Na foto, um dos suspeitos sendo presos na quarta-feira

 

*Suspeitos tem 23, 27 e 32 anos, se vestem bem e tem o dom da palavra, usado para convencer e enganar as pessoas

A Polícia Civil de Três Pontas, prendeu na cidade, três rapazes de São Paulo (SP), acusados de aplicar golpes de estelionato, através da venda de cursos técnicos profissionalizantes em vários municípios da região. As prisões foram efetuadas nesta quarta (02) e quinta-feira (03), em dois hotéis da cidade.

As investigações iniciaram nas vésperas do Natal do ano passado, quando começaram a ser veiculados em redes sociais publicidades oferecendo dezenas de cursos técnicos gratuitos, desde saúde, comércio e até construção civil. Para chamar a atenção das pessoas, eles utilizam imagens do prédio da Prefeitura ou até da igreja Matriz Nossa Senhora D’Ajuda. Os interessados são atraídos também pelas condições de pagamento oferecidas.

Ao fazer a primeira divulgação, os interessados são convidados a deixar o nome e o contato telefônico. Passado alguns dias, uma mensagem eletrônica é enviada à eles dizendo que eles foram selecionados e tiveram o benefício aprovado com sucesso. A orientação é que os cursistas estejam no local indicado, no horário marcado para fazer as inscrições, munidos de RG e CPF. A promessa é que o certificado será entregue imediatamente após a conclusão, que todos eles tem carta de autorização para estágio e que são certificados pelo Ministério da Educação.

A mensagem termina afirmando que o WhattsApp é eletrônico, que não é capaz de responder perguntas e que as dúvidas serão tiradas somente no dia informado das inscrições. Uma forma de atrair os interessados pessoalmente e assim convencê-los de fazer o curso que é gratuito, mas sempre existe alguma taxa extra dos materiais que precisava ser paga pelo aluno. O valor varia bastante, mas as condições atraem os cursistas. Pode ser pago em dinheiro, por cartão de débito, crédito ou via pix. A promessa é que eles teriam acesso a uma plataforma para ter as aulas teóricas e depois as práticas, mas ninguém conseguia acesso, os telefones disponibilizados nunca atendiam e as pessoas ficavam no prejuízo.

Os estelionatários em Três Pontas se hospedaram em dois hotéis para fazerem as inscrições, um na quarta e outro na quinta-feira. No primeiro dia um rapaz de 27 anos foi abordado no hotel, alegou que representava comercialmente uma empresa e que era responsável apenas pelas vendas dos cursos. O rapaz que é natural de São Paulo não tem nem carteira de habilitação, disse que está passando por dificuldades financeiras, mas negou qualquer algo ilícito. Estava com fichas de inscrições e máquinas de cartões onde eram feitos os pagamentos. Quando os investigadores foram pesquisar a empresa que ele estaria representando, ela não existe. No endereço, funciona na verdade uma clínica odontológica.

Seguindo com as investigações, elas apontaram que nesta quinta-feira haveria também em outro hotel, a venda de mais cursos, nos mesmos moldes oferecidos. Eles marcaram com os “selecionados” a tarde e quando explicavam os métodos de ensino, a dupla de 23 e 32 anos que é de Itaquaquecetuba (SP), foram surpreendidos com a presença dos investigadores. Eles também tentaram negar qualquer crime, mas estavam com dezenas de formulários de inscrições preenchidos de cursos vendidos em várias cidades da região. Do dia 31 de janeiro, até nesta quarta-feira, eles passaram pelas cidades de Elói Mendes, Campanha, Camanducaia, Elói Mendes, São Gonçalo do Sapucaí, Cambuí, Estiva, Pouso Alegre, Congonhal, Carmo de Minas, Extrema e até Jaguaré (SP). Em todas estas, eles conseguiram fechar negócios e pegar dinheiro dos moradores. Para dar mais legalidade e transparência nos cursos, em alguns lugares, o grupo alugava salas de associações comerciais e entidades para fazer os atendimentos. Há suspeita que eles tenham agido em outros dois estados do Brasil, como Paraná e Matogrosso.

Na foto, a dupla de estelionatários atendendo as pessoas em um dos hotéis

Eles negaram qualquer ligação com o rapaz preso no dia anterior, mas os cursos, dados e empresas são os mesmos com várias ocorrências contra o CNPJ, telefone e as supostas escolas técnicas. Pessoas que foram até o hotel para se inscreverem foram convidadas a irem até a Delegacia de Polícia Civil onde prestaram depoimentos. Todas elas disseram que se sentiram atraídas pela forma como foram abordadas.

O trio foi ouvido na Delegacia de Polícia, autuado em flagrante por estelionato e com o avanço das investigações, poderá responder por organização criminosa.

De acordo com o delegado de Polícia Civil Dr. Gustavo Gomes, eles se vestem bem, tem boa aparência e principalmente são treinados para ter o poder de convencer as pessoas. A forma de pagamento chamou a atenção. Na opção de pagar em cartão, o valor era menor do que no boleto bancário, porém, é preciso observar que as taxas bancárias tem um custo muito maior.

“É preciso tomar muito cuidado porque a internet tem um alto grau de risco. É preciso procurar sites seguros, empresas idôneas, valorizar aquelas do comércio local. Estes golpistas quem vem de fora, oferecendo milagres, cursos baratíssimos, com valores muito abaixo do mercado é a certeza de que algo de errado existe e não é difícil de identificar. Ainda vamos avaliar a extensão e idoneidade de cada um na investigação que continua”, alerta o delegado.

Dr. Gustavo não descarta que pode estar diante de uma quadrilha especializada que vai demandar empenho de toda a sua equipe e apoio de outras delegacias e outros órgãos.

Todas as vítimas ouvidas pela reportagem da Equipe Positiva revelaram o poder de convencimento dos três. Quem não se tornou vítima é porque não tinha dinheiro ou cartão para fazer o pagamento na hora. A maioria deles já havia até marcado que voltariam mais tarde para fechar negócio.

Vítimas relatam que foram convencidas pela fala dos estelionatários e que nunca imaginavam ser um golpe

É o caso de um chapeiro de 32 anos. Ele queria se especializar e melhorar de profissão. Faltou pouco para se inscrever no curso de operador de máquinas pesadas. Como todos os outros, ouviu que deveria pagar uma taxa de R$1,2 mil, que poderia ser dividido em 12 parcelas durante um ano. Montante que seria para quitar o aluguel da máquina que usaria nas aulas práticas. O tempo que ele foi pegar o cartão emprestado com a namorada na tarde de quarta-feira, quando voltou, encontrou com a polícia no hotel, onde o rapaz estava hospedado e eles haviam conversado.

Um trabalhador autônomo de 25 anos, se interessou na oportunidade de se especializar em técnico de segurança do trabalho. Foi ao hotel e teve todas as explicações dadas. Uma delas que a taxa seria de R$600. Como ele não tinha dinheiro, foi lhe dada as opções de quitar em 10 vezes de R$60 no cartão, mas se pagasse a vista seria R$400,00. A proposta feita a ele posteriormente chamou mais a atenção. O autônomo poderia incluir outra pessoa da família e pagar a mais apenas R$20, para escolher qualquer um dos cursos. E foi o que ele pensou. Sorte dele que não deu tempo e Polícia Civil chegou antes.

Uma jovem de 19 anos se inscreveu no curso de técnico de contabilidade e pagou na hora R$600, parcelado em 10 vezes no cartão. Ela conta que foi atraída pela foto da Prefeitura e por ser gratuito e não pensou duas vezes em se qualificar. Ao ir ao hotel, revela que os rapazes mostram boa intenção, tem uma conversa bastante descontraída e explicava todos os detalhes do método de ensino que a suposta empresa que eles representavam oferece. Diante deles, a jovem jamais imaginou que aquilo era um golpe.

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