Provedor Michel Renan justifica que não pode ser crucificado por suspender três dias de atendimento na Maternidade, se durante 7 anos funcionou

A presença do provedor da Santa Casa de Misericórdia do Hospital São Francisco de Assis, Michel Renan Simão Castro, foi o principal foco da sessão ordinária da Câmara Municipal, na noite desta segunda-feira (06). Depois que a Maternidade suspendeu o atendimento no final da semana passada, por falta de profissionais médicos e o assunto repercutiu em toda a região, Michel foi convidado pelos vereadores para falar e explicar o porque desta medida.

Por várias vezes, ao utilizar a Tribuna, logo no início da reunião, Michel Renan foi bastante claro que em momento algum a medida foi tomada por questões financeiras, que apesar do déficit, não há atrasos nos salários. Com a situação de vacância na escala de profissionais, que se arrasta há bastante tempo, a decisão dele de fechar as portas temporariamente foi como forma de prevenir problemas graves. Uma vez que o serviço está aberto, há riscos às parturientes e aos bebês, caso cheguem e não exista o médico.

Michel até ouviu pessoas dizendo que poderia fazer plantão a distância, mas ele não acha que isto seja prudente justo. Sem falar que a entidade já foi punida no passado e deixou de receber R$80 mil, durante 26 meses, por não ter o profissional médico presente. Ele apresentou alguns números da Maternidade Ignez Chaves. A unidade realiza entre 60 e 90 partos por mês.

Números da Maternidade

Nestes dias que ocorreu a paralisação, houveram 10 atendimentos de Três Pontas no Pronto Atendimento Municipal (PAM) – sendo que 4 pacientes foram examinadas e liberadas, 4 foram para o Hospital Regional em Varginha, que mesmo a Maternidade estando aberta, estas iriam ser transferidas pois era de alto risco, e não de risco habitual. Duas foram para Três Corações. Uma paciente veio de Santana da Vargem e foi direcionada para Três Corações e uma do Pronto Socorro de Santana da Vargem foi direto para Boa Esperança.

Para quem não sabe a gestão do PAM de Santana da Vargem e Coqueiral é feito pela Santa Casa. Tudo isto para melhorar o processo de deslocamento e segurança dos pacientes, para Três Pontas que é referência para os dois municípios. Esta é uma parceria que já funciona a algum tempo e muito bem. Outras cidades já pleitearam que a Santa Casa faça esta gestão, como Nepomuceno, Ilicínea.

Em tom de desabafo, o provedor questionou se três dias de paralisação da Maternidade, tem maior impacto e maior efeito do que ter ficado 7 anos aberto. Quando ele assumiu em 2017, o serviço estava fechado. A situação estrutural e os equipamentos estavam em situação deplorável, avalia Michel. Equipamentos estavam sucateados, as encubadoras e fototerapia em situações precárias que não atendia o mínimo de segurança. Hoje Três Pontas tem uma das melhores maternidades, com uma área física toda reformada e novos equipamentos.

De volta a sete anos atrás

Quando o empresário Michel Renan se colocou a disposição para assumir a Santa Casa, ele não tinha ideia do que era aquilo. Ele esteve alguns meses fazendo levantamento técnico e verificando alguns números. Ao assumir com apoio da diretoria que foi formada, no dia 1º de abril de 2017, parecia mentira.

Alguns dos exemplos da situação crítica que encontrou, é que 7 pacientes estavam internados naquele dia e teriam que dar alta. Não havia comida para ser servida, remédio na Farmácia e nem mesmo detergente para lavar a louça da cozinha.

Em agosto do mesmo ano, havia seis meses de salários dos médicos atrasados. O 13º salário dos colaboradores havia acabado de ser pago, porque a Santa Casa fez uma festa (show) no Campo do TAC, onde ele passou 36 horas lá dentro sem dormir. Pagou a conta do seu bolso, junto com o empresário Luis Marcellus. O show deu certo, mas caso desse errado a culpa seria toda dele. Poucos dias depois, ele assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público, que determinou que ele pagaria os médicos pontualmente e colocaria os salários em dia. Seria o sétimo mês sem os profissionais médicos receber e a dívida chegava no montante de R$3 milhões. E para que o Ministério Público concordasse, ele pegou R$500 mil do seu próprio bolso, dinheiro que foi declarado e ficou nos caixas da Santa Casa de agosto até dezembro 2018. Ele em momento algum cobrou juros do Hospital. Na época, pelos cálculos, ele poderia ter recebido nos 18 meses cerca de R$100 mil. Hoje, Michel Renan é o maior doador da Santa Casa e está registrado em documentos lá o CPF dele. “Estou lá sempre foi para buscar o melhor. Espero que agora, que não vou mais ficar, a partir de dezembro, que tenha alguém que faça o que eu fiz. Convoco os críticos vorazes de plantão, para que se habilite a fazer algo ao Município”. O seu cargo no Hospital é voluntário, não recebe nada no fim do mês e suas viagens a Belo Horizonte ou Brasília são pagas por ele mesmo.

A Santa Casa inicia todos os meses com um déficit mensal de R$700 mil, gerado pelos atendimentos do SUS, que é pago com diversas outras receitas. Como a contribuição das pessoas na conta de água, que acham que é muito dinheiro, mas é somente R$22 mil. É um dinheiro importante sim, mas em relação a Santa Casa é pequeno. Como uma pessoa outro dia, foi fazer uma doação de 120 litros de leite, e estava preocupada se não perderia. Michel explicou que são gastos por dia 50 litros. A folha de pagamento é superior a R$1 milhão todo mês.

Conhecimento

Michel se destaca pelo conhecimento que tem com a saúde, principalmente no quesito hospitalar. Ele mencionou que leu por duas vezes o manual do SUS, leu a normativa da Rede Resposta e Pro-Hosp e não ficou sem entender aquilo que sempre estava sendo debatido. Não é um provedor que apenas assina documentos, entrou para melhorar os processos e para chegar onde chegou , com apoio de todos, vereadores que quando chegava um projeto não titubeavam e votavam, os deputados que acreditaram na sua gestão e transparência com os recursos, a secretária de Saúde Tereza Cristina e o prefeito Marcelo Chaves que é parceiro de primeira hora, entende as dificuldades e sempre se esforça. Até porque se o Hospital parar a situação vira um caos. Quando ao políticos que ajudam a entidade e foram fundamentais, ele não deixa de citar a gratidão por cada um deles e de dar publicidade a todos os recursos destinados, porém, os nomes do deputado federal Diego Andrade e do deputado estadual Mário Henrique “Caixa”, sempre terão mais notoriedade, pelo trabalho diferenciado e a quantidade de emendas e dinheiro destinados, que fizeram e fazem a diferença.

Provedor das grandes obras

O Hospital tinha 5,5 mil metros quadrados de área construída em 2017 e hoje praticamente dobrou. Nestes últimos anos, se construiu e ampliou a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a Maternidade é nova, o Descanso dos Colaboradores que já foi alvo de notificações do Ministério do Trabalho foi construído dentro do que é exigido, com quarto separado até para quem ronca, um novo Centro de Especialidades com consultórios supermodernos e o Centro de Hemodiálise. Ele não entrou em funcionamento ainda por falta de uma vistoria que deve ser feita nos próximos dias. Existem 40 funcionários sendo pagos e querendo trabalhar. A Santa Casa gastando com a folha e acima de tudo, tem os pacientes. Já fizeram festa de despedida para eles em Varginha, para que sejam atendidos em Três Pontas e estão ansiosos para começarem as sessões de diálise aqui.

Prestando contas

Como faz todos os anos, a Provedoria vai convidar os vereadores para apresentar um balanço do que foi feito no ano e principalmente com os recursos de emendas individuais e impositivas de cada um deles. Mas, que desta vez será a última, cansado e chateado com acusações levianas feitas contra ele nas redes sociais, Michel Renan diz que não pode mais se dedicar tanto à Santa Casa como faz atualmente. Ele vai continuar até o dia 31 de dezembro, e pediu mais uma vez a confiança dos vereadores, que defendam com ele o Hospital. Mas, não dá mais para ficar. No último Dia dos Pais, ele ficou das 10 da manhã, as 3 da tarde resolvendo uma questão de uma judicialização. Enquanto seus filhos lhe esperava para o almoço.

Valor dos plantões é justo

Após a explanação em linhas gerais do provedor Michel Renan, que revelou detalhes que nunca haviam sido divulgados por ele, foi aberto espaço para perguntas dos vereadores. Todos falaram, a maioria elogiaram primeiro a dedicação e a forma de gestão que Michel adota na Santa Casa, o que é público e notório. O secretário da Mesa Diretora, vereador Maycon Machado, perguntou a ele sobre os valores pagos nos plantões médicos da Maternidade.

Michel elogiou a pergunta e respondeu que os preços pagos aos médicos, variando de acordo com o mercado e cada especialidade. No caso da Maternidade, ginecologistas e obstetrícias recebem R$1,1 mil, para cada plantão de 12 horas. Este é o mesmo valor pago nos hospitais da região. Há uma boa convivência entre eles para que não haja concorrência, por isso, o valor é o mesmo.

Além deste valor que o médico faz o plantão e recebe, tem a produção. Por exemplo, se realizar cinco cesarianas no dia, somando, ele vai embora com R$1,5 mil das cesárias e mais os R$1,1 de cada plantão. Ainda de acordo com Michel, a Maternidade é o setor que dá o maior prejuízo à Santa Casa, sendo quase R$180 mil mês. Hoje a Santa Casa recebe para cada parto do SUS R$500, sendo que ele custa mais de R$1,7 mil. E ainda é mais barato se comparar com outras localidades. Em Ilicínea, por exemplo, que tem 10 partos por mês, cada um por lá custa quase R$4 mil.

Ou seja, o valor que é pago, é justo, avalia Michel Renan, que acrescenta que é o que tem que ser pago. Em Três Pontas são 7 médicos. Tem alguns que fazem apenas 2 plantões por mês, mas tem aqueles que fazem 12. Foi solicitado que cada um fizesse 5 plantões e apenas mais 1 por semana, o que resolveria o problema da escola. “Pedimos que eles fizessem um esforço maior. É um direito que eles tem de não querer trabalhar, só que se a pessoa não quer fazer um plantão de 12 horas, ele não vai mais atender pelo SUS, porque não é justo. Não é justo, fazer todo o pré-Natal particular e depois fazer o parto pelo SUS”.

Além dos médicos que residem na cidade, a Maternidade tem plantonistas que vem de Alfenas, Varginha, Campos Gerais. Não há profissionais médicos de mais longe, porque não compensa a eles financeiramente.

Michel ocupou a Tribuna das 18:40 as 20:20 e depois a sessão foi reaberta com os discursos dos vereadores, ainda repercutindo a fala do provedor.

Poucos assuntos

O primeiro ato após a fala de Michel Renan, foi o Pequeno Expediente. O vereador Maycon Machado anunciou que será dada a ordem de serviço, para o início da construção do Ginásio Poliesportivo do Centro Municipal de Educação Infantil Cônego Francisco, no bairro Catumbi. Os recursos são frutos do trabalho dele, dos colegas Luan do Quilombo, Flavão e da ex-vereadora Marlene Lima, junto ao ex-deputado estadual Carlos Pimenta, todos do PDT.

Maycon continua as cobranças quanto as melhorias nas capelas do Velório Municipal, que precisam de dar mais conforto e comodidade às pessoas em um momento extremamente doloroso, que é a perda de um ente querido. O vereador fez um clamor à Administração, que tem uma gestão marcada por boas parcerias, que possa procurar o apoio das funerárias que utilizam o Velório e da iniciativa privada, pois tem faltado o básico por lá.

O vereador Roberto Donizetti Cardoso, pediu melhorias nas Ruas Alagoas e Sergipe. As chuvas trouxeram problemas aos moradores. As vias tiveram o asfalto e meio fio arrancados pela força da água e tem moradores até com dificuldade para colocar o carro na garagem. Outro pedido é quanto a situação da Base do SAMU, que sofreu também consequências da chuva e está com sua estrutura comprometida. O caso já é conhecido e a Prefeitura precisa resolver a questão dos socorristas que atuam no Município.

Dois projetos do Executivo

Os projetos foram aprovados em 10 minutos. Nada de polêmico ou que gere discussões. O Poder Legislativo aprovou suplementações no valor de R$44.668,72 para o pagamento de salários dos profissionais de Ação de Combate a Endemias, que atuam na Secretaria Municipal de Saúde e a outra foi de R$30 mil para os profissionais de apoio. Maycon falou nos dois projetos. No primeiro, que os moradores não podem deixar por conta do poder público e que cada um pode e deve fazer sua parte, combatendo o mosquito Aedes Aegypti diariamente em suas casas. E sobre os profissionais de apoio, que eles fazem um grande trabalho, que tem feito a diferença e tem se buscado a melhoria salário da categoria. O mesmo disse o vereador Robertinho.

Na reunião, não participou o vereador Luciano Reis Diniz.

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