cafeicultura passava por dificuldades semelhantes à realidade atual, com preços baixos e apreensão dos produtores. “Foi exatamente esse cenário que me motivou a tomar o caminho da sustentabilidade. Isso não custa dinheiro; custa acreditar e querer construir uma nova identidade para o negócio. É essa narrativa de cafés sustentáveis que temos que levar para o mundo.”

Aliança das Mulheres do Café

As mulheres estão cada vez mais presentes e ocupando os espaços em todos os cargos e segmentos do agronegócio e não é diferente na cadeia produtiva do café. E foi com o objetivo de dar visibilidade e empoderamento a essas personagens, que foi criada a Aliança das Mulheres do Café do Brasil. “É uma organização internacional sem fins lucrativos e de trabalho voluntário, que existe no Brasil há sete anos e está presente em 13 regiões produtoras de vários estados do país”, explica a vice-presidente, Miriam Monteiro de Aguiar.

Produtora de cafés especiais e exportadora, ela está na organização há cinco anos, que foram suficientes para observar o crescimento do número de participantes e o fortalecimento da organização das mulheres nas regiões produtoras. “Há um aumento na demanda global de cafés especiais produzidos por mulheres e o nosso trabalho é criar oportunidades de negócios e condições para agregação de valor da produção, investindo em capacitação e envolvendo todos os elos do negócio, produtoras, colhedoras, torradoras, baristas, exportadoras – mulheres que estão atuando desde a lavoura à xícara”. (Fonte: Expocafé Oficial)